JPMorgan alertou os EUA sobre transações "suspeitas" de Epstein

O banco americano afirma ter alertado os EUA sobre transações "suspeitas" poucas semanas após Jeffrey Epstein ter sido encontrado morto na sua cela de prisão em Nova Iorque em 2019.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Eduardo Munoz - Reuters

O JP Morgan alertou o governo americano sobre cerca de 4.700 transações ligadas a Jeffrey Epstein e outras figuras proeminentes de Wall Street, no valor de mais de um bilhão de dólares, possivelmente relacionadas a denúncias de tráfico humano, segundo documentos judiciais divulgados esta quinta-feira. 

No seu relatório o maior banco americano também sinalizou transferências bancárias efetuadas por Jeffrey Epstein para bancos russos e sensibilidades em torno das "suas relações com dois presentes dos EUA". Nomeadamente, o presidente americano Donald Trump e o antigo presidente Bill Clinton, de quem Epstein era próximo, escreve o New York Times. No entanto, a natureza das transações, assim como o papel de Epstein nas mesmas, não é clara. 

O relatório foi incluído nos registos judiciais que se encontravam em segredo de justiça e  foram divulgados na quinta-feira pela JP Morgan, por ordem do juíz americano Jed S.Rakoff. Em resposta a pedidos do New York Times e do Wall Street Journal, o juíz ordenou que os documentos fossem divulgados. 
Sinais de alerta enviados aos reguladores

Entre os documentos divulgados na quinta-feira, constam vários outros relatórios de atividades suspeitas (SARs) que o banco americano apresentou aos reguladores federais ao longo dos vários anos que antecederam a prisão de Epstein em 2019, alertando nomeadamente para volumosos levantamentos de dinheiro. "Não parece que alguém no governo (americano) ou nas autoridades tenha agido com base nesses SARs durante anos", disse Patricia A. Wexler, porta-voz da JP Morgan, citada pelo Guardian.

Apesar dos repetidos alertas de atividades suspeitas, o JP Morgan continuou a fazer negócios com Jeffrey Epstein durante anos. O banco ter-lhe-á emprestado dinheiro, transferindo os seus fundos para o estrangeiro e permitido pagamentos a algumas das suas vítimas de tráfico sexual, revelou o The Times em setembro.

O JPMorgan manteve relações com Jeffrey Epstein durante mais de uma década, período em que o seu cliente cometeu abusos sexuais contra cerca de 200 mulheres jovens e meninas. 

O maior banco dos EUA é acusado de ter ignorado sinais claros de atividades ilícitas, o que levou os legisladores no Congresso a pedir investigações ao papel da JP Morgan no financiamento da operação de tráfico sexual de Epstein e a que Jamie Dimon, o CEO do banco, prestasse esclarecimentos ao Senado.Jamie Dimon afirmou que não tinha conhecimento da extensa relação do banco com Epstein até 2019, embora um executivo tenha declarado o contrário em depoimento.

Após dois processos na justiça movidos contra a JPMorgan em nome das vítimas de Epstein e pelas Ilhas Virgens Americanas, o banco concordou em pagar a ambas as partes para resolver o litígio e lamentou o seu envolvimento com Jeffrey Epstein, mas afirmou que não conhecimento dos seus abusos sexuais. 
PUB