BCP, BES e BPI com prejuízos de quase 1.100 milhões de euros em 2011

por RTP, com Lusa
BCP lidera maus resultados, com prejuízos de 786 milhões de euros, e revela que vai recorrer ao fundo de recapitalização da banca. Manuel de Almeida, Lusa

Os três maiores bancos privados portugueses apresentaram um prejuízo conjunto de quase 1.100 milhões de euros durante o ano passado, de acordo com os números apresentados esta semana. Os maus resultados – que atiram os três bancos pela primeira vez para o vermelho – deveram-se aos impactos da crise da dívida soberana. O Santander Totta contrariou a tendência, apresentando lucros de 64 milhões de euros.

A lista dos piores resultados, que somam 1098,9 milhões de euros, é, como se esperava, encabeçada pelo BCP, que registou um prejuízo de 786 milhões de euros, seguida do BPI, com um resultado negativo de 203,9 milhões, e do BES, com 108,8 milhões de euros. Por outro lado, o Santander Totta conseguiu manter-se acima da linha de água, apresentando um lucro de 64,1 milhões de euros, embora piorando face aos lucros de 439,6 milhões de euros de 2010.

O ano de 2011 foi muito negativo para a banca nacional, com três dos maiores bancos privados portugueses a apresentarem prejuízos anuais pela primeira vez, pelo menos desde que estão cotados em bolsa.

Contudo, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos relembrou esta manhã que os maus resultados também se devem a fatores "não recorrentes", como o impacto da transferência dos fundos de pensões, as perdas resultantes da exposição à dívida grega e o imposto extraordinário sobre a banca.

Apesar de acreditar que os resultados dos próximos anos serão “muito baixos”, António de Sousa defende que a solidez da banca portuguesa nunca esteve tão alta, com as instituições a fecharem 2011 com um rácio de capital 'core tier 1' (considerada a medida mais eficaz de avaliar a solvabilidade de um banco) de 9 por cento, cumprindo as exigências da 'troika'. Considerações semelhantes tem o Banco de Portugal, que defende que o setor bancário português está “mais robusto e resiliente" do que no início da crise, em 2008.
BCP encabeça resultados negativos
O Banco Comercial Português (BCP) teve um prejuízo de 786 milhões de euros no ano passado. Os fatores extraordinários ascenderam a 972 milhões de euros, a grande fatia dos quais devido às imparidades relacionadas com a Grécia.

O 'core tier 1' do BCP atingiu no ano passado o valor mais elevado de sempre, nos 9,4 por cento, "o dobro do que tinha quando começou a crise", frisou o presidente Santos Ferreira, durante a apresentação das contas. No final de 2010, o 'core tier 1' do BCP era de 6,7 por cento.

As perdas em 2011 são explicadas pelo banco com "o aumento de dotações para imparidade do crédito e de outros ativos financeiros e pelos custos associados à transferência parcial de responsabilidades com pensões para a Segurança Social".

O BCP revelou esta sexta-feira que entregou a 20 de janeiro um plano de recapitalização ao Banco de Portugal onde já prevê que irá utilizar a linha de crédito do Estado, tornando-se o primeiro banco português a pedir oficialmente o apoio estatal.

De acordo com um comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o BCP diz que o seu presidente, "em consonância com os principais acionistas" que o plano apresentado ao supervisor inclui a recapitalização através da "utilização da linha de recapitalização pública temporária e reembolsável". O processo será ainda feito com “recurso a capitais privados ".
Resultados do BES "não foram nada brilhantes"
O Banco Espírito Santo (BES) foi o terceiro banco a apresentar piores resultados em 2011, registando prejuízos de 108,8 milhões de euros, com origem na atividade doméstica. Números “nada brilhantes” mas que, apesar de tudo, “não foram maus de todo”, segundo o presidente da instituição.

Os resultados de 2011 contrastam com o lucro de 556,9 milhões de euros registado em 2010, uma queda que o banco liderado por Ricardo Salgado atribui ao desenvolvimento do processo de desalavancagem financeira, ao reforço das imparidades e à contabilização de encargos de natureza extraordinária no total de 378,3 milhões de euros. Entre os encargos extraordinários conta-se a transferência do fundo de pensões para a Segunrança Social, um prejuízo de 107 milhões de euros.

No relatório de contas, enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o BES adianta que, "excluindo os factos de natureza não recorrente, o resultado teria sido positivo em 166,6 milhões de euros".

No exercício de 2011, o resultado financeiro atingiu os 1.181,6 milhões de euros, valor ligeiramente acima do alcançado em 2010, justificado com a intensificação da captação de recursos junto de clientes e redução de ativos financeiros.
BPI revelou ontem prejuízos de 204 milhões de euros
O Banco Português de Investimento (BPI) apresentou na quinta-feira um resultado líquido negativo de 204 milhões de euros, valor que constrasta com o lucro de 184,8 milhões de euros alcançado em 2010.

O banco atribui este prejuízo, "sobretudo, devido ao impacto de imparidades resultantes da exposição à dívida grega (339 milhões de euros negativos) e da transferência do fundo de pensões para a Segurança Social (71 milhões de euros negativos)".

Ainda assim, "os impactos negativos foram parcialmente compensados por ganhos realizados com a recompra de emissões de dívida própria (81 milhões de euros) e com a contribuição em espécie de 11 por cento da Viacer (60 milhões de euros) para o fundo de pensões", explicou o banco.
Santander rema contra a maré com saldo positivo
O Santander Totta contraria a tendência dos restantes bancos, apresentando um lucro de 64,1 milhões de euros em 2011. Contudo, os números revelam uma descida de 85,4 por cento face a 2010, quando registou um lucro de 439,6 milhões de euros.

António Vieira Monteiro, o novo presidente executivo do banco, estreou-se na apresentação dos resultados do Santander Totta em Lisboa, referindo que para as contas positivas contribuíram a venda de créditos e títulos realizados no início do ano por 2,5 mil milhões de euros, bem como o reforço de imparidades e provisões de crédito.

De acordo com António Vieira Monteiro, que susbtitui Nuno Amado após este assumir a presidência do BCP, a conta de resultados "reflete a opção estratégica de privilegiar a solidez do balanço, a qualidade dos ativos e a redução da posição junto do Banco Central Europeu, continuando a gerar rentabilidade positiva".

No comunicado distribuído na conferência de imprensa, o banco refere ainda que teria apresentado um lucro de 144,9 milhões se não fossem os efeitos recorrentes, que prejudicaram as contas.
Setor está "mais robusto e resiliente" do que no início da crise
O Banco de Portugal (BdP) defendeu esta sexta-feira que o sistema bancário português está "mais robusto e resiliente" do que em 2008, quando se iniciou a crise financeira, devido à evolução positiva dos rácios de solvabilidade. Estes rácios, "medidos segundo a métrica do 'Core Tier 1'", apresentam desde aquela data "uma tendência claramente positiva".

Em comunicado, o BdP adiantou que, excluindo o BPN e o BPP, os bancos ultrapassarão “confortavelmente os 9 por cento" exigidos de rácio 'Core Tier 1' em 2011, já que apresentavam em setembro um rácio de 8,5 por cento, um valor acima dos 6,8 por cento registados no final de 2008.

O programa de assistência económica e financeira, acordado no segundo trimestre de 2011 com a 'troika', recorda o Banco de Portugal, "contempla o reforço das exigências ao nível da solvabilidade e liquidez dos bancos portugueses", pelo que, para além de os bancos terem de cumprir um requisito mínimo de rácio 'Core Tier 1' de 9 por cento no final de 2011, terão de continuar a solidez em 2012 para atingirem os 10 por cento do mesmo rácio.

De acordo com o governador do Banco de Portugal "não há riscos" de os bancos portugueses falharem no cumprimento das metas definidas pela 'troika' e relembrou que, em última necessidade, os bancos podem recorrer à linha de recapitalização de 12 mil milhões de euros destinada pela 'troika' ao setor financeiro no âmbito do pacote de ajuda externa.

Carlos Costa, que esteve esta sexta-feira numa conferência organizada pela Associação Portuguesa de Bancos, garantiu ainda que sem os fatores extraordinários que os bancos tiveram de incluir nas contas de 2011, estes “continuariam a ter resultados positivos” em 2011, ainda que "não tão altos como no passado".
pub