Carolijn Brouwer é velejadora da Dongfeng Race Team Nuno Patrício - RTP

Carolijn Brouwer, uma mulher entre homens na Volvo Ocean Race

Carolijn Brouwer é bem conhecida nas maiores competições de vela e das regatas. Com uma vida dedicada ao desporto náutico, a holandesa já esteve em três edições dos Jogos Olímpicos e agora encontra-se em destaque pela participação numa equipa mista da Volvo Ocean Race: a chinesa Dongfeng Race Team. Em entrevista à RTP, Carolijn Brouwer falou sobre o percurso de uma vida na vela, a grande diferença entre estar nas olimpíadas e uma regata com a duração de nove meses, e como consegue equilibrar a dureza da prova com a vida pessoal.

Como começou a aventura nas regatas e na vela?

Carolijn Brouwer: Comecei na vela muito pequena, aos dez anos. Numa classe de barcos muito pequenos e fui crescendo das classes optimist até às classes olímpicas e fui aos Jogos Olímpicos três vezes. Sempre tive o sonho de competir na Volvo Ocean Race, que é a vela oceânica dos iates. Tive a oportunidade em 2001/02 em que fiz duas etapas num barco feminino. Em 2014/2015, na última edição da Volvo Ocean Race, também participei num barco feminino, na equipa SCA e agora as regras da competição foram mudadas, dando a oportunidade às mulheres de competir num barco masculino, ou seja, equipas mistas. Sou o novo membro da Dongfeng Race Team.

Ao trabalhar numa equipa maioritariamente masculina, como vai lidar com esta nova situação?

Carolijn Brouwer: Bem, para mim até vai ser mais fácil do que da última vez em que tive de me habituar a velejar com onze raparigas num barco. No meu passado, na minha história da vela, estou mais acostumada a velejar com homens, em equipas mistas. Mesmo nos últimos Jogos Olímpicos em que participei o meu parceiro era um homem, ou seja, também era uma equipa mista. Para mim, diria que é quase mais natural velejar em equipas mistas do que numa equipa completamente feminina. Vou ter que trabalhar muito mas para mim é uma grande oportunidade de fazer parte de uma equipa com tanta experiência e com grande potencial para talvez ganhar a VOR da próxima vez.


Qual é a grande diferença entre os Jogos Olímpicos e a VOR?

Carolijn Brouwer: Não tem comparação. Eu tento sempre fazer uma comparação de alguém que faz atletismo nos 100 metros e de repente passa a correr uma maratona ou dez quilómetros, algo que não poderia ser feito. Há uma grande adaptação do corpo mas também do estilo de vida. Se fazes uma campanha olímpica é claro que trabalhas muito, treinas muito mas depois de seis horas por dia a treinar, tu voltas, tens um chuveiro quente, uma cama confortável, uma massagem caso seja preciso, boa comida e dormes oito, nove, dez horas por dia que são precisas para recuperar. Aqui [na Volvo Ocean Race] não há nada disso, aqui é uma história diferente. São 25 dias non-stop, sais para a etapa e 25 dias depois chega-se a um outro país, numa outra cidade e velejámos 25 dias, 24 horas por dia e não se para. Não há repouso, a vida a bordo não tem chuveiro, não tem cama confortável, não se dorme nove horas por noite, há um sistema de quatro horas a bordo e quatro horas em que se pode descansar. É uma diferença enorme e é preciso treinar o corpo para fazer parte de uma regata como esta.

Tendo em conta as condições podemos dizer que esta é uma prova de sobrevivência?

Carolijn Brouwer: Em alguns momentos tenho essa sensação de sobrevivência mas acho que como em qualquer desporto, um evento em que um atleta faça parte, a preparação é o seu sucesso, vai ser o seu sucesso nessa regata. Durante a nossa preparação, preparamo-nos para todos estes momentos que vamos ter que encarar na Volvo Ocean Rae. Física e mentalmente, estamos preparados para poder fazer parte de uma regata que vai durar nove meses.

Tendo em conta a duração da prova, estando vários dias em competição, como é que é feito o equilíbrio com a vida pessoal?

Carolijn Brouwer: Para mim esse é o maior obstáculo porque tenho uma família, tenho um filho que vai fazer seis anos e a única maneira para mim é saber que cada vez que chego a um porto, num outro país, depois de uma etapa, sei que ele vai estar lá para me ver e estar comigo. Aí tenho uma semana de repouso para o corpo poder recuperar e sair para a próxima etapa. Esse período para mim é a diferença entre noite e dia. Estive 25 dias a velejar e a puxar os limites do meu corpo ao máximo para poder ver a minha família, relaxar e fazer durante alguns dias umas férias e fazer algo completamente diferente. Esse balanço entre um e outro é muito importante para mim.

Vai estar numa equipa mista pela primeira vez. Quais são os grandes objetivos da equipa?

Carolijn Brouwer: Mesmo fazendo parte da SCA [no ano anterior] sempre vi com curiosidade o que DongFeng estava a fazer. Acabaram em terceiro na última VOR mas porque o mastro partiu numa das etapas e perderam muitos pontos, não podendo terminar a etapa. Mesmo assim, terminaram em terceiro, e acho que a equipa tem mais potencial. Charles Caudrelier é um Skipper muito bom, tem muita experiência, tem um talento enorme para a vela e a equipa que ele formou ao seu redor é muito forte. Espero, sendo agora o novo membro da equipa, poder também dar o meu apoio e um pouco da minha experiência para ajudar a DongFeng, quem sabe, a ganhar a próxima Volvo Ocean Race.


Carolijn Brouwer já participou na Volvo Ocean Race por duas vezes, sempre inserida em equipas femininas. Este ano, após ser escolhida por Charles Caudrelier, Skipper da DongFeng Race Team, a holandesa vai fazer parte de uma equipa mista, uma das novidades da próxima edição da Volvo Ocean Race.