Caso Khashoggi. Jornais norte-americanos boicotam cimeira saudita sobre investimento

por Andreia Martins - RTP
O príncipe saudita Mohammed bin Salman participou na primeira edição da conferência em 2017 Hamad I Mohammed - Reuters

São vários os meios de comunicação e entidades que já anunciaram que não vão participar na cimeira sobre o investimento que tem lugar no final do mês de outubro em Riade. O Banco Mundial, a CNN, Financial Times, a Bloomberg e o jornal The New York Times são alguns dos nomes de peso que se retiraram do apoio a esta conferência, na sequência do caso de desaparecimento e possível assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi.

Uma conferência global ao mais alto nível sobre investimento corre agora o risco de se tornar um fiasco na sequência do desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi.  

A Future Investment Initiative (FII), lançada no ano passado, é organizada pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita e conta com o apoio do príncipe Mohammad bin Salman.  

No site oficial pode ler-se que a conferência é “uma plataforma de debate, discussão e parcerias entre os líderes mais influentes” do mundo. O Financial Times recorda que o evento ficou conhecido como uma reunião de “Davos no deserto”.  

No entanto, o evento terá agora de decorrer sem alguns parceiros de peso, como é o caso do Banco Mundial. Vários meios de comunicação, incluindo o Financial Times, o New York Times, a Bloomberg, a CNN e a CNBC deixaram de ser patrocinadores da conferência, na sequência do desaparecimento de Jamal Khashoggi.  
 
O jornalista saudita colaborava com o jornal The Washington Post e era frequentemente muito crítico do poder de Riade. Desde 2 de outubro que se encontra em paradeiro desconhecido.  
 
Nesse dia, Khashoggi deslocou-se ao consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, para tratar da documentação necessária para o casamento com a namorada, de nacionalidade turca.  
 
A Arábia Saudita garante que nada se passou dentro do consulado, mas esta sexta-feira funcionários do Governo turco veio afirmar que dispõe de gravações em áudio e em vídeo que comprovam a tortura e morte de Jamal Khashoggi às mãos de agentes de segurança saudita.  
 
Na sequência da polémica em volta deste caso, vários nomes relevantes a nível global já anunciaram o boicote à conferência. Entre eles estão ainda a empresária Arianna Huffington, Andy Rubin, criador do sistema operativo Android, ou Zanny Minton Beddoes, editor-chefe da revista The Economist.  
 
Dara Khosrowashahi, chefe executivo da Uber, foi outro dos nomes que se demarcaram da conferência, uma situação que poderá levar a perdas importantes para a empresa. É que a Uber tem obtido avultados investimentos em Riade, particularmente do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita.  
 
No entanto, a organização conta ainda com Christine Lagarde como conferencista, num momento em que a diretora-geral do FMI ainda não esclareceu qual o posicionamento perante os recentes eventos.  
 
Outra participação de peso que se mantém é a do secretário norte-americano do Tesouro, Steven Mnuchin. “Até agora estou a planear em ir [à conferência]. Se mais surgir mais informação, poderemos olhar a isso”, afirmou esta sexta-feira.   Incómodo ocidental 

Na quinta-feira, o Presidente norte-americano Donald Trump descartou a hipótese de aplicar sanções à Arábia Saudita na sequência do caso Khashoggi.
 
“Eles gastam 110 mil milhões de dólares em equipamentos militares e em outras coisas que criam empregos no nosso país. Não gosto da ideia de fazer parar as grandes quantidades de dinheiro que estão a ser despejadas no nosso país”, afirmou.  

Dilema semelhante enfrenta o Governo francês, uma vez que a Arábia Saudita é uma das maiores clientes da indústria de armamento francesa. Esta sexta-feira, Emmanuel Macron exigiu saber “toda a verdade” sobre o desaparecimento do jornalista.  

Em declarações às rádios francesas RFI e France 24, o chefe de Estado francês classificou o assunto como “muito grave” e salientou que o assunto ainda não foi debatido com as autoridades sauditas ou com o Presidente turco.

Na Alemanha, país que até se tinha reaproximado muito recentemente de Riade após a resolução de um conflito diplomático, o porta-voz de Angela Merkel, Steffen Seibert, referiu hoje que a suspeita de tortura e assassinato é “aterradora”. “Este desaparecimento tem que ser esclarecido tão rápida e rigorosamente quanto possível”, afirmou. 
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