"Vidros, vidros, vidros, é só o que ali está", desabafa Armando, ao olhar para a imensidão de painéis solares que fazem fronteira com Manique do Intendente, no concelho da Azambuja.
A escassos quilómetros da vila, fica a Herdade da Torre Bela. Há 4 anos, a quinta murada ficou conhecida pela matança de 540 animais numa caçada.
Hoje quem ali passa, vê um deserto. Centenas de árvores protegidas foram cortadas para serem instalados mais de 600 mil painéis fotovoltaicos. A central da Torre Bela e Rio Maior, será uma das maiores do país, com uma área de exploração de 800 hectares.
Portugal está a apostar na construção de mega centrais fotovoltaicas, para cumprir as metas da neutralidade carbónica e chegar ao consumo de 85 por cento de energia renovável, dentro de seis anos.
Franceses, espanhóis, dinamarqueses e sul-coreanos têm investido milhões de euros na produção de energia solar em território português.
Os promotores do setor das renováveis garantem que o dióxido de carbono evitado, supera o que se perde com a desflorestação. Já os investigadores do ambiente e das alterações climáticas falam em danos ambientais irrecuperáveis e fizeram as contas: até 2030, o território que é preciso ocupar com painéis solares equivale a duas vezes o tamanho da cidade de Lisboa.
Nos últimos 5 anos, mais de 22 mil árvores protegidas foram abatidas para a instalação de centrais solares, entre sobreiros e azinheiras, segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
"Floresta de Vidro" é uma reportagem da jornalista Sandra Vindeirinho, com imagem e drone de Rui Machado Rodrigues, edição de Vanessa Brízido e grafismo de Luís M. Bernardo.
