George W. Bush considera retirada do Afeganistão "um erro"

por Graça Andrade Ramos - RTP
O ex-Presidente dos EUA, George W.Bush em 2019 Reuters

O ex-Presidente dos Estados Unidos George W. Bush, cuja Administração iniciou a guerra internacional contra os taliban e os extremistas islâmicos no Afeganistão em 2001, no seguimento dos ataques do 11 de Setembro, afirmou à Deutsche Welle que teme pelo destino das mulheres afegãs quando as tropas internacionais tiverem saído totalmente do país.

Receio que as mulheres e raparigas afegãs vão sofrer danos inomináveis”, afirmou, mostrando-se ainda preocupado com os tradutores e outras pessoas que trabalharam para as tropas estrangeiras no Afeganistão.

Vão ser simplesmente deixados para trás para ser massacrados por aqueles brutos, e parte-se-me o coração”, lamentou.

O ex-Presidente norte-americano está convencido que a chanceler alemã, Angela Merkel, sente o mesmo quanto à retirada das tropas norte-americanas e da NATO, a qual deverá ficar completa a 31 de agosto. A entrevista rara dada por George W.Bush à DW, na sua casa do Maine, EUA, focou-se na relação que estabeleceu com Merkel logo nos primeiros anos da sua chancelaria.

O apoio da líder alemã à invasão do Afeganistão,  foi em parte também motivado pela opressão exercida pelo regime taliban sobre as mulheres afegãs, afirmou.

“Ela percebeu o progresso que poderia dar-se na situação das jovens raparigas e mulheres no Afeganistão. É incrível como aquela sociedade mudou”, sustentou.

George W.Bush previu resultados terríveis para o país com o eventual regresso da influência taliban devido à retirada. Para o ex-Presidente esta é sem dúvida “um erro”. “Penso que as consequências vão ser incrivelmente más”, referiu.

A maioria dos analistas prevê que a estabilidade mantida pelas tropas ocidentais e os avanços dos direitos das mulheres, incluindo na representação política e no acesso a Educação e a àreas profissionais antes interditas, além da queda de 17 por cento nos casamentos infantis, se irão certamente esfumar com a retirada das tropas.

Os Estados Unidos lideraram ao longo de quase 20 anos um esforço financeiro internacional para  modernizar o Afeganistão, quase todo desbaratado pela corrupção e pelo desvio de fundos.

Apesar de alguns progressos a nível de serviços sanitários, atualmente, o desemprego ronda os 40 por cento e o índice de pobreza atinge os 47 por cento, quando em 2007 era de 36 por cento, de acordo com o Banco Mundial.

Quase metade da população afegã vive com menos de 1.90 dólares por dia, abaixo do nível de pobreza. Milhões ultrapassam-no por muito pouco. A ONU e a Cruz Vermelha dizem que metade das crianças do país corre risco de fome.
Retirada geral ao fim de 20 anos de guerra
As tropas norte-americanas e da NATO começaram a retirar do Afeganistão no início de maio, no seguimento do anúncio de 15 de abril feito pelo atual Presidente norte-americano, Joe Biden. A retirada dos Estados Unidos implicou o fim do apoio logístico providenciado aos outros contingentes e provocou um efeito dominó de saídas.

No final de junho, a Alemanha anunciou que todas as suas tropas tinham deixado o país, tendo encerrado o seu consulado geral em Mazar-i-Sharif no norte do Afeganistão.

A Itália e o Reino Unido também anunciaram o fim da sua missão militar no Afeganistão e a Polónia também já recolheu as suas tropas, assim como Portugal, cujo contingente regressou entre o final de maio e o início de junho.

Joe Biden anunciou na semana passada que a retirada norte-americana, já 90 por cento completa este mês, ficará concluída a 31 de agosto.

As forças taliban aproveitaram a saída das tropas internacionais para conquistar terreno nas áreas rurais, com o exército leal ao Governo de Cabul apoiado pelo Ocidente a entrincheirar-se nas principais cidades e capitais de província.

Terça-feira, os líderes taliban apelaram à rendição das populações urbanas de forma a não terem de encetar ações militares que a comunidade internacional proibiu, sob pena de reverter a retirada.

A liderança taliban procurou ainda sossegar as populações, afirmando que não serão exercidas "viganças".
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