Reportagem

Prosseguem buscas para encontrar as vítimas do deslizamento de terras na EM255

por RTP

Já foi retirada a primeira vítima mortal que estava na retroescavadora arrastada para dentro da pedreira da zona de Borba. Marcelo Rebelo de Sousa pediu paciência face à indefinição da conclusão dos trabalhos, lembrando que é necessário manter as condições de segurança dos operacionais.

Mais atualizações

23h30 - Operações são retomadas amanhã entre as 7h30 e as 8h00

Encerramos aqui o acompanhamento de todas as incidências. As operações de resgate foram suspensas cerca das 22h00 desta terça-feira e serão retomadas entre as 07h30 e as 08h00 de quarta-feira, segundo adiantou à agência Lusa o comandante operacional José Ribeiro.


Depois de a primeira vítima mortal da derrocada ter sido levada para o Instituto de Medicina Legal, em Lisboa, os operacionais tentam agora recuperar o segundo corpo visível, que já foi identificado.

O comandante José Ribeiro confirmou que poderão estar outras três vítimas dentro de duas viaturas que foram arrastadas para a pedreira com o deslizamento de massas.

22h16 - Drenagem de água das pedreiras na quarta-feira

José Ribeiro, comandante distrital de operações de socorro de Évora, disse esta terça-feira que está planeado para amanhã de manhã o início das operações de drenagem da água das pedreiras onde ocorreu o deslizamento de terras.

"É nosso objetivo às primeiras horas do dia de amanhã iniciarmos as operações de drenagem, utilizando as bombas e toda a capacidade instalada", afirmou.

21h01 - Ponto de situação

As equipas que se encontram na pedreira estão a tentar resgatar o corpo da segunda vítima mortal. O trabalho das equipas de resgate vai ser interrompido às 22h00, continuando na manhã de quarta-feira.

"Neste momento ainda temos em curso uma operação para tentarmos detetar o segundo trabalhador da pedreira (...) e estamos também a concluir a instalação das motobombas e geradores", declarou o Comandante Distrital de Operações de Socorro (CODIS) de Évora, José Ribeiro.

As complexas operações de drenagem deverão facilitar os trabalhos dos operacionais, ao permitirem fazer um melhor reconhecimento do espaço.

José Ribeiro confirmou ainda que poderão estar outras três vítimas dentro de duas viaturas que foram arrastadas para a pedreira com o deslizamento de massas.

A equipa de resgate consiste, para já, em 50 operacionais apoiados por 30 viaturas.


20h56 - Empresários denunciaram situação

A insegurança da estrada que ruiu na segunda-feira já tinha sido "denunciada" por vários empresários de pedreiras que existem na região.

A Ordem dos Engenheiros fala numa tragédia anunciada e defende que a estrada que abateu há muito que devia ter sido cortada.

20h54 - Pedreiras não cumpriam zonas de defesa

As pedreiras onde ocorreu o deslizamento de terras foram licenciadas em 1989 sem cumprir as zonas de defesa, pois "já existiam nas condições encontradas", informou o Ministério do Ambiente e da Transição Energética.

O ministério explica, em resposta enviada à agência Lusa, que a pedreira nº 5201 "Carrascal JS", onde ocorreu o acidente mortal, foi licenciada em 29 de novembro de 1989, e que a pedreira n.º 5145 "Olival Grande São Sebastião", contígua, foi licenciada em 03 de maio de 1989, ambas ao abrigo da legislação em vigor à data pela entidade competente, a Direção-Geral de Geologia e Minas (DGGM).

O documento salienta que as duas pedreiras foram licenciadas pela DGGM que, deparando-se no terreno com a existência "de facto" dessas pedreiras, considerou que o licenciamento "propiciaria a imposição de regras e condições mais adequadas à sua regularização em sede de trabalhos de exploração e também de segurança".

"Ou seja, as pedreiras já existiam nas condições encontradas, não sendo tecnicamente possível afastá-las para os 30 metros da zona de defesa. Todavia, perante a situação de facto, considerou-se que o respetivo licenciamento permitiria impor a adoção de medidas ao nível da segurança da exploração", refere.

O ministério esclarece ainda que, com exceção das pedreiras mais antigas e já existentes, todos os licenciamentos de pedreiras respeitam as zonas de defesa previstas na lei, que a partir de 1990, um ano depois de ambos os licenciamentos das pedreiras em causa, fixou os 50 metros como zona de defesa para as estradas nacionais ou municipais.

O Ministério Ambiente e da Transição Energética informa ainda que no caso em apreço, ainda no que respeita às condições impostas, "é de referir a apresentação de estudos técnicos (Instituto Superior Técnico e Universidade de Évora), designadamente no que respeita à estabilidade dos taludes, bem como a adoção de 'pregagens' para evitar deslizamentos".

20h51 - Alerta para outra estrada

Os habitantes de Bencatel alertaram para o perigo de derrocada numa outra estrada nacional na região.


19h22 - “Monitorização rigorosa”

O ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, assegurou que as estradas que são da responsabilidade da administração central "têm planos muito rigorosos de monitorização" e são alvo de investimentos.

"No que está sob responsabilidade da administração central, investimos e, por exemplo, no caso desta circunstância, há muitos anos foi determinada a realização de uma variante", afirmou.

Segundo o governante, "esta via foi transferida com uma alternativa segura e disponibilizada às populações de imediato (a variante entre Borba e Vila Viçosa)" e, na altura, "com a concordância do município, a mesma foi transferida para âmbito municipal".

Pedro Marques considerou não ser o momento para estar a atribuir responsabilidades sobre o acidente, ficando esses apuramentos para o futuro.

"As condições que determinam a manutenção em funcionamento daquela infraestrutura, as condições de segurança e a forma como foi feita a exploração daquelas pedreiras na sua proximidade, tudo isso será objeto de uma análise", frisou.

Na sua opinião, "agora é a fase do resgate e de uma palavra de atenção às famílias afetadas por esta situação e àquelas equipas que estão a fazer um trabalho tão exigente e complexo do ponto de vista técnico".

18h32 - Balanço da GNR

Segundo uma fonte do Comando Territorial de Évora da Guarda Nacional Republicana (GNR), os dois mortos confirmados, operários da empresa que explora a pedreira, são um homem de 50 anos, que residia em Bencatel, no concelho de Vila Viçosa, e outro de 57 anos, que morava em Vila Viçosa, no distrito de Évora.

De acordo com a fonte da guarda, estão dados como desaparecidos, desde segunda-feira, outros dois homens residentes em Bencatel, concelho de Vila Viçosa, e um idoso de 85 anos de Alandroal, com as autoridades a admitir terem sido vítimas do deslizamento de terras para a pedreira.

Os dois homens de Bencatel terão indicado a familiares que iriam na tarde de segunda-feira a Borba, passando pela estrada onde ocorreu o acidente.

"O condutor da carrinha de caixa aberta e de cor cinzenta, na casa dos 50 anos, terá informado a mulher que ia à tarde (de segunda-feira) com o cunhado, na casa dos 30 anos, ao contabilista a Borba", relatou à agência Lusa fonte da junta de freguesia de Bencatel.

18h23 - PEV lamenta "tragédia anunciada"

O PEV manifestou pesar pelas vítimas do desabamento, considerando que era "uma tragédia anunciada", e declarou que irá chamar o ministro da Economia ao parlamento com caráter de urgência.

Em comunicado, o PEV considera que o desabamento da estrada, que provocou dois mortos, era "uma tragédia anunciada há muito, dado que há muito era conhecida a fragilidade daquela estrada face à sua passagem no meio de duas pedreiras".

"O PEV exige que as responsabilidades sejam apuradas junto de todas as entidades envolvidas, desde as entidades da administração central com responsabilidades no licenciamento e requalificação do espaço das pedreiras, fiscalização e garantia de segurança no trabalho, até à administração local", refere o Partido Ecologista "Os Verdes".

Para que situações como aquela não se voltem a repetir, "torna-se imperativo retirar ilações políticas deste trágico acontecimento" e uma reflexão por parte das autarquias, "quanto à assunção de responsabilidades", lê-se na nota.

O PEV defende que a reflexão que pede se justifica "tanto mais" quando o Governo se prepara, no âmbito da descentralização, para transferir "mais um conjunto de responsabilidades para as quais estas não terão capacidades técnicas e científicas para acompanhar devidamente".

Os Verdes vão requerer, com caráter de urgência, a presença do ministro Adjunto e da Economia na respetiva comissão parlamentar para "prestar esclarecimentos sobre esta situação e explicar as medidas que pretende tomar em situações similares nas zonas dos mármores e noutras pedreiras existentes no país".

18h16 - PCP quer apuramento de responsabilidades

O líder comunista, Jerónimo de Sousa, quer o "apuramento de responsabilidades" em relação ao deslizamento de terras em Borba.

"Em primeiro lugar, é um momento de pesar e de enviar as condolências às famílias", começou por afirmar Jerónimo de Sousa.

"Em segundo lugar, existe a necessidade de apuramento de responsabilidades. Existem formas de monitorizar e fiscalizar não só a estrada, mas a obra, a exploração, que ali está e as condições em que se está a realizar", disse o secretário-geral do PCP.

Para Jerónimo de Sousa, "era fundamental que fosse assumido se houve ou não essa monitorização, essa fiscalização, que é da responsabilidade do Estado, não é deste ou daquele".

18h12 - ACT abre inquérito

A Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) abriu um inquérito para apurar as condições de segurança e saúde dos trabalhadores da pedreira em Borba.

Depois do desabamento de terras, ainda na segunda-feira, a ACT enviou para o local uma equipa de inspetores.

Três engenheiros do Exército encontram-se em Borba a participar na avaliação das condições de segurança para as operações de resgate das vítimas, segundo disse à agência Lusa a porta-voz daquele ramo das Forças Armadas.

"Recebemos uma solicitação da Autoridade Nacional de Proteção Civil para enviar para o local especialistas de engenharia, que pudessem fazer uma avaliação técnica das condições de segurança para apoiar futuras operações de busca", disse a major Elisabete Silva.

18h03 - Chuva dificulta operações

O mau tempo tem complicado as operações de resgate das vítimas mortais do deslizamento de terras. Ao longo da tarde, períodos de chuva intensa levaram à interrupção voluntária dos trabalhos.

A Proteção Civil já pediu às empresas locais que, através de máquinas, improvisem uma barreira que impeça que a água da chuva que cai na estrada vá parar à pedreira.

Foram já transportadas para o local mangueiras para extrair água do fundo da pedreira, as quais estão a ser desenroladas com a ajuda de maquinaria pesada e com o apoio de funcionários da câmara e de outras entidades.

As autoridades têm ainda procurado restabelecer a eletricidade, cortada desde segunda-feira. A energia elétrica que existe na área é proveniente de geradores e, ao longo da tarde, foram transportados para o "teatro de operações" mais alguns desses aparelhos.

17h35 - BE diz que resgate das vítimas é prioridade

Catarina Martins defende que a prioridade "é fazer o resgate das vítimas e apoiar as famílias", considerando que chegará o tempo de apurar as responsabilidades.

"Terão de ser apuradas responsabilidades sobre o que se passou e esse tempo chegará. Hoje estamos concentrados neste apelo a que sejam resgatadas as vítimas quanto antes e a que seja apoiada a família", afirmou a coordenadora do BE.

Catarina Martins manifestou ainda solidariedade "com a dor de quem está a sofrer esta perda".

16h44 - Marcelo pede paciência

Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje se deslocou à pedreira e saiu sem prestar declarações aos jornalistas, veio esta tarde afirmar que “todos os portugueses ficaram chocados com o que aconteceu”.

“Assim que foi possível lá ir e lá estar sem perturbar os trabalhos em curso, fi-lo e pude informar-me do que se planeia fazer (…) assim que seja possível em termo das condições meteorológicas”, declarou Marcelo, frisando ainda que apoia “o esforço que está a ser feito por todos” para atingir os objetivos fixados.

O Presidente da República garantiu que estará presente ou que se fará representar nos funerais das vítimas, prestando as suas condolências e solidariedade para com os familiares das mesmas.

Pediu também paciência aos que querem encontrar uma resposta rápida sobre o que aconteceu, lembrando que “é necessário que se mantenham as condições de segurança nas operações” e, portanto, não podem ser estabelecidos prazos precisos.

16h14 - Ponto de situação esta noite

O Comandante Distrital de Operações de Socorro (CODIS) de Évora, José Ribeiro, faz às 20h00 desta terça-feira um novo ponto de situação relativo às operações de socorro em curso.

15h53 - Retirado o primeiro corpo

A primeira vítima mortal da derrocada já foi retirada da pedreira e será agora levada para o Instituto de Medicina Legal, em Lisboa.

O corpo já recuperado é de um dos dois operários da empresa que explora a pedreira.

O segundo corpo já foi identificado mas, antes de o retirar, os operacionais necessitam de remover parte da água que está acumulada no fundo da pedreira.

Continuam por encontrar os três desaparecidos que viajavam num automóvel e numa carrinha de caixa aberta que também foram arrastados para dentro da pedreira quando passavam na estrada que ruiu.

15h42 - Governo garante que será aberto inquérito

O ministro da Economia, Pedro Siza Viera, garantiu que será aberto um inquérito ao sucedido no acidente ocorrido em Borba e apresentou condolências às famílias das vítimas.

"Trata-se de uma situação em que têm de ser apuradas as responsabilidades. Será aberto o devido inquérito. Como sabem, é uma estrada municipal relativamente à qual é preciso também apoiar a recuperação, mas é um tema que nos condói a todos", afirmou. "É uma tragédia, lamentamos o ocorrido. Damos as condolências sinceras às famílias enlutadas", disse.

Questionado sobre as notícias que dão conta de alertas que já tinham sido deixados relativamente aos riscos existentes naquela via e às eventuais responsabilidades do Governo, Pedro Siza Vieira frisou que esta estrada já estava sob a alçada municipal há 13 anos e reiterou que toda a situação terá de ser apurada.

"Neste momento, o mais importante é apoiarmos aqueles que estão a tentar resgatar os corpos e a tentar ajudar a consolidar a situação daquela estrada", ressalvou, garantindo que o Governo continuará a acompanhar o caso.

15h35 - Pedreira "reunia condições de segurança"

A subdiretora-geral da Direção Geral de Energia e Geologia, entidade que licencia e fiscaliza as licenças das pedreiras, garante que as condições de segurança estavam reunidas para a pedreira operar junto àquela estrada.


15h30 - CDS critica silêncio do Governo

O CDS-PP manifestou o seu pesar pelas vítimas do desabamento e vai exigir ao Governo a lista de infraestruturas consideradas em risco.

"Começa a haver um silêncio ensurdecer por parte do ministro das Infraestruturas" sobre o acidente, afirmou aos jornalistas, no parlamento, o líder da bancada centrista, Nuno Magalhães, recordando que as autarquias têm estado a dar esclarecimentos e o secretário de Estado da Proteção Civil manifestou a sua solidariedade.

Nuno Magalhães vai pedir ao ministério liderado por Pedro Marques "a lista de infraestruturas consideradas de risco", bem como, se existirem, os "planos associados a essas infraestruturas".

14h00 – Marcelo Rebelo de Sousa já esteve na pedreira 

O Presidente da República chegou à zona onde se deu a derrocada por volta das 13h33, deslocou-se ao interior da pedreira e esteve reunido com os responsáveis pelas operações, e abandonou o local às 13h45.

Marcelo Rebelo de Sousa não prestou declarações aos jornalistas, apenas abriu o vidro da viatura e acenou e seguiu viagem em direção a Lisboa.

13h25 - Acidente domina as conversas em Vila Viçosa

Uma terra pequena, onde toda a gente se conhece e naquela estrada - conhecida como a estradas dos paralelos - todos passam regularmente.


Muitos usavam a estrada várias vezes ao dia.

13h20 - Mau estado da estrada já tinha merecido alerta de empresários

O mau estado da estrada que ruiu já tinha sido objecto de estudos e até de vários alertas de empresários de pedreiras existentes no local.


O troço em causa pertence à gestão do município de Borba, que assumiu a tutela da Nacional 255 em 2005.

O autarca confirma que houve alertas, mas diz que tinha informações oficiais de que estrada estava segura.

13h15 - Historiador já tinha alertado para o risco de derrocada

Carlos Filipe, historiador, disse à RTP que há cerca de um mês tinham sido feitas imagens por drone que mostravam já o risco de derrocada, que "qualquer coisa não estava bem".


13h10 - Imagens revelam a dimensão da derrocada

Imagens captadas hoje pela RTP mostram como ficou o local depois da derrocada de um troço de 100 metros desta via de gestão municipal, conhecida como a estrada das Pedreiras.


59 elementos de diferentes forças de socorro e engenheiros militares estão envolvidos nos trabalhos de resgate. A prioridade é garantir a segurança, para que se possa localizar as vítimas.

13h00 - Dois homens de Bencatel desaparecidos podem ter sido vítimas

Dois homens residentes em Bencatel, concelho de Vila Viçosa, estão dados como desaparecidos desde segunda-feira, podendo terem sido vítimas do deslizamento de terras para uma pedreira em Borba, disse hoje à agência Lusa fonte da junta de freguesia.

De acordo com a mesma fonte, os homens terão indicado a familiares que iriam na tarde de segunda-feira a Borba, passando pela estrada onde ocorreu o acidente.

"O condutor da carrinha de caixa aberta e de cor cinzenta, na casa dos 50 anos, terá informado a mulher que ia à tarde (de segunda-feira) com o cunhado, na casa dos 30 anos, ao contabilista a Borba", relatou à Lusa a mesma fonte da junta de freguesia de Bencatel.

O desaparecimento dos dois homens foi comunicado à GNR por familiares.

Segundo as autoridades, o aluimento de um troço da estrada entre Borba e Vila Viçosa terá arrastado para dentro da pedreira contígua, com cerca de 50 metros de profundidade, uma retroescavadora e duas viaturas civis, um automóvel e uma carrinha de caixa aberta.

Também um homem de 85 anos está dado como desaparecido em Alandroal, no distrito de Évora, pode ser uma das vítimas.

Segundo a mesma fonte do Comando Territorial de Évora, a participação do desaparecimento do homem foi dada na segunda-feira à GNR pela mulher, que indicou que o marido se deslocou no seu automóvel, nesse dia, a Vila Viçosa.

12h50 - Autarca diz que "nunca na vida" foi alertado para perigo da estrada

O presidente da Câmara de Borba disse hoje que "nunca na vida" foi informado da alegada perigosidade da estrada junto às pedreiras, argumentando que empresários do setor queriam cortar a via, mas para ampliar a extração de mármore.

"Nunca na vida", respondeu o autarca de Borba, António Anselmo, quando questionado pela agência Lusa sobre se, numa reunião com técnicos dos serviços regionais de Geologia, não tinha já sido alertado para a perigosidade da estrada onde, na segunda-feira, ocorreu um deslizamento de terras para uma pedreira, que provocou, pelo menos, duas vítimas mortais.

O presidente da câmara, que se encontra no local das operações da Proteção Civil, afirmou à Lusa recordar-se, efetivamente, de há quatro anos ter participado "nessa reunião" com técnicos de Geologia e Minas da antiga Direção Regional de Economia e com industriais do setor dos mármores.

Segundo António Anselmo, em 'cima da mesa' estava "a possibilidade" de interromper a estrada e "os empresários nunca se entenderam", ou seja, "não houve consenso".

"Houve uma reunião em que os empresários não se entenderam relativamente ao corte da estrada. E ao corte não, ao partir da estrada para permitir a exploração" de mármore, alegou.

A "ideia", de acordo com o presidente da câmara, "não era cortar a estrada, era partir a estrada para fazer exploração nesse sítio onde uma parte caiu".

"A estrada passava a ser pedreira, era essa a ideia", explicou.

Buscas complexas 

A Proteção Civil diz que operações de resgate às vítimas do abatimento da estrada municipal 255, que liga Borba a Vila Viçosa, “são muito difíceis e extremamente morosas”. Num briefing realizado esta terça-feira, José Ribeiro, Comandante Distrital de Operações de Socorro de Évora confirmou a existência de dois mortos e apelou à população local para evitar circular na zona.

Em declarações aos jornalistas, José Ribeiro, recordou a “complexidade da operação. Complexidade que torna todas as operações muito morosas e difíceis”.

“Nestas operações temos de conjugar a instabilidade do local, que no exige uma avaliação permanente e contínua das condições de segurança. Temos que conjugar a nossa intervenção operacional, quer em termos de desobstrução quer em termos desencarceramento dos locais onde podemos chegar. Temos de conjugar, por outro lado, o empenhamento de toda a maquinaria de apoio, nomeadamente gruas e motobombas de grande capacidade para fazer o escoamento de água”, esclareceu.

“E por último temos de conjugar todas estas ações com as condições meteorológicas presentes e futuras”, acrescentou.

No local, está “uma máquina giratória e as duas vítimas já confirmadas”.

Segundo o Comandante Distrital de Operações de Socorro de Évora, “se as condições de segurança o permitirem iremos também iniciar uma delicada operação de desencarceramento e de desobstrução com o apoio de uma grua”.

“Em simultâneo, e noutro local da pedreira onde ocorreu o deslizamento mais significativo de massa, iremos durante a tarde utilizar o equipamento de deteção, com o apoio de uma grua que permita identificar o local onde está a ou as viaturas”, explicou.

José Ribeiro voltou a frisar a “morosidade e a complexidade das operações, em que cada passo, cada ação tem de ser muito ponderada e muito bem avaliada para garantirmos a todo o momento as condições de segurança dos 59 operacionais que estão no terreno”.

Donos da pedreiras “descartam responsabilidades”

Jorge Plácido e Luís Sotto Mayor, proprietários de duas pedreiras próximas do local onde decorreu o desabamento da estrada municipal 255, descartam “completamente todas as responsabilidades”.

“Eu fiz as pregagens todas que me mandaram. E fiz todos os estudos que me mandaram, que não foram propriamente baratos, e podia ter fugido e dizer não faço esses estudos. Faço-os à minha maneira. Mas não. Quis que viessem pessoas especializadas para fazer esses estudos. Para me dizerem que a pedreira está segura para trabalhar”, afirmou o dono da pedreira à RTP.

Segundo Jorge Plácido, se a pedreira não tivesse segurança para trabalhar “não tinha licença de exploração”.


Para o proprietário, “agora é fácil. Como se diz aqui no Alentejo ‘sacudir a água do capote’”.

“Eu quis fazer tudo e fiz tudo dentro da legalidade. Chamei a pessoa mais credível para fazer este estudo. E tudo o que eu disse para fazer em termos de segurança foi feito. Por isso, da minha parte, descarto todas as responsabilidades. Se tivesse responsabilidades, assumia”.

Para o proprietário, “agora é fácil. Como se diz aqui no Alentejo ‘sacudir a água do capote’”.

A pedreira estava desativada há mais de um ano e os estudos não indicavam que a estrada iria ruir.

Segundo o dono da pedreira, um estudo realizado pelo Instituto Superior Técnico sugeriu “fazermos todos umas garimpagens, como se faz nas minas, para estabilização do talude. Tudo isso foi feito em segurança”.

“Mas em todo o caso alertamos para essa situação. Porque isto são pontos praticamente de pedreira para pedreira. E isso dava-nos um pouco de medo porque tínhamos trabalhadores, na altura, a trabalhar nestas pedreiras. Neste momento estava mais descansado porque tenho a pedreira inativa”, sublinhou.

Também Luís Sotto Mayor, proprietário de uma pedreira no local do desabamento da estrada, descarta qualquer responsabilidade no acidente.

“Apesar de trabalharmos em segurança, procurarmos trabalhar em segurança. A questão da estrada da maneira que estava, e aos anos que estava, era uma questão de risco. E nós como queríamos trabalhar em segurança, alertamos a câmara, juntamente com as entidades responsáveis. Numa hipótese de se cortar esta estrada”.

Para Luís Sotto Mayor, “agora é difícil estar a dizer que a responsabilidade e deste ou de outro. Eu acho que a responsabilidade é de não se ter feito nada”.

“Com o alerta podia-se ter evitado esta situação. E não se fez nada”.

As operações de resgate para retirar as vítimas da derrocada da estrada entre Borba e Vila Viçosa foram retomadas esta manhã. O aluimento de terras provocou dois mortos e um número ainda indeterminado de desaparecidos.