Roger Schmidt. "Tudo passa por marcar golos"

por Mário Aleixo - RTP
Roger Schmidt falou sobre o Benfica e o que pensa sobre o futebol D.R.-slbenfica

O treinador do Benfica, Roger Schmidt, falou como nunca o tinha feito como técnico do clube da Luz. O passado, presente e futuro, o futebol e os segredos do êxito, tudo numa entrevista ao jornal alemão der Spiegel.

"Temos de agarrar o destino com as nossas próprias mãos. No fundo, tudo passa por marcar golos", sintetizou o alemão ao expressar a sua ideia sobre o futebol.

Schmidt falou ao Der Spiegel sobre forma como vê futebol como técnico à luz da alegria que uma criança tem quando chega à baliza e marca um golo. "Nunca acreditei em ficar na defesa à espera", diz.

Admiração, respeito, uma espécie de amor à primeira vista de quem chegou a Portugal a dizer que
“quem ama o futebol, tem de amar o Benfica”. 

Roger Schmidt aproveitou a paragem nas competições de clubes em virtude dos compromissos das seleções para dar esta entrevista na vésperas das grandes decisões da temporada. Falou da maneira como vê o futebol à luz da postura ofensiva que gosta de colocar nas suas equipas e que se tornou numa imagem de marca das "águias".

Há três anos que o Benfica não vence títulos, seja um campeonato ou taças, portanto a expectativa é elevada. Temos de fazer por isso mas estou concentrado no presente. Tenho tido bons resultados a pensar assim. Não sou um treinador que pensa que o adversário joga de determinada forma e que, por isso, vou passar a semana a determinar a forma como vamos jogar. Na minha cabeça, está 100% clara a forma de jogar”, disse.

No fundo, tudo passa por marcar golos, ter a bola no fundo das redes. Quando o (David) Neres fez o cruzamento e o João Mário encostou para golo foi esse o momento que o estádio todo, o público todo esperava. E a ideia de criar esses momentos marcou-me. Nunca acreditei em ficar na defesa à espera que acontecesse algo na área adversária. Penso que temos de agarrar o destino com as nossas próprias mãos e aproveitar os 90 minutos para tentar ser melhor do que o adversário, para criar mais oportunidades. Não há vitórias garantidas mas podemos aumentar as probabilidades de vencer e isso só pode acontecer se tivermos uma abordagem muito ativa”, especificou.

Quanto mais acreditas em ti, mais os jogadores acreditam e quanto mais os jogadores acreditam, mais possível se torna que venham a marcar a diferença. Contudo, antes de conseguires que os jogadores acreditem, é preciso que sejamos nós a acreditar. É esse o primeiro momento e é preciso encontrar esse caminho. Não sou um treinador que pensa que o adversário joga de determinada forma e que a partir daí vou passar a semana a definir como vamos jogar. Para mim é 100% claro como vamos jogar. Vejo como o adversário joga, dou algumas indicações, mas nós jogamos à Benfica e jogamos para vencer”, concluiu a análise à essência do futebol.

Grandeza do Benfica e a sua essência

Para mim, como amante de futebol, podemos falar de grandes clubes e o Benfica é um deles, ao nível de um Real Madrid ou de um Barcelona. O Benfica é o expoente máximo do futebol. Historicamente, e em termos de dimensão, é muito especial. Não houve ninguém a comprar o clube por quatro mil milhões de euros e a injetar aqui dinheiro de repente. É um clube em que as pessoas poupam todos os meses para poder ir ao estádio, é um clube que tem de vender jogadores para funcionar, um clube com 20 modalidades diferentes e todas as pessoas acompanham essas modalidades com paixão. O clube tem grandes objetivos. O Benfica joga para vencer títulos, temos de dar alegrias aos adeptos. É preciso preparar os jogadores para assumir essa responsabilidade. Têm de estar ao mais alto nível”, frisou.

“Primeiro apareceu o amor pelo futebol. Eu amo o futebol! Já em pequeno gostava. Comecei a jogar na rua, não tive uma grande carreira. Joguei na 3.ª Divisão mas ainda assim gostava de jogar. Adorei jogar todos os domingos e nunca pensei que o futebol viesse a ser a minha profissão. Não achei que viesse a ser treinador, para mim isso era inconcebível. Quando comecei a trabalhar como treinador continuava a ser inconcebível, era mais um passatempo. Ainda assim o amor ao futebol marcou-me tanto… Era avançado e a coisa mais bonita quando uma criança começa a jogar é o momento em que se chega à baliza e marca um golo”, realçou o treinador que foi campeão na Áustria e ganhou troféus na China e nos Países Baixos.

“Quando comecei a trabalhar como treinador, em Delbrück, nem sequer pensava muito nisso. Era uma coisa minha, vinha de dentro, não tinha grande… Fui dando passos na formação de treinador paralelamente à minha carreira ativa, mas na realidade nem pensava muito nisso, como queria jogar, como queria que fosse o meu futebol. Comecei e depois, a cada dia, tentava encontrar a melhor forma para treinar os jogadores, para transmitir essa motivação, essa paixão. Depois, com a experiência, isso foi-se desenvolvendo. Acabei por reparar que estava a resultar e pensei: isto é mesmo possível”, recordou Roger Schmidt.

 “No início, prometi que ia aprender português mas é complicado. É uma língua muito difícil e seria um investimento temporal muito grande até saber o suficiente para dar treinos em português. Para falar a verdade, não me atrevo. Em inglês funciona bem. Gostava de falar português, aliás gostava de falar mais línguas, mas era preciso ter aprendido quando era mais novo”, concluiu Roger Schmidt.

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