O coordenador de Políticas de Logística e Fogos Florestais deste Mecanismo Europeu está também em Portugal. João Silva é o oficial de ligação da Comissão Europeia no terreno, na Base de Monte Real.
Em conversa com a Antena 1, João Silva explicou como está a correr esta cooperação, como funciona este Mecanismo Europeu e que tipo de meios pode a União Europeia enviar - disponibilizados por outros Estados-Membros - para responder aos pedidos de ajuda em situações de catástrofe.
João Silva - Oficial de ligação da Comissão Europeia no terreno, na Base de Monte Real
Os oito aviões de combate a incêndios estão a atuar em Portugal desde a passada terça-feira. Como é que está a decorrer esta operação?
Esta operação, pela nossa parte, está a decorrer bem. A ativação foi extremamente rápida, pela parte de Portugal na segunda-feira, e na terça-feira já tínhamos aqui módulos ao abrigo do Mecanismo Europeu de Proteção Civil.
Neste momento temos oito canadair a operar ao abrigo deste Mecanismo, sendo que seis estão aqui na base de Monte Real e dois espanhóis a operar a partir de Salamanca, por uma questão de logística e de maior facilidade.
Mas no total temos oito Canadair ao abrigo do Mecanismo, mais as equipas, portanto, um total aqui, em Monte Real, de 40 pessoas a operar em cooperação com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.
O Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia, neste caso, enviou aviões de combate a incêndios, mas não bombeiros?
Ao abrigo do Mecanismo não foram solicitados bombeiros no terreno para esta situação. De facto, estão cá, mas ao abrigo de acordos bilaterais entre Portugal e Espanha.
Mas se por alguma razão, ou se em algum momento Portugal pedir ajuda e especificamente mais bombeiros, a União Europeia, a Comissão, através deste Mecanismo pode enviá-los, como aliás já mostrou disponibilidade para o fazer.
A União Europeia e o Mecanismo têm essa disponibilidade. Eu diria que depois há uma questão operacional a considerar que é a de se tentar perceber se faz sentido, nesta altura, mobilizar equipas porque é mais pesado, logisticamente, do que do que trazer os aviões para Portugal.
Mas é uma questão operacional e uma decisão que deve ser tomada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.
E é importante recordar que é sempre preciso que o Estado-Membro apresente um pedido e especifique que tipo de ajuda quer porque a Comissão Europeia não pode decidir sem esse pedido chegar. Mas quando Bruxelas disponibiliza meios, que os Estados-Membros oferecem para ajudar numa determinada situação, a integração é imediata?
Sim, os meios da União Europeia chegam e são integrados no dispositivo nacional, e depois todas as questões operacionais são decididas pela Autoridade Nacional que toma essas decisões em cooperação, obviamente, com os comandantes e com os chefes de equipa dos módulos da União Europeia.
Não é primeira vez, há bastantes exercícios, há guidelines, e portanto tudo está a correr na perfeição e, até agora, sem incidentes.
E os aviões que chegaram enviados por outros Estados-Membros têm estado a trabalhar todos os dias?
Sim, têm estado a trabalhar todos os dias. A nível operacional, às vezes, não conseguem ir para um determinado sítio por causa da visibilidade, mas essas são situações concretas e implicam decisões tomadas pela Autoridade Nacional em cada momento e em função das condições.
Mas têm estado a operar todos os dias numa média de três missões por dia, portanto, de cada vez saem durante três horas, três horas e meia – quanto mais cedo possível da parte da manhã, a partir das oito e meia, nove horas – e até quase até às nove da noite. Ontem, às nove da noite, estavam a chegar os aviões aqui, a Monte Real.
Deslocar aviões e equipas de um Estado-Membro para o outro tem custos. Esses custos são financiados pela União Europeia?
Os custos são suportados parcialmente pela União Europeia. Em geral, a União Europeia financia 75 por cento dos custos de transporte e dos custos operacionais.
Portanto, há um financiamento comunitário neste tipo de operações e por isso também há interesse, para os Estados-Membros, em se coordenarem, em cooperarem e em trabalharem através do Mecanismo Europeu, tendo em conta também este incentivo financeiro.
Mas também por uma questão de interoperabilidade e de facilidade, como se vê neste caso com a integração de equipas de vários países num cenário muito complexo.
Estes aviões de combate a incêndios chegaram na terça-feira de manhã e vão ficar agora quanto tempo em Portugal?
Neste caso, a solicitação de Portugal foi para um mínimo de 3 dias mas essa é uma decisão que as autoridades nacionais irão tomar, eventualmente mais logo – vai ser preciso ver como corre o dia – sendo que as notícias que temos são as de que a situação está a evoluir favoravelmente – apesar de inda não estar totalmente controlada – e também existe a perspetiva de o mau tempo chegar e ajudar com a chuva.
Mas, portanto, se a situação evoluir favoravelmente, penso que no fim de semana, ou antes do fim de semana, já se poderá começar a pensar nisso. Mas essa é uma decisão que compete à Autoridade Nacional em conjunto com as equipas.
Só para recordar: ao abrigo do Mecanismo Europeu de Proteção Civil e a pedido das autoridades portuguesas, estão agora na base de Monte Real oito aviões de combate a incêndios enviados por Espanha, Itália e França.
Sim, temos aqui um total de oito aviões.
Tivemos também uma oferta da Grécia, que agradecemos mas que por questões operacionais, tivemos que pedir que ficassem em stand by – porque a Grécia também se ofereceu prontamente na segunda-feira após a ativação, mas os aviões apanharam muito mau tempo no caminho e tiveram que voltar para trás – porque entretanto a França disponibilizou mais dois aviões para além dos dois que já cá tinha e, portanto, foi tomada a decisão de pedir aos gregos para ficarem em stand by.
Mas isto também mostra as vantagens deste Mecanismo, a flexibilidade deste Mecanismo Europeu e de toda a grande cooperação – e de excelente cooperação – que se consegue ter nestes momentos.