Federação Portuguesa de Futebol. O legado deixado por Fernando Gomes

Presidente do maior organismo do futebol em Portugal, Fernando Gomes chefiou a FPF durante três mandatos. Mais de dez anos que trouxeram melhorias em várias modalidades, uma nova oportunidade dada ao futebol feminino e as primeiras conquistas continentais da principal seleção nacional de Portugal.

Inês Geraldo - RTP /
Fernando Gomes teve três mandatos de sucesso na liderança da Federação Portuguesa de Futebol Reuters

Depois de Gilberto Madaíl, Fernando Gomes. Nascido em 1952 e formado em Economia, o antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol tem as suas raízes ligadas ao desporto através do FC Porto.

A ligação iniciou-se como basquetebolista do clube tendo assumido a modalidade no FC Porto em 1992, tendo, mais tarde, ficado com o cargo de diretor-geral e administrador da SAD do FC Porto para a área financeira.

Tal como Pedro Proença, que agora passa a ser presidente da FPF, também Fernando Gomes liderou a Liga Portugal entre 7 de junho de 2010 até ao dia 10 de dezembro de 2011. Uma semana depois, dia 17, tomou posse como presidente da FPF.


Grafismo: Sara Piteira - RTP
Criação de um núcleo duro de modalidades

Para além do futebol, Fernando Gomes cedo criou um núcleo duro de modalidades a serem desenvolvidas. Para além do futebol e do futsal, uma das primeiras decisões foi juntar o futebol e praia à esfera da Federação.

Uma decisão que se mostrou acertada, com a seleção portuguesa de futebol de praia, liderada pelo lendário Madjer, a alcançar dois títulos de campeã mundial em 2015 e 2019, em provas organizadas pela FIFA.

O futsal também foi uma das pedras basilares do sucesso da Federação sob a liderança de Fernando Gomes. Com Jorge Braz ao leme, a seleção nacional masculina alcançou dois títulos de campeã europeia em 2018 e 2022.

Em 2021, na Lituânia, a seleção das quinas chegou ao topo do mundo. Portugal derrotou a Argentina por 2-1 e sagrou-se campeã do mundo de futsal pela primeira vez na sua história.

O futebol tornou-se aos poucos a imagem de marca da liderança de Fernando Gomes. Uma imagem de marca alavancada pela popularidade de Cristiano Ronaldo e globalidade da marca CR7 que trouxe muita notoriedade ao principal regulador do futebol em Portugal.

A formação tornou-se uma das grandes bandeiras, com as seleções de sub-17 e sub-19 a alcançarem os títulos europeus (respetivamente em maio de 2016 e julho de 2019) tendo faltado apenas um título à seleção sub-21, que perdeu uma final frente à Suécia, em 2015, nas grandes penalidades.

No entanto, seria a seleção principal a trazer os dois maiores sucessos para a Federação Portuguesa de Futebol.

Paris, 10 de julho de 2016, será o episódio mais feliz da seleção portuguesa ao derrotar a anfitriã França no Stade de France na final do Euro2016. Um golo de Éder colocou Portugal no topo do futebol europeu e alcançou o primeiro grande título internacional. Um feito marcante para um país que há muito lutava frente aos melhores mas sem conseguir capitalizar boas gerações de futebolistas.

O segundo título surgiu num contexto em que Portugal também demonstrou a capacidade de organizar grandes eventos. Depois da final da Liga dos Campeões em 2014, no Estádio da Luz, a Federação organizou a ‘Final Four’ da primeira edição da Liga das Nações. Depois de derrotar a Suíça com um hat-trick de Cristiano Ronaldo, a seleção teve o apoio do Estádio do Dragão na final da prova.

Um golo de Gonçalo Guedes derrotou os Países Baixos e permitiu a Cristiano Ronaldo levantar o segundo título internacional de Portugal, na cidade do Porto, perante os Portuenses que fizeram a festa pela noite dentro.

O último grande sucesso de Portugal vai ter ecos em 2030. Depois de ter organizado o Euro2004, Portugal vai fazer parte da organização do Mundial 2030, juntamente com Espanha e Marrocos. O último grande episódio de sucesso da era Fernando Gomes.
O arranque definitivo do futebol feminino

Apesar de ter revelado em entrevista a Fátima Campos Ferreira, no programa A Primeira Pessoa, que gostaria de ter investido mais no futebol feminino, a verdade é que com Fernando Gomes o futebol jogado pelas mulheres explodiu em Portugal.

Não só se materializou a criação da Liga BPI, em que várias equipas do futebol feminino disputam entre si o título de campeão, como existem as taças jogadas no feminino. Um impulso que mostrou que Portugal ainda tem muito para aprender com as nações que mais investem mas que também mostra alguns clubes portugueses a darem ares da sua graça nas competições europeias.

Um trabalho que se refletiu nos escalões de formação, com cada vez mais raparigas a jogar futebol mas também na principal seleção.

Em 2017, Portugal conseguiu a sua estreia num campeonato da Europa e em 2023 chegou a vez do Mundial. Apesar de ainda haver muito por onde melhorar, começa a ser normal a ver a seleção feminina a chegar às fases finais das principais competições da UEFA e da FIFA.
A criação da Cidade do Futebol

Um dos maiores investimentos na era de Fernando Gomes é a Cidade do Futebol. Sem um lugar definido para estagiar aquando de jogos de qualificação em Portugal, a Federação avançou para a construção da Cidade do Futebol.

Um espaço, em Oeiras, que juntou de forma definitiva todos os escalões das seleções portuguesas, tanto do futebol masculino como do futebol feminino. Um local que recebe as convocatórias dos selecionadores mas não só.

Equipado com vários campos, as seleções treinam e fazem a preparação para inúmeros jogos mas também participam em torneios. A Cidade do Futebol é a sede da Federação Portuguesa de Futebol.

Neste local existe ainda a Casa dos Atletas, a infraestrutura que recebe todos os futebolistas que jogam pelas seleções de Portugal. É um espaço com 43 quartos, que vai contar com mais 30 a partir de agosto deste ano e que tem ainda espaços comuns, salas de jogadores e treinadores, uma sala de refeição, uma cozinha e um ginásio.
Rendimentos em crescimento

Pedro Proença vai chegar a uma Federação em boas condições financeiras. Com rendimentos na ordem dos 35 milhões de euros em 2012, o organismo liderado por Fernando Gomes mais que triplicou os valores ganhos ao longo dos anos.

Com um pequeno revés na altura da pandemia de covid-19, a Federação Portuguesa de Futebol chega a 2024 com rendimentos na ordem dos 122 milhões de euros. Valores que se explicam pelas provas desportivas (rendimentos sobrem aquando da organização de grandes eventos), apostas desportivas e patrocínios.

Neste último capítulo, acredita-se que a presença de Cristiano Ronaldo e a marca que criou com o seu nome tenha ajudado a catapultar a Federação para resultados muito positivos.

É assim, neste contexto que Pedro Proença vai tomar posse no próximo dia 24 de fevereiro. Quanto a Fernando Gomes, o futuro pode vir a passar pelo Comité Olímpico Português.
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