Alemanha admite missão militar em zona de segurança no nordeste da Síria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Annegret Kramp-Karrenbauer, ministra da Defesa da Alemanha e líder da CDU Reuters

Berlim apoiará a criação de uma zona de segurança no nordeste da Síria, sob vigilância de uma força internacional, com a participação eventual de tropas alemãs. A sugestão foi deixada pela ministra alemã da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, aos microfones da televisão alemã ZDF.

"Não podemos ficar a olhar sem fazer nada", disse Kramp-Karrenbauer, líder dos cristãos-democratas da CDU e provável sucessora da chanceler Angela Merkel.

O nordeste da Síria tem sido palco nas últimas semanas de confrontos entre tropas turcas e forças curdas-sírias, que levaram à fuga de milhares de civis perante a inação ocidental.

"A minha sugestão é criar uma zona de segurança controlada internacionalmente e envolvendo a Turquia e a Rússia", precisou Kramp-Karrenbauer.

A proposta da responsável política pela área da Defesa vai ao encontro das exigências turcas, mas não deixa de ser surpreendente, já que rompe com a tradição alemã de não participar em missões armadas fora da Alemanha, particularmente no Médio Oriente, devido ao legado deixado pela Segunda Guerra Mundial.

O envolvimento alemão poderá contudo acalmar os protestos da comunidade curda na Alemanha, composta por cerca de um milhão de pessoas e que protestou veementemente na rua contra a ofensiva turca.
SPD torce o nariz
A ministra alemã afirmou que irá apresentar esta semana a ideia aos seus parceiros da NATO e admitiu a inclusão nela de forças alemãs, desde que o Parlamento autorize.

Para Kramp-Karrenbauer, a iniciativa deverá estabilizar a região e permitir a milhares de civis regressar voluntariamente a casa.

A proposta foi mal acolhida pelos parceiros de coligação do Governo alemão, os social-democratas do SPD, que não querem envolvimento militar.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, o social-democrata Keiko Maas, falou da ideia com ceticismo e exigiu mais detalhes, como o papel a desempenhar pelos soldados alemães, antes de se pronunciar.

Maas preferiu sublinhar os esforços diplomáticos alemães numa solução para a Síria, assim como no auxílio humanitário às populações, mas não chegou contudo a rejeitar totalmente a proposta de Kramp-Karrenbauer.
Merkel de acordo
A ideia da ministra alemã da Defesa conseguiu apesar disso um apoio de peso.

Angela Merkel, de acordo com fontes próximas, descreveu-a como "muito promissora, mesmo se persistem muitas questões em aberto”, durante uma reunião à porta fechada do grupo parlamentar da CDU.

A chanceler sublinhou que irá apresentar a iniciativa quando se reunir com o Presidente francês Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan, à margem da comeira da NATO marcada para três e quatro de dezembro, perto de Londres.

Angela Merkel garantiu ainda que nada será feito sem “um mandato das Nações Unidas”. “Temos o dever de encontrar soluções para a crise”, afirmou aos deputados do seu partido.
Tréguas cumpridas
A Turquia quer transformar uma faixa com mais 440 quilómetros quadrados, em território sírio, numa zona desmilitarizada, para impedir as forças sírias-curdas locais de apoiar as suas congéneres turcas do PKK.

Há quase três semanas, Ancara aproveitou a retirada das forças norte-americanas para iniciar uma ofensiva militar no noroeste da Síria, de forma a expulsar dali as milícias curdas YPG e FDS, e conseguir a sua zona de segurança.

A iniciativa provocou grandes protestos das comunidades curdas na Europa, particularmente em França e na Alemanha.

Um acordo de cessar-fogo foi entretanto estabelecido quinta-feira passada entre o Presidente turco Tayyip Erdogan e os EUA, para dar tempo às forças curdas de recuarem.

Duas horas antes do fim do prazo de cinco dias, estas garantiram esta terça-feira a Washington que “já cumpriram totalmente o acordo de tréguas” e que retiraram da área exigida.


Falta agora uma solução que evite o regresso da violência.
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