Zuckerberg admite erros no caso Cambridge Analytica

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Reuters

O fundador do Facebook quebrou o silêncio e reagiu pela primeira vez à polémica que envolve o acesso a dados dos utilizadores da rede social pela Cambridge Analytica. Admite erros, afirma que está a reunir informação sobre o que se passou, argumenta que vai avançar com auditorias e aponta novos passos a serem tomados. Zuckerberg admite que soube da partilha de dados com a Cambridge Analytica em 2015.

“Cometemos erros, há mais para ser feito e temos de fazer isso”, diz Mark Zuckerberg numa publicação no Facebook.

“Temos a responsabilidade de proteger os vossos dados e, se não o conseguimos fazer, não merecemos servir-vos”, continua.

O gigante digital está no centro da polémica que implica uma brecha na segurança na rede, aproveitada por uma empresa que recorre a fake news para influenciar politicamente o público. A empresa tem vindo a cair em bolsa e enfrenta movimentos que propõem o encerramento da rede social.

Zuckerberg afirma que tem estado a trabalhar para perceber o que se passou e garante que as ações mais importantes para prevenir que estas situações ocorram foram tomadas há alguns anos, em 2014.

O criador do Facebook diz que houve uma quebra de confiança entre Aleksandr Kogan, Cambridge Analytica e o Facebook. “Mas foi também uma quebra de confiança entre o Facebook e as pessoas que partilham os seus dados connosco e esperam que nós os protejamos. Precisamos corrigir isso”, diz Zuckerberg, anunciado as próximas medidas que vai tomar.



Em primeiro lugar, o responsável do Facebook anuncia que vai investigar todas as apps que têm acesso a grande quantidade de informação antes de terem alterado a estrutura da rede social, em 2014, no sentido de reduzir o acesso aos dados. Zuckerberg garante que vai conduzir uma auditoria profunda de qualquer aplicação que tenha tido uma atividade suspeita.

“Vamos banir da nossa plataforma quem não concorde com a auditoria”, afiança, argumentando ainda que vai banir quem tenha usado informação pessoal identificável de forma incorreta e avisar todos aqueles que foram afetados. “Isto inclui pessoas cuja informação Kogan usou incorretamente”, acrescentou.

Em segundo lugar, o Facebook vai restringir ainda mais o acesso a dados dos utilizadores, para prevenir outros tipos de abusos. E dá exemplos: vai retirar o acesso dos criadores de conteúdos à informação dos utilizadores no caso de estes não utilizarem a aplicação em três meses; vai reduzir a quantidade de informação que cada utilizador fornece quando acede à aplicação (fornecer apenas nome, foto de perfil e e-mail) e exigir que haja consentimento do utilizador e um contrato assinado para a app ter acesso a publicações ou outras informações. Exemplos, mas Zuckerberg garante que haverá mais medidas concretas neste sentido.

Em terceiro lugar, vai disponibilizar aos utilizadores informações para que percebam a quais aplicações eles permitiram o acesso à informação pessoal. Para isso, a rede social garante que vai lançar no próximo mês uma ferramenta que permite aceder às aplicações que cada um usou, permitindo de forma fácil, que sejam alteradas as permissões atribuídas a cada uma. Isso já é possível no Facebook, mas Zuckerberg diz que o atalho para essa hipótese será agora mais visível.

“Além das medidas que já tomámos em 2014, acredito que estes sejam os próximos passos que devemos tomar para continuar a manter segura a nossa rede social", diz Zuckerberg. “Sei que vai demorar mais tempo do que desejávamos para resolver todos estes assuntos, mas prometo que vamos trabalhar e construir um melhor serviço no longo termo”, garante ainda.
Facebook alertado há dois anos
Zuckerberg assume no seu post que é o último responsável pelo que se passa no Facebook. Considera que o que agora se passou com a Cambridge Analytica não deverá acontecer com novas apps, mas admite que “isso não muda o que aconteceu no passado”.

E sobre o caso em concreto, Zuckerberg garante que na passada semana, o Facebook baniu a Cambridge Analytica de usar qualquer serviço da rede social. Essa empresa alega que apagou todos os dados que tinha e concordou que seja feita uma auditoria forense por uma empresa que o Facebook contratou. Zuckerberg garante estar a trabalhar com os reguladores para perceber o que se passou, até porque foi em 2015 que o Facebook soube que Aleksandr Kogan tinha partilhado dados com a Cambridge Analytics.

Mas vamos por partes e seguimos a explicação cronológica que Zuckerberg apresenta.

Em 2013, um investigador da Cambridge University criou uma aplicação que consistia num quizz sobre personalidade. Cerca de 300 mil pessoas instalaram essa aplicação e partilharam assim a sua própria informação e também alguma da informação dos amigos na rede social. Ou seja, “tendo em conta a forma como a nossa plataforma funcionava na altura, isto significou que Kogan teve acesso a dezenas de milhares de informações dos seus amigos”, diz Zuckerberg.

Em 2014, foram introduzidas alterações no Facebook para prevenir apps abusivas. Uma mudança no sentido de limitar dramaticamente o acesso a dados a que as apps poderiam aceder. Entre as alterações, estava a impossibilidade de aplicações como a de Kogan ter acesso a informação dos amigos, a não ser que estes dessem a autorização para isso.

Zuckerberg diz que em 2015, souberam por jornalistas do The Guardian que Kogan partilhou dados conseguidos pela aplicação com a Cambridge Analytica. “É contra as nossas regras que os developers partilhem informação sem o consentimento das pessoas, e como tal, de imediato banimos a aplicação de Kogan da nossa plataforma e exigimos que Kogan e a Cambridge Analytics certificassem formalmente que apagaram toda a informação adquirida indevidamente. Eles apresentaram esses certificados”, garante.

No entanto, Mark Zuckerberg diz que na passada semana tiveram conhecimento por jornalistas do The Guardian, The New York Times e Channel 4 que a Cambridge Analytica “poderia não ter apagado a informação como tinha certificado. Imediatamente os banimos de utilizar qualquer dos nossos serviços”, diz Zuckerberg.

“Houve uma quebra de confiança entre Kogan, Cambridge Analytica e o Facebook”, admite.
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