Clube Atlético e Cultural. Quando a deficiência visual é uma força

O desporto adaptado está bem e recomenda-se. Ainda em tempo de férias, no fim de agosto, o Pavilhão Moinhos da Arroja recebe um pequeno grupo que se prepara para um treino. É a equipa de Goalball do CAC. O Clube Atlético e Cultural, de Odivelas, que faz do desporto adaptado a sua força e é uma referência para pessoas com deficiência visual que têm no desporto o escape necessário às dificuldades do dia-a-dia, mostrarem-se competitivas e sentirem-se integradas.

Uma baliza de nove metros chama imediatamente a atenção. Os jogadores de Goalball do CAC aquecem para mais uma sessão de treino.

Eduardo Balola, um dos mais veteranos na modalidade em Portugal, falou com a RTP e explicou alguns dos fundamentos do jogo e o seu contexto histórico que remonta ao fim da II Guerra Mundial.

“Veio colmatar o facto de muitos estropiados de guerra, que ficaram incapacitados visualmente, poderem praticar uma modalidade desportiva. Ao longo dos anos foi sofrendo algumas alterações. Tornou-se numa modalidade competitiva e numa modalidade paralímpica. Desde a sua criação até aos dias de hoje é uma modalidade que se transformou por completo”, explicou.


Enquanto modalidade de proa no desporto adaptado, o Goalball tem regras muito específicas que levam a uma prática desportiva de espetacularidade.

“É uma modalidade coletiva, disputada por duas equipas com três jogadores em campo, de cada lado. Uma baliza de nove metros e tem linhas orientadoras num campo que tem nove metros de largura e 18 de comprimento. Basicamente o objetivo é marcar golos na baliza adversária e sendo os arremessos feitos com o membro superior. A bola é especial que emite som. Os jogadores jogam em igualdade de circunstâncias com os olhos vendados para não terem nenhum resíduo visual e para isso a bola tem uns guizos no seu interior, com orifícios que permita que a bola emitir algum som”.

João Mota joga há menos tempo que Eduardo Balola mas é também uma peça-chave do Goalball do CAC.

O jogador acredita que a modalidade tem feito o seu caminho e que evoluiu bastante: “acho que por parte das instituições públicas também há mais facilidade ao apoio. Enfim, há mais uma confluência de energia para que a modalidade cresça”, revelou à RTP.

Sobre o crescimento dos apoios, o mesmo é cada vez mais visível, até pelas tarefas de cada jogador em campo.

“Os atletas podem dedicar-se a serem atletas, os treinadores podem dedicar-se a serem treinadores e isso é o trabalho de alguns clubes que criaram uma estrutura que possibilita que cada um desempenhe a sua função. Acho que é aí que sentimos. O atleta pode ser atleta e pode ser só atleta”, continuou João Mota.

Sobre a aposta do CAC para o futuro do Goalball, Eduardo Balola acredita que o projeto é “ambicioso” e que apesar de ser um clube mais pequeno, o CAC consegue “ombrear” com clubes de maior projeção. “A esse nível demos um salto muito grande, podemos estar ao nível mais alto” e relembrou que o clube pode competir em torneios internacionais e mostrar a sua valia e crescer cada mais.
Mauro Diogo: o coordenador que vê os atletas a fazer da sua “deficiência uma força”
Mauro Diogo é o coordenador e, muitas vezes, o treinador desta secção do desporto adaptado do Clube Atlético e Cultural. Lembrou a sua criação há coisa de três anos, numa aventura “difícil mas incrível” e relembrou o trabalho para várias modalidades do desporto adaptado que o clube tem desenvolvido.

“Criámos este projeto para dar mais condições aos atletas que já faziam parte do clube e aos que vamos buscar e acolher. Para que eles sintam que também é possível fazer do desporto uma vida. Fazerem competição, serem muito competitivos no que fazem porque, acima de tudo, o desporto é para eles é muitas vezes um escape para os problemas pessoas e profissionais pelos quais passamos”.

O CAC aplica todas as regras para conseguir integrar socialmente os seus atletas na sociedade e aposta num projeto de crescimento para o futuro. Mauro Diogo acredita que estes atletas fazem da sua “deficiência uma força” e que para isso contribui também uma boa panóplia de competições internas e também internacionais.

“Vamos ter um Grand Prix e em fevereiro uma Liga dos Campeões. Este ano, felizmente, temos um planeamento muito longo e competitivo e por já estamos a iniciar trabalhos para que possamos nestas competições mostrar principalmente a eles [atletas] que são tão bons ou melhores como os outros lá fora”.

O coordenador quer que as grandes competições deixem a estes atletas memórias para sempre, experiências que os marquem e que mostrem que estão ao nível dos melhores que competem lá fora. Por fim, relembrou o investimento cada vez maior na modalidade, lembrando os contributos de FC Porto e Sporting.

E relembrou que todos os contributos, por mais pequenos que pareçam, são sempre uma grande vitória para os atletas e todos aqueles que os acompanham nesta demanda por competição mas também por integração.

No Grand Prix de Odivelas jogado de 5 a 7 de setembro, o CAC chegou à final e perdeu com Old Powel no jogo derradeiro. Ainda assim, o Clube Atlético e Cultural alcançou um honroso segundo lugar.