Nove vezes Ogier

O francês Sébastien Ogier (Toyota Yaris) cimentou um lugar na História dos desportos motorizados ao conquistar o nono título mundial de ralis (WRC), algo só conseguido pelo compatriota Sébastien Loeb (de 2004 a 2012).

RTP /
ZUMA Press Wire via Reuters Connect

Num ano em que já se tinha tornado no mais vitorioso de sempre no Rali de Portugal, com o sétimo triunfo, reacende, agora, a discussão sobre qual o melhor piloto de ralis de sempre.

Soma a conquista deste aos títulos alcançados em 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2020 e 2021, sendo campeão com três marcas diferentes (VW, de 2013 a 2016, Ford, em 2017 e 2018, e a Toyota em 2020, 2021 e 2025), replicando o finlandês Juha Kankkunen, campeão com Peugeot (1986), Lancia (1987 e 1991) e Toyota (1993).

A conquista deste ano foi ainda mais surpreendente pois Ogier, de 41 anos, está em pré-reforma desde a conquista do oitavo título, em 2021, pois abdicou da profissão de piloto a tempo inteiro para se dedicar à família, fazendo aparições esporádicas no Mundial de Ralis (WRC).

Já em 2024, com três vitórias entrou na luta pelo título mesmo falhando três rondas, tal como este ano (Suécia, Quénia e Polónia), acabando por disputar as últimas seis provas do campeonato, que fechou na quarta posição.

Em 2025, no entanto, a ponta final do campeonato foi demolidora para a concorrência e conseguiu reverter a ausência de pontos na Suécia, Quénia e Estónia, vencendo três das cinco provas finais (falhou o triunfo apenas no Centro Europeu, depois de se despistar quando liderava, e hoje na Arábia Saudita), ultrapassando um défice teórico de 105 pontos (35 pontos por prova).

Ao todo, foram seis as vitórias conseguidas este ano (Monte Carlo, Portugal, Itália, Paraguai, Chile e Japão) em 14 provas, sendo que Ogier só disputou 11, pelo que venceu mais de metade dos ralis em que participou.

Desde que passou a presença esporádica, soma 13 triunfos, pois já havia somado um em 2022 (Espanha), três em 2023 (Monte Carlo, México e Quénia) e três em 2024 (Croácia, Portugal e Finlândia).

Curiosamente, Ogier apenas não conseguiu ser campeão com a Citroën, a marca que o lançou no mundo dos ralis, da qual saiu em 2012, por se sentir tapado por Loeb, e à qual voltou em 2019 com o objetivo de ser campeão, após seis títulos consecutivos.

No entanto, o casamento com a marca francesa não resultou e durou apenas um ano, tendo antecipado o divórcio, trocando o duplo Chevron pela japonesa Toyota, onde foi ocupar o lugar deixado vago pelo recém-campeão Ott Tanak.

Cada vez mais longe da sombra do compatriota, Ogier distingue-se pelo trato fácil e simpatia, igualando os dotes na condução. Casado com uma apresentadora alemã de televisão, com quem tem um filho de oito anos, tem na família um importante suporte.

O piloto gaulês, que foi ginasta na adolescência, explicou que "uma das razões para deixar o Mundial foi para passar mais tempo em família". Outra era a de cumprir o sonho de correr nas 24 Horas de Le Mans, que realizou em 2022, terminando em 13.º na geral e nono dos LMP2.

O amor pela competição começou a ver os troços do rali de Monte Carlo, que passam literalmente à porta de casa. Trabalhou como mecânico e instrutor de esqui, antes de ver as portas dos ralis abrirem-se numa formação de preparação de carros de competição.

Como a equipa para a qual trabalhava já participava no Rally Jeunes, prova de captação de talentos, um dia decidiu inscrever-se. Foi quanto bastou para começar a fazer história.

Daí ao Mundial de Juniores foi um ‘passinho’, que o fez aterrar na Citroën Junior Team em 2009.

Alcançou a primeira vitória no ano seguinte, precisamente em Portugal, causando espanto por ter batido o então incontestado Loeb.

O triunfo no Algarve levou os responsáveis da Citroën a colocarem um carro oficial nas mãos do seu jovem pupilo na segunda metade do campeonato de 2010 e Ogier não desiludiu, tendo vencido no Japão e terminado em segundo lugar no difícil Rali da Finlândia.

Em 2011, venceu cinco provas, reeditando o sucesso em Portugal, mas terminou o Mundial no terceiro lugar. A convivência com Loeb não foi pacífica e Ogier deixou a Citroën no fim da temporada, por considerar que nunca poderia ser campeão enquanto o compatriota estivesse na equipa.

Ogier apostou na Volkswagen e no desenvolvimento do Polo R WRC, que apenas faria a estreia oficial na época seguinte, o que o levou a participar no campeonato de 2012 ao volante de um pouco competitivo Skoda Fabia S2000, tendo como melhor resultado um quinto lugar, na Itália.

A entrada da Volkswagen no Mundial de Ralis, em 2013, não poderia ter sido mais triunfante, com Ogier a vencer nove das 13 provas, beneficiando do facto de Loeb ter participado apenas em ‘part time', ainda assim impondo-se em dois dos quatro ralis que disputou.

Ogier e a Volkswagen prolongaram o sucesso nos três anos seguintes, em 2014, 2015 e 2016, até que o surpreendente abandono da competição por parte da marca alemã levou o francês a procurar uma nova ‘casa', optando pela M-Sport, sempre com o compatriota Julien Ingrassia como copiloto do Ford Fiesta.

Sem perspetivas de evolução, em 2019 regressou à Citroën, sem sucesso.

Ameaçou com o final de carreira para se ver livre do contrato com os franceses e acabou por rumar à Toyota, órfã de Tanak.

Em 2021, conquistou o oitavo título mundial, ficando a um do recorde de Loeb.

A pandemia levou o piloto natural de Gap a adiar a ideia de reforma, prevista inicialmente para o final de 2020, renovando por mais um ano com a equipa nipónica. 

Desde 2022, tem feito aparições esporádicas em provas do Mundial de Ralis, continuando a somar vitórias. Hoje, com a conquista do nono título mundial mostrou que o 10.º pode não ser uma miragem.

Este sábado, na Arábia Saudita, a vitória sorriu ao belga Thierry Neuville (Hyundai i20), primeira da temporada para o campeão de 2024, que aproveitou uma penalização de um minuto sofrida por Adrien Fourmaux (Hyundai i20) na sexta-feira para vencer, com 54,7 segundos de vantagem para o infeliz gaulês, com Ogier a fechar os lugares do pódio, a 1.03,3 minutos.

"Que luta com o Elfyn [Evans] e o Scott [Martin], honestamente. Só existe um grande campeão quando se tem um grande adversário, e eles foram extremamente fortes, levando-nos ao limite até à última especial do ano. Parabéns a eles, de qualquer forma, e a toda a equipa Toyota Gazoo Racing. Tem sido uma época de enorme sucesso. Orgulhoso e muito feliz por fazer parte desta família", sublinhou Ogier, de 41 anos.

O piloto francês partiu para esta última jornada com três pontos de atraso sobre Elfyn Evans (Toyota Yaris), mas o piso duro e com muitas pedras soltas que os pilotos encontraram na Arábia Saudita, em estreia no Mundial de Ralis (WRC), transformou a disputa numa autêntica lotaria, com os furos a sucederem-se.

Foi o que continuou a acontecer no sábado, último dia de prova. O letão Martin Sesks (Ford Puma) sofreu dois na penúltima classificativa, e acabou mesmo por desistir.

O japonês Takamoto Katsuta (Toyota Yaris) cometeu um erro, capotou e terminou com o seu carro bastante danificado e com o navegador a segurar o para-brisas com o pé.

O finlandês Kalle Rovanperä (Toyota Yaris), que no sábado tinha terminado na frente de Ogier por apenas duas décimas de segundo, hoje voltou a furar e perdeu o quinto lugar.

Com tantos problemas, Ogier escalou de sexto ao terceiro posto, deixando Evans sem grandes opções de conquistar o primeiro título da carreira.

O ultimo troço, que valia cinco pontos, era apenas uma formalidade. Evans, num assomo de honra, atacou e venceu, batendo Ogier por 7,2 segundos.

Uma vitória insuficiente para contrariar a vantagem pontual do francês, que fechou o campeonato com 293 pontos, mais quatro do que o piloto britânico.

Kalle Rovanperä despede-se do campeonato com o sétimo lugar e segue para o campeonato japonês de monolugares, com o objetivo de tentar uma vaga na Fórmula 1.

Ogier consegue, finalmente, aos 41 anos, igualar Loeb e logo numa temporada em que esteve a tempo parcial, tal como acontece desde 2021.

O francês não participou em três provas (Suécia, Quénia e Europa Central), mas venceu seis dos 11 ralis em que participou (incluindo o de Portugal, para além de Monte Carlo, Itália, Chile, Paraguai e Japão).

Foi o piloto que mais classificativas venceu ao longo da temporada.

Já Elfyn Evans, terminou na segunda posição do campeonato pela quinta vez na carreira.

Sem Rovanperä, o volante do Yaris passará para o sueco Oliver Solberg, filho do antigo campeão Petter Solberg (2001). Oliver Solberg terminou a época como campeão do WRC2.

O navegador francês Vicent Landais, que acompanha Ogier desde 2022, tornou-se campeão pela primeira vez.

A Toyota conquistou o Mundial de Construtores.

(Com Lusa)
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