Eleições: Martim Mayer fala de contas, formação e Mourinho

Entrevistado pela Agência Lusa, o candidato à liderança do Benfica Martim Mayer defende a necessidade de anular o prejuízo anual de 70 milhões de euros da SAD 'encarnada' para tornar possível a permanência dos melhores jogadores da formação e admite continuar a apostar em José Mourinho como treinador, "enquanto o Benfica ganhar".

RTP /
Lusa

"Juntamente com a parte desportiva, temos que olhar para a parte financeira, porque ela condiciona as tomadas de decisão desportivas. O clube tem que se equilibrar do ponto de vista financeiro e tem que resolver aquilo que durante este mandato é uma média de 70 ME que o Benfica tem para resolver de prejuízo por ano", lançou o candidato às eleições pela Lista B, em entrevista à agência Lusa.

De acordo com Martim Mayer, esta questão "condiciona muito a permanência do talento no futebol", pelo que é preciso "equilibrar as contas para tomar as melhores decisões" desportivas, que vão ficar sob a responsabilidade do neerlandês Andries Jonker, o diretor-geral para o futebol proposto pela sua candidatura.

"Andries Jonker vai criar outra dinâmica na coordenação da estrutura do futebol. Não só em toda a formação, desde os sub-13 até aos sub-23, como no 'scouting' [prospeção], que deverá ter duas vertentes: o 'scouting' ligado a atletas e o scouting ligado também a equipas técnicas", sublinhou.
Segundo o industrial, esta nova organização para o futebol visa "criar um modelo de jogo, bem claro", que permite blindar o Benfica dos resultados desportivos de curto prazo.

"O treinador de futebol, José Mourinho, e o diretor desportivo, Mário Branco, têm tanta pressão de curto prazo, porque têm que preparar o próximo jogo, e o outro a seguir, e gerir o plantel e as especificidades do plantel, que não têm hipótese de olhar para toda a estrutura do futebol. Então, trago alguém que vai ser complementar com o curto prazo, complementar com a pressão do resultado", vincou.

O objetivo expresso por Martim Mayer é devolver ao Benfica o estilo de jogo que seja vencedor e, simultaneamente, atrativo para os adeptos: "Um futebol divertido, um futebol entusiasmante, um futebol apaixonante".

O candidato da lista "Benfica no sangue", que garantiu estar disposto a dar "o sangue pelo Benfica", quer estruturar um projeto para colocar as 'águias' ao "mais alto nível europeu", para que seja possível disputar para ganhar uma prova europeia "tão rápido quanto possível", incluindo no horizonte a Liga dos Campeões.

"Temos 70 ME para resolver por época, vamos decompô-los e vamos olhar para o lado da despesa e para o lado da receita. O Benfica gasta 200 ME em média na SAD. É possível reduzir as despesas em 20%. E 20% representam 40 ME", anotou.

O neto do antigo presidente do Benfica Duarte Borges Coutinho salientou que, no seu entender, o clube é profundamente viável, já que tem 20 milhões de adeptos espalhados pelo mundo.
"Temos que saber encontrar esses adeptos. Temos que saber trazê-los para perto do clube e, para isso, temos que ter uma oferta para todas estas grandes comunidades de adeptos", referiu à Lusa, apontando para países como França, Suíça e o Luxemburgo, na Europa, mas também para os Estados Unidos (EUA) e o Canadá, e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

"Mourinho é o meu treinador enquanto o Benfica ganhar"

Martim Mayer admitiu manter a aposta no atual técnico José Mourinho durante muitos anos, ainda que realçando que, tal cenário, depende da conquista de troféus em Portugal e de boas campanhas europeias.

"Dava-me muita satisfação poder tomar a decisão de recorrentemente reconduzir Mourinho para mais uma época, porque era sinal que isso estava a acontecer. Já sabemos que temos uma média de 1,4 anos na duração do treinador no Benfica, em termos históricos. Porque a pressão do resultado é gigante. O Benfica entra em tudo para ganhar", destacou Mayer.

Segundo Martim Mayer, que se apresenta às eleições das 'águias' com um projeto a oito anos, ou seja, dois mandatos, a estabilidade da equipa técnica do Benfica durante este período está ligada diretamente ao desempenho da equipa de futebol, comandada por Mourinho.

"Isso significava que tínhamos sido oito anos campeões nacionais, tínhamos ganho outros troféus muito importantes a nível nacional, como a Taça e a Supertaça de Portugal, e isso significava que todos os anos estávamos a fazer bem na Europa", assinalou.

O empresário, de 51 anos, garantiu que, "desde que Mourinho queira, obviamente será para manter, porque seja a estabilidade da equipa técnica, seja a estabilidade do plantel, são dois indicadores de vitória muito grandes".

Martim Mayer, neto do histórico presidente 'encarnado' Duarte Borges Coutinho, vincou que "as equipas mais estáveis vencem mais", pelo que é isso que pretende caso assuma o leme do emblema lisboeta, realçando que vai manter Mourinho enquanto o Benfica tiver sucesso.

"Mas agora, sem vitórias, não há estabilidade na equipa técnica, porque o Benfica entra em campo para ganhar, e portanto, se essa vitória não acontece, tem que se substituir e procurar outra solução, nunca deixando de ter uma estrutura com uma pessoa como Andries Jonker [diretor-geral do seu projeto], que garante que todo o trabalho de médio prazo está a ser feito, e continua a ser feito, independentemente de haver trocas no treinador", frisou.

De acordo com o candidato da lista "Benfica no sangue", a possibilidade de dispensar um treinador de renome mundial como Mourinho só pode ser vista no contexto da situação específica, pelo que a sua manutenção no curto prazo está assegurada.

"Terá que se perceber que alternativas teremos mais à data. Qual é que é o ponto de situação do clube? Haverá um fim de ciclo no plantel e necessitar-se-á de fazer uma renovação de plantel? E isso exige que se continue com a mesma estabilidade na equipa técnica, ou existem outros fatores?", questionou.

E acrescentou: "[Mourinho] Deixou de estar motivado da mesma forma? Há muitas razões para, num momento como esse, não basta só olhar para a situação em si, é preciso ir mais fundo e perceber por que a senda de vitórias e potencial possa ter acabado e atacar o problema na sua raiz".

Além de Martim Mayer, concorrem ao ato eleitoral de 25 de outubro o atual presidente, Rui Costa, o anterior, Luís Filipe Vieira, bem como João Noronha Lopes, João Diogo Manteigas e Cristóvão Carvalho, havendo ainda uma lista liderada por João Leite para a Mesa da Assembleia Geral.

Caso nenhum dos candidatos receba a maioria dos votos (50%), será realizada uma segunda volta entre os dois mais votados, duas semanas depois, em 8 de novembro.

(Com Lusa)
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