Andrés Iniesta, o maestro prodigioso

por Inês Geraldo - RTP
Iniesta venceu a Taça do Rei no último sábado Kiko Huesca - EPA

“É a minha última temporada no Barcelona, já não podia dar o melhor de mim”. Foi assim que Andrés Iniesta anunciou que está de saída do FC Barcelona, 22 anos depois de ter entrado para as escolas de La Masia e se ter tornado num dos melhores jogadores espanhóis de sempre. Titular e capitão indiscutível nos catalães, o médio de 33 anos foi também o grande herói da seleção espanhola na conquista do Mundial de 2010, na África do Sul. Prodigioso com a bola nos pés, mostrou também classe e sobriedade fora de campo e deixa um legado insubstituível no Camp Nou.

A decisão já era esperada há dias mas Iniesta tornou-a oficial. O grande maestro do Barcelona anunciou que está de saída de uma casa que foi sua por mais de duas décadas. Foi numa conferência de imprensa apinhada que o jogador, lavado em lágrimas, revelou que saía com o desejo de continuar a ser útil.

“Foi uma decisão pensada a nível interno e familiar. Depois de 22 anos sei o que significa ser jogador desta equipa, para mim a melhor do mundo. Sei o que significa a exigência de jogar ano após ano, sei o que é ser capitão deste clube”.

Visivelmente emocionado, Iniesta revelou que quis ser honesto consigo próprio e que sai por acreditar que já não pode dar o melhor de si, física e mentalmente, a um clube que o acolheu ainda criança.


Foto: Enric Fontcuberta - EPA

“Sendo honesto comigo próprio e com o Barcelona, que me deu tudo, entendo que a minha etapa termina este ano porque este clube, que me acolheu com 12 anos, merece o melhor de mim como fiz até agora. No futuro mais próximo não poderia dar o melhor de mim em termos físicos e mentais”.“É um dia muito difícil e dizer adeus à minha casa à minha vida é complicado. No entanto, pela natureza e lei da vida… Não me perdoaria viver uma situação incómoda no clube. Não a mereço e o Barcelona também não”.

Iniesta justificou a decisão por sentir que o Barcelona merecia a sua melhor faceta em campo e o jogador revelou que a terminar a carreira no Camp Nou, seria da maneira como anunciou esta sexta-feira – sentindo-se útil e ganhar títulos.

Como foi sempre seu apanágio, o médio agradeceu aos companheiros de equipa, ao clube e aos adeptos o trajeto que teve em Barcelona, realçando o respeito e carinho que sentiu ao longo de mais de duas décadas.

Uma história de 22 anos recheada de triunfos. Foi mago dentro de campo, Louis Van Gaal deu-lhe a batuta numa equipa que criou história e vai ser coroada com uma das melhores de sempre no universo futebolístico.


Foto: Iniesta em 2004 - Reuters

Foi com Lionel Messi e Xavi Hernández que Andrés Iniesta teve uma das melhores triplas algumas vez vistas em campo. Uma trindade perfeita no Camp Nou que redundou em mais de 30 títulos.

Questionado sobre onde iria jogar, Iniesta não revelou o clube mas disse que a Europa estava fora de questão por não querer defrontar o seu clube de sempre.

“O Barcelona e eu demos tudo. Estou aqui e sinto-me orgulhoso, em paz comigo mesmo. O meu único objetivo era triunfar neste clube e consegui fazê-lo. Não há nada que ma faça mais feliz”.
Era de ouro no Barcelona
Foram 16 anos passados na equipa principal do Barcelona mas antes chegou a La Masia vindo do Albacete, depois de se ter destacado num torneio. Com apenas 19 anos, Louis Van Gaal estreou-o numa equipa que viria a tornar-se lendária.

Passaram Frank Rijkaard, Pep Guardiola, Tito Vilanova, Luis Enrique e Ernesto Valverde e nem por isso Iniesta perdeu estatuto, muito pelo contrário. Numa era dourada que teve início com Rijkaard, Iniesta foi uma das partes fulcrais do Tiki-Taka de Pep Guardiola, continuador do trabalho do técnico holandês.


Iniesta tratou a bola como poucos. Uma visão estratosférica do campo, o médio fez de Lionel Messi um dos melhores jogadores de sempre. Irrepreensível na técnica, deixou muitos adversários para trás com a maior simplicidade e marcou sempre que foi necessário.

Passados mais de 15 anos, são mais 30 os títulos que Iniesta conta no palmarés e apenas no FC Barcelona. Foram oito Ligas Espanholas, seis Taças do Rei e sete supertaças espanholas.

Aos títulos domésticos, Iniesta juntou-lhe dez títulos europeus e mundiais. Quatro Ligas dos Campeões (2006, 2009, 2011 e 2015). No fim de contas, já são mais de 650 os jogos que leva pela camisola blaugrana. Em todas essas ocasiões marcou 57 golos.
Herói da Seleção Espanhola
Com uma ascensão rápida na equipa do Barcelona pouco demorou até Iniesta estrear-se com as cores espanholas da seleção. Foi frente à Rússia que o médio participou pela primeira vez numa partida de La Roja e acabou por ser convocado para o Mundial de 2006, na Alemanha.

Participou no certame mas seria em 2008 que viria a primeira alegria. Na final do Europeu, frente à Alemanha, Iniesta festejou o primeiro título pela seleção, depois de um golo solitário de Torres.

No entanto, o melhor estaria para vir. A 11 de julho de 2010 Iniesta seria o herói da nação espanhola.



Final do Mundial da África do Sul frente à Holanda. Robben falhou, Iniesta não perdoou. Aos 117 minutos, após passe de Fabregas, o médio ficou sozinho na área e com Stekelenburg pela frente, rematou com sucesso para a baliza da Laranja Mecânica.

Celebração geral em Espanha e festejo sentido de Iniesta que recordou o falecido Dani Jarque, com uma mensagem emotiva na camisola. Passadas duas horas de jogo, uma geração de ouro da seleção espanhola fez a festa com o título mais importante da sua história.

Em 2012, o bicampeonato europeu. Depois de uma meia-final sofrida frente a Portugal, uma partida sublime contra a Itália na final. Resultado de 4-0, 87 minutos em campo, e terceiro título conquistado pela La Roja.


Foto: Iniesta festeja o golo que deu o Mundial à Espanha, em 2010 - Reuters

Iniesta representou a seleção espanhola em 125 ocasiões e marcou 14 golos. Foi tão crucial no Barcelona como por Espanha, tendo, inclusivamente, marcado o golo mais importante da história do futebol do país vizinho.

Com 33 anos Iniesta anunciou a despedida do Barcelona. Não revelou onde vai jogar mas admitiu que gostaria de ser recordado “como uma grande futebolista e uma grande pessoa”.

Com uma carreira recheada de sucessos e com uma personalidade admirada por milhões em todo o mundo, Andrés Iniesta será recordado como um dos melhores jogadores espanhóis de todos os tempos.
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