Troca de cartas. Pedro Nuno encontra "dose de arrogância" na resposta de Montenegro

por Carlos Santos Neves - RTP
“Este Governo não tem uma maioria que lhe permita ter essa atitude na relação com o Partido Socialista” José Sena Goulão - Lusa

Diante da resposta do primeiro-ministro à carta com o carimbo socialista a declarar disponibilidade para um eventual acordo em sede de orçamento retificativo, Pedro Nuno Santos acusa Luís Montenegro de demonstrar “arrogância”. Em entrevista à TVI e CNN Portugal, na noite de segunda-feira, o secretário-geral do PS invocou a distribuição de forças no Parlamento para pedir humildade ao Governo.

Na carta remetida a Montenegro, conhecida ao final da manhã de segunda-feira, Pedro Nuno Santos disponibilizou-se para conversações sobre um acordo que, num prazo de 60 dias, responda às reivindicações salariais e de carreira de profissionais da Administração Pública, polícias, funcionários judiciais e professores.

Na resposta, o primeiro-ministro não deixou de assinalar o “exercício de responsabilidade política e compromisso” por parte do líder do PS. E indicou que “oportunamente” agendará “uma reunião de trabalhão sobre essa temática, o que deverá acontecer na sequência das negociações com as organizações representativas dos trabalhadores”.

Ao mesmo tempo, Montenegro quis enfatizar que “o tempo e o modo de condução desses processos negociais serão, obviamente, definidos pelo Governo”.

Pedro Nuno Santos considera que a carta do chefe do Executivo “não deixa de ter a dose de arrogância”, o que, a seu ver, tem ficado demonstrado em casos como a eleição do presidente da Assembleia da República, ou o discurso proferido por Luís Montenegro na tomada de posse do XXIV Governo Constitucional.

“Este Governo não tem uma maioria que lhe permita ter essa atitude na relação com o Partido Socialista, eu lamento”, fez notar Pedro Nuno na entrevista à TVI e CNN Portugal.
Nesta entrevista, o secretário-geral socialista sustentou ainda que “seria um erro” remeter ao Orçamento do Estado para 2025 a resposta aos segmentos profissionais da Administração Pública.

“Se querem resolver, o PS está disponível para fazer”, insistiu, referindo-se à via de um orçamento retificativo, que vem propugnando desde as últimas eleições legislativas.
“Assustador”
Pedro Nuno Santos abordou também a intervenção de Pedro Passos Coelho na apresentação do livro ”Identidade e Família - Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade”, em que estiveram igualmente presentes os líderes do Chega, André Ventura, e do CDS-PP, Nuno Melo.

A obra em causa colige textos de figuras como Jaime Nogueira Pinto, Manuel Clemente, Manuela Ramalho Eanes, João César das Neves, Isabel Galriça Neto, Guilherme D'Oliveira Martins e José Ribeiro e Castro.Pedro Nuno Santos apelou, na mesma entrevista, a uma “ação pró-ativa” por parte do Governo de Luís Montenegro para que António Costa possa vir a desempenhar um cargo nos diretórios da União Europeia.

Neste evento, o antigo primeiro-ministro apelou a um “sinal muito forte” de resposta aos eleitores que, na sua ótica, mostraram desilusão.

À entrada Passos Coelho foi questionado sobre críticas de que foi alvo por se associar à conceção de família defendida por parte dos autores do livro.

“Portugal, apesar de algum atraso nesta abordagem, também vem conhecendo este vício que diminui o espaço público e procura reconduzir certas discussões que interessam a toda a sociedade a uma espécie de gente ultramontana, ultraconservadora e outras coisas que normalmente se seguem”, redarguiu.

“Assustador”. foi este o adjetivo empregue por Pedro Nuno Santos para descrever a postura de Pedro Passos Coelho.

“É assustador que um ex-primeiro-ministro tenha alinhado neste discurso que é um discurso da extrema-direita, que deve ser combatido, vai ser sempre combatido pelo PS sem hesitação e eu espero ter connosco a juventude portuguesa para nós combatermos o regresso a um passado em que ninguém quer voltar”, reagiu.

c/ Lusa
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