No distrito de Portalegre, nem sempre tão representado nas lides desportivas, o Eléctrico prepara a nova temporada na principal liga de futsal de Portugal. Esta é uma equipa consciente das dificuldades que tem de ultrapassar, especialmente para se manter competitiva. Mas a verdade é que em Ponte de Sor, o futsal é de primeira há já 7 anos e assim pretende manter-se nos próximos anos.
“Alma, Eléctrico!”, assim ecoa o hino do Eléctrico Futebol Clube. No nome tem futebol mas é de futsal que se vai falar (ou escrever).
Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, é a casa deste clube que consegue estar na elite do futsal português, partindo no início de setembro para a oitava temporada consecutiva na primeira divisão da modalidade em Portugal.
Jorge Monteiro lidera os treinos no Pavilhão Municipal de Ponte de Sor. Foi oficializado há pouco tempo no Eléctrico e tenta preparar a equipa para a época que se avizinha e levar o clube alentejano a conseguir concretizar os principais objetivos.
Primeiro que tudo, é imperativo regressar aos playoff da Liga Placard, e estar naquele último grupo de oito equipas que irá lutar em eliminatórias pelo título português. O foco do Eléctrico não passa por conquistar o troféu mas quanto mais longe a equipa for, melhor e maior será a concretização de um dos objetivos para a temporada. Chegar à Final Eight das Taças de Portugal e da Liga é também algo a alcançar.
Para o técnico estar no interior não é uma desvantagem, bem pelo contrário. Apesar de um universo de praticantes reduzido, Jorge Monteiro acredita que uma equipa como o Eléctrico pode e deve analisar, acima de tudo, as oportunidades.
“Eu gosto sempre de identificar mais as oportunidades e o facto de estarmos tão isolados também nos permite fazer um trabalho mais próximo das pessoas, mais próximo da população de Ponte de Sor. As pessoas aqui apoiam-nos bastante, somos muito acarinhados. Identificam-nos como equipa da região, representamos o Alentejo e aceitamos muito esse desafio”, explicou Jorge Monteiro à RTP Notícias.
A contratação de jogadores parece ser um dos grandes problemas quando se fala da localização geográfica do Eléctrico. Muitos jogadores portugueses preferem manter-se nos grandes centros urbanos e por isso, a equipa de Ponte de Sor tem de apresentar uma estratégia de contratações diferente.
O Brasil é um mercado preferencial por ter jogadores de igual qualidade e que querem conhecer a competitividade da liga portuguesa de futsal. O resto é conseguido pelos jogadores da formação e pelo amor ao clube da terra, apelando sempre a que os estudos sejam uma aposta.
“Do que tenho sentido aqui dos jogadores que estão connosco, eles sentem muito o Eléctrico, vivem muito o Eléctrico e vivem o “Alma, Eléctrico”. Isso ajuda bastante. Eles defendem o Eléctrico como ninguém e isso é determinante para eles, terem um compromisso com o trabalho, com o que vamos exigindo mesmo dentro de um contexto tão exigente como é os séniores e como é a Liga Placard”, explicou o treinador de 54 anos.
Um dos principais apoios do Eléctrico é a Câmara Municipal de Ponte de Sor que tudo tem feito para apoiar a equipa enquanto baluarte desportivo de uma região na I Liga de futsal, dando a possibilidade ao clube de utilizar insfraestruturas desportivas com excelentes condições para a modalidade.
E apesar de afastados do litoral, Jorge Monteiro não vê tratamentos desiguais por parte da FPF, que rege a modalidade.
“Acho que a aposta que a Federação fez nesta modalidade foi uma aposta forte. Temos sentido um tratamento igual aos nossos pares. Acho que a Federação teve esse cuidado. Permite aos clubes terem um processo de certificação que lhes dá capacidade e poder de ter mais, ou menos, apoios”.
A promessa é continuar a trabalhar para melhorar a certificação do Eléctrico nos próximos anos, para que no futuro o clube se torne uma referência de treino para os jovens de várias localidades em redor de Ponte de Sor.
Para a Liga Placard, o treinador prometeu trabalho e empenho e muita luta já na primeira jornada do campeonato, frente ao Quinta dos Lombos, para conseguir abrir a época com os três pontos.
Ser da terra e capitanear o clube do coraçãoAs primeiras memórias remontam ao Matuzarense, no velhinho campo da equipa. Diogo Basílio é o capitão do Eléctrico, numa vida desportiva quase sempre dedicada ao clube de Ponte de Sor (representa também a seleção portuguesa).
“A minha vida foi quase toda dedicada ao Eléctrico. Acabei por sair para a Burinhosa e quando voltei o Eléctrico estava no distrital. Acabámos por fazer duas subidas consecutivas até chegarmos à primeira. Não é fácil. Temos dificuldades que outras equipas do litoral não têm”, disse o guarda-redes de 28 anos.
Entre o litoral e o interior existem diferenças, e algumas trazem dificuldades que se vão sentindo pelos dias que passam. O guardião português acredita que os apoios que as equipas recebem são diferentes mas que mesmo assim, o Eléctrico apresenta argumentos para fazer uma boa temporada. Tal como o treinador, o guardião quer os Playoffs e a Final Eight das Taças de Portugal e da Liga.
E em relação ao novo treinador? O jogador admite que é sempre necessário um período de adaptação mas que com o passar das semanas as ideias do novo técnico estão a ser assimiladas e que a equipa vai apresentar-se a bom nível no início do campeonato.
Diogo Basílio revelou também que a estrutura do Eléctrico tem de ter cuidados redobrados na escolha de novos jogadores, uma situação que se complica pela localização do clube.
“Os diretores têm de fazer uma seleção criteriosa, temos de tentar acertar ao máximo os jogadores, a personalidade, as características porque às vezes um detalhe pode definir aquilo que vai ser a época e é importante acertar, não digo todos, mas grande parte dos jogadores”.
Mesmo assim, apesar de ser do interior de Portugal, Diogo Basílio acredita que tal pode ser uma vantagem, especialmente pela proximidade que os habitantes de Ponte de Sor criam com os jogadores e que leva a um apoio mais forte quando o Eléctrico joga em casa.
“As pessoas vibram. Felizmente, nos últimos anos, temos conseguido fazer bons resultados, especialmente aqui em casa. E acredito que seja uma motivação extra para as pessoas virem ver o futsal. O facto de ser uma cidade em que as pessoas têm um trato fácil e é fácil chegar aos jogadores, acaba por existir essa proximidade e esse carinho extra”.
E conclui ao dizer à RTP Notícias: “As gentes de Ponte de Sor não falham”.
O regresso a um sítio onde se foi feliz
Internacional pela Geórgia (apesar da nacionalidade brasileira), e com passagens por vários países antes de chegar ao futsal português, Simi admitiu conhecer apenas as grandes equipas de Portugal, Sporting e Benfica. No entanto, mostrou-se entusiasmado com o convite do Eléctrico e deu o salto de fé em 2022.
“Não tinha muito entendimento do Eléctrico, não acompanhava muito. Aqui em Portugal, até há pelo menos três anos, assistia mais às finais, sempre com Benfica e Sporting mas foi um erro meu. Recebi um convite do Eléctrico e do antigo treinador e aceitei, achei que tinham bastante ambição e tinham jogadores muito bons. Resolvi aceitar e deu certo”, afirmou.
O jogador espera voltar a dar ao clube de Ponte de Sor o mesmo que deu nas duas temporadas em que representou o clube e apesar de ser um clube de uma cidade mais pequena, Simi Saiotti acredita que o Eléctrico providencia condições muito semelhantes ao que os melhores clubes oferecem.
E não deixou de elogiar a população de Ponte de Sor: “Graças ao futsal, passei por vários países, muitas equipas e aqui é daquelas em que mais apoiam. Sentem amor pela cidade, pela equipa e isso é difícil em cidades grandes, tirando as grandes equipas. Aqui não. Têm um amor pela equipa, querem estar aqui, querem apoiar e isso é algo a mais para nós”, continuou.
Para o início da próxima temporada, Simi promete trabalho, dedicação e empenho para uma época que se espera difícil mas com a vontade de manter o Eléctrico e Ponte de Sor nos principais palcos do futsal em Portugal.