Entrevista. Yuri Ribeiro: "O meu objetivo é ser melhor todos os dias"

por Inês Geraldo, Nuno Patrício - RTP
Yuri Ribeiro tenta dar nova direção à carreira e falou em entrevista à RTP Nuno Patrício - RTP

Encontra-se sem clube mas as propostas estão a chegar. Tanto do estrangeiro como de Portugal. Yuri Ribeiro foi produto da formação do Benfica, clube pelo qual diz ter "enorme carinho" e deixou elogios a um Rio Ave "acolhedor". Nas últimas duas épocas esteve no Championship, II divisão inglesa, a representar o Nottingham Forest, clube histórico de Inglaterra. Aos 24 anos diz querer, em entrevista à RTP, ser sempre melhor com a Seleção Nacional como objetivo maior no futuro.

Já há alguma proposta em cima da mesa. Já há clubes que querem os teus préstimos para a próxima temporada?

Yuri Ribeiro: Existem algumas propostas, sobretudo no estrangeiro. Começam a aparecer algumas propostas em Portugal. Neste momento ainda não sei o meu futuro, estou a avaliar algumas delas [propostas] com a perfeita noção de que a escolha que eu fizer vai ser a melhor escolha.

Preferes continuar a jogar no estrangeiro ou há preferência por regressar a Portugal?

Yuri Ribeiro: Estas duas épocas no estrangeiro mostraram-me que há muita qualidade lá fora, num campeonato muito competitivo com o Championship e eu não descartaria um campeonato tão valioso mas voltar a Portugal também não está fora de hipótese, porque adoro o meu país, como todos os portugueses. Temos um campeonato muito competitivo, com jogadores muito valiosos, equipas que sabem valorizar os jogadores de futebol e por isso nunca vou descartar Portugal por que como disse temos excelentes equipas, excelentes treinadores com jogadores muito valiosos.


Falemos da tua experiência no Nottingham Forest, um histórico de Inglaterra. Como foi representar um clube com tanta história?

Yuri Ribeiro
: Quando soube do interesse do Nottingham fiquei muito feliz. Obviamente que o Nottingham de agora é diferente do de antigamente mas quando assinei senti o peso da Liga dos Campeões e é aí que começas a perceber um pouco da história. Também comecei a procurar mais informação sobre o clube e tive a noção de que é um clube com uma história incrível e fiquei muito feliz de representar o Nottingham. Foram duas épocas excelentes, duas épocas muito produtivas, com um nível de jogo que eu pretendia depois de uma época não tão boa no Benfica. Fiz também boas amizades e isso no futebol também vale muito.

Como é que defines a competitividade no Championship? Apesar de ser uma segunda divisão como é que defines a intensidade de jogo nessa liga?

Yuri Ribeiro
: A intensidade é muito alta. Todos os jogos têm uma intensidade que só quem lá está dentro de campo consegue perceber. A equipa que está em primeiro lugar consegue perder com a equipa está em último. Quando, por exemplo, uma equipa vem da League One (terceira divisão inglesa) e chega ao Championship, se for um clube com uma estrutura sólida, com jogadores com qualidade e que pretendem subir nas suas carreiras consegue chegar à Premier League. É um campeonato muito competitivo, com jogadores muito valiosos, em termos físicos é muito forte e é um excelente campeonato.

Que diferenças encontras do Championship, segunda divisão inglesa, para a Primeira Liga Portuguesa?

Yuri Ribeiro: Quando saí há dois anos para Inglaterra, continuei a acompanhar o nosso campeonato e as diferenças que vejo prendem-se com a intensidade. No Championship há uma intensidade muito alta, muito parecida à da Premier League, muitas vezes vemos os jogos e conseguimos perceber isso. O nosso futebol é muito de posse, vejo as equipas a sair muito pelo guarda-redes, a ter uma cultura de posse de qualidade. No Championship, as primeiras sete, oito equipas são desse registo, gostam de ter mais posse de bola, gostam de apresentar um futebol bonito. As restantes equipas jogam um futebol mais direto, que vai muito para o físico.

E a grande diferença que vês dessas equipas do Championship para, por exemplo, as equipas do meio da tabela de Portugal?

Yuri Ribeiro: Vejo diferenças em termos de intensidade, se uma equipa do meio da tabela jogasse com qualquer equipa do Championship ia sentir muita dificuldade naquilo que são os níveis de intensidade, são níveis muito altos. Em termos de qualidade, qualquer equipa em Portugal tem qualidade mas no Championship também existe muita qualidade. Um qualquer jogador que esteja a competir para não descer de divisão, pode no ano a seguir estar a disputar a Premier League.


Temos vários portugueses a jogar na Premier League e Championship. Como é que vês o sucesso do jogador português em Inglaterra?

Yuri Ribeiro: O sucesso do jogador português em Inglaterra está à vista de todos. A maior parte dos jogadores que foram para lá conseguiram ter sucesso e isso deve-se muito à qualidade que nós temos na nossa formação e isso mostra a capacidade do nosso país. Em Portugal, todos os anos, são apresentadas novas gerações com muita qualidade e isso está à vista de todos.

E sentes que em Inglaterra têm essa ideia de sucesso do jogador português?

Yuri Ribeiro
: A ideia que o jogador inglês tem sobre o português prende-se muito com o gostar de jogar, gostar de um futebol bonito. Porque o jogador inglês, apesar de ter qualidade, vive muito do aspeto físico. Nós olhamos mais para a qualidade porque gostamos de um futebol de posse, gostamos de nos sentir felizes com a bola e o jogador português tem isso. Chegam a um campeonato inglês em que é necessário ter uns níveis de intensidade muito altos e se conseguirem ter esses níveis, depois a qualidade vai falar por si e é isso que vemos a acontecer. Por exemplo, o caso do Bruno Fernandes, que chega a Inglaterra e apesar do destaque que teve no Sporting, conseguiu destacar-se da mesma maneira numa equipa como o Manchester United, que é uma das melhores equipas do mundo. Isso demonstra a qualidade que nós temos. Estando os índices de intensidade tão bem comos de qualidade o resto fala por si.

Como viste a prestação de Portugal, campeão europeu em título, no Euro 2020?

Yuri Ribeiro
: Penso que como a maior parte dos portugueses fiquei um pouco desiludido por ver que temos uma grande seleção e não conseguimos atingir o nível que nós queríamos. Temos também de olhar para o passado, conseguimos ganhar o Campeonato da Europa. Este ano não conseguimos atingir nem metade do que todos os jogadores pretendiam mas falar de fora é fácil. Nem imagino a frustração que a maior parte dos jogadores sentiram e no último jogo com a Bélgica faltou uma pontinha de sorte porque falhámos alguns lances ma com as gerações que estão a vir e com os jogadores que estão na nossa seleção só temos que estar optimistas para o futuro.

Já jogaste na seleção de sub-21. Como é que viste a prestação portuguesa no Euro de sub-21?

Yuri Ribeiro: Acompanhei a maior parte dos jogos dos sub-21 e posso dizer que podemos estar optimistas para o futuro porque de facto é uma geração incrível, alguns deles coincidiram com a minha geração, no caso 1999. Têm mesmo muita qualidade, no último jogo podia ter caído tanto para a Alemanha como para Portugal, caiu para a Alemanha mas temos de estar muito optimistas para o futuro.


Consegues fazer uma previsão que jogadores daquela equipa [de sub-21] vão estar de certeza na Seleção A nos próximos anos?

Yuri Ribeiro
: É difícil dizer porque há muita qualidade. Um exemplo real: o Diogo Dalot. Neste último Europeu de sub-21 foi titular em todos os jogos e depois com a lesão [por covid] do João Cancelo teve oportunidade de ir à Seleção A e no último jogo com a Bélgica conseguiu jogar. Ele é um de muitos que vão ter a oportunidade, porque como disse, aquela geração tem bastante qualidade e o Diogo Dalot é um deles.

12 - A médio e longo prazo quais são os teus grandes objetivos para a tua carreira?

Yuri Ribeiro
: Todas as épocas traço objetivos e esses recaem quase sempre sobre a minha evolução enquanto jogador e enquanto pessoa. A meu ver, todos os jogadores têm de evoluir não só em relação àquilo que é o seu rendimento dentro de campo mas também fora dele. Se formos muito profissionais e estivermos sempre focados naquilo que é o nosso trabalho, vamos passar isso para dentro de campo e assim é que são construídas boas equipas, bons grupos. O meu objetivo é melhorar todos os dias. É óbvio que tenho o objetivo de ir à seleção, porque todos os jogadores da minha idade se disserem que não, estarão a mentir. Tenho os objetivos bem definidos: evoluir sempre, época, após época, e depois as coisas virão a seu tempo.

13 – Fizeste formação no Benfica. Gostavas de regressar e porque é que não resultou a tua estadia na equipa principal?

YuriRibeiro
: Tenho um grande carinho pelo Benfica, porque foram sete anos ligado a um clube tão grande. O Benfica ajudou a tornar-me um grande homem porque cheguei com 15 anos, fui emprestado uma época ao Rio Ave, onde tive uma grande evolução e regressei novamente ao Benfica. Não consegui ter o rendimento que eu pretendia graças, também, ao meu concorrente direto, que era o Grimaldo e que fez uma das melhores épocas de sempre da sua carreira. Mesmo assim consegui evoluir, consegui ajudar o meu colega de posição a fazer uma das melhores épocas de sempre e isso leva-me a pensar que não andava a facilitar nos treinos e exigia ao meu colega que fizesse o máximo que conseguisse e um dia, quem sabe, posso voltar a representar o Benfica. Os meus olhos estão no presente, melhorar época após época e depois logo se vê.

14 – Que ensinamentos retiraste do empréstimo que tiveste no Rio Ave, clube onde tiveste números interessantes?

Yuri Ribeiro: Retirei muitos ensinamentos. Apanhei um treinador, o Miguel Cardoso, de quem gostei muito, tanto em termos de treino como em termos pessoais. Só tenho coisas boas a dizer sobre ele e foi um treinador que me ajudou muito a evoluir, tal como os meus colegas, porque quando falamos em equipas com bons grupos de trabalho só posso referir o Rio Ave, porque apanhei um grupo excelente, fiz amizades para a vida e só posso falar bem do Rio Ave porque é um clube acolhedor, com excelentes profissionais. Tenho pena pelo facto de este ano terem descido de divisão mas que voltem rápido à I Liga porque é o lugar deles.


15 – Falemos de referências. Entre treinadores e jogadores. Quem é que destacas?

Yuri Ribeiro
: A nível de jogadores gosto sempre de analisar os que jogam na minha posição. Gosto muito do Jordi Alba, acompanho muito o Barcelona e neste Europeu a Espanha e vejo o Jordi Alba como um jogador de referência. Criei várias amizades no futebol e tenho vários jogadores que são referências pelo que eles são fora do campo. A nível de treinadores tenho muitos, se individualizar estaria a ser injusto com alguns.

16 – Não há um que queiras individualizar, que tenha sido verdadeiramente marcante?

Yuri Ribeiro
: Há uma pessoa que refiro muito o nome: é o mister Renato Paiva que apanhei nos Juvenis em que estivemos duas épocas juntos. Na minha formação, fora mos dois anos em que tive uma maior evolução porque vinha do contexto do Braga. Agora tem uma formação que está a melhorar mas que nada tinha a ver com o Benfica e foi ele que me ajudou a melhorar muito. Posso também falar apo nível de seleções do Mister Emílio Peixe por quem tenho muito carinho e o Rui Jorge também. Para mim tem muito potencial e pode chegar a um nível muito elevado. Não esqueço as pessoas que me levaram para o Sporting de Braga e que depois me levaram para o Benfica, no caso o Mister Nuno e Mister Miguel Costa, estavam onde comecei, no caso a escola de futebol Os Craques. Mas lá está, já estou a individualizar e há muitos que não refiro aqui mas são muito importantes na minha carreira.

17 – Tens família envolvida no futebol. O teu pai foi guarda-redes e o teu irmão também joga. Que conselhos te dão para continuares a tua carreira e fazeres cada vez melhor?

Yuri Ribeiro
: O meu pai, apesar de sempre se preocupar comigo, deixou-me sempre à vontade. Quando ia ver os jogos ele não dizia o que quer que fosse. Quando terminava um jogo e chegava ao carro ele não me falava da partida. Foi sempre muito de deixar, de eu aproveitar e só tenho a agradecer ao meu pai e à minha mãe porque, de facto, a educação que me deram e passo isso para dentro do campo. Posso ser mais agressivo mas isso parte da minha vontade mas só tenho a agradecer a educação que me deram. O meu irmão também passou pelo Benfica e os conselhos que ele me vai dando também me ajudam muito. São três pessoas por quem tenho muito carinho, tal como a minha namorada que está presente em todos os momentos e fazem parte daquilo que é o meu sucesso.
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