Guerra na Ucrânia vai terminar se preço do petróleo cair, diz Trump. Preocupação com o conflito ou em baixar a inflação nos EUA?

por João Couraceiro - Antena 1
Fotos: Reuters

O presidente dos Estados Unidos defendeu na quinta-feira, durante uma intervenção por videoconferência no Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, a fórmula para o fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Com uma queda nos preços do petróleo, o conflito "terminaria imediatamente", sublinhou. Donald Trump referia-se às exportações de hidrocarbonetos a preços elevados, que têm alimentado a economia e o esforço de guerra russos em quase três anos.

Foi através de Davos que Trump regressou aos grandes palcos internacionais, na primeira intervenção desde que voltou à Casa Branca. O presidente norte-americano responsabilizou a Arábia Saudita e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) pela continuidade da guerra, e disse ter ficado desapontado por não terem ainda reduzido os preços do petróleo, para pressionarem Moscovo a pôr fim ao conflito: "Já o deviam ter feito há muito tempo. São, de facto, muito responsáveis, até certo ponto, pelo que está a acontecer".

O republicano avisou que vai conversar com Riade e com a OPEP para fazerem descer os preços do petróleo.

Mas está o presidente dos Estados Unidos preocupado, sobretudo, com o fim da guerra na Europa? Na leitura do professor de Economia da Universidade de Évora, José Manuel Martins Caetano, trata-se de uma manobra de Trump para tentar resolver o que o deixa realmente alarmado no plano interno: as promessas eleitorais para conter a inflação nos Estados Unidos.

À Antena 1, o especialista em Economia Internacional lembra que "as notícias que vêm em relação ao controlo da inflação nos Estados Unidos são extremamente preocupantes, porque, ao contrário do que se está a passar na União Europeia, as pressões inflacionistas não estão a descer".
A isto, acresce a tensão com a Reserva Federal norte-americana (Fed), que não vai descer as taxas de juro. José Manuel Martins Caetano considera que Trump está agora confrontado com "um enorme problema de perda de credibilidade junto do seu eleitorado".

O docente da Universidade de Évora aponta, ainda assim, que a intervenção do presidente dos Estados Unidos em Davos já "produziu algum efeito, porque os preços do petróleo, desde a declaração, esta quinta-feira, caíram quase 2%". Tendência para manter? É preciso aguardar. "O mercado do petróleo é bastante volátil, reage muito no imediato a declarações bombásticas como esta, mas quando as coisas acalmarem, veremos se há condições para o preço do petróleo cair de forma sustentável", afirma José Manuel Martins Caetano, lembrando que "a Arábia Saudita, a OPEP e a Rússia ao reduzirem, muitas vezes, as suas quotas de produção, não querem deixar cair os preços". Ou seja, trata-se de uma realidade a acompanhar com alguma cautela, conclui.
Milei aquece Davos em defesa de um dos maiores apoiantes de Trump
O presidente da Argentina, Javier Milei, saiu, por sua vez, em defesa de Elon Musk, acusado de ter feito uma saudação nazi após a posse de Donald Trump, afirmando que o bilionário foi "vilipendiado pelo wokismo" por "um gesto inocente".

O escolhido pelo novo presidente norte-americano para liderar o esforço destinado a reduzir as despesas da Administração encabeçou a mensagem de Milei: "Já não me sinto sozinho porque, ao longo deste ano, pude encontrar companheiros nesta luta pelas ideias da liberdade em todos os cantos do planeta, desde o maravilhoso Elon Musk à feroz dama italiana, a minha querida amiga Giorgia Meloni, desde Nayib Bukele, em Salvador, a Viktor Orbán, na Hungria, desde Benjamin Netanyahu, em Israel, a Donald Trump, nos Estados Unidos", declarou.

No dia em que Milei interveio no Fórum Económico Mundial, o governo argentino anunciou que vai reduzir, temporariamente, as exportações de cereais. O setor agrícola tem insistido num desagravamento fiscal que, segundo os grandes produtores, se encontra numa situação "crítica" devido à seca e aos baixos preços das colheitas. E o ministro argentino da Economia, Luis Caputo, disse que os impostos sobre a exportação de soja e subprodutos vão ser reduzidos a partir de segunda-feira e até junho.

Para José Manuel Martins Caetano, é preciso analisar o anúncio com prudência, porque "pode ter repercussões muito significativas no descalabro das finanças públicas argentinas", sendo o país uma potência agrícola.
Javier Milei, que assumiu o cargo há mais de um ano, em dezembro de 2023, foi muito apoiado pelo setor agrícola, prometendo baixar os impostos sobre as exportações agrícolas quando a situação económica o permitisse.
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