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"Não há mais tempo a perder". Negociações para cessar-fogo em Gaza retomadas esta quinta-feira

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Haitham Imad - EPA

Numa altura de tensão crescente no Médio Oriente e de ansiedade perante a ameaça de uma retaliação iraniana contra Israel, as negociações para uma trégua na Faixa de Gaza são retomadas esta quinta-feira em Doha, no Catar. Os EUA dizem que “não há mais tempo a perder” para um cessar-fogo e esperam que esse acordo possa evitar um ataque do Irão contra Israel.

No início de julho avistava-se uma luz ao fundo do túnel nas negociações para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, depois de o Hamas se ter mostrado disposto a deixar cair a exigência de um fim permanente do conflito e a dar início às negociações.

No entanto, essa esperança de um progresso caiu por terra e as negociações acabaram mesmo por ficar paralisadas após o assassinato do líder político do Hamas em Teerão, Ismail Haniyeh, e do principal comandante militar do seu aliado libanês Hezbollah, Fuad Shukr, em Beirute. Ambos os ataques foram atribuídos a Israel e o conflito na região agudizou-se.

Perante este clima de tensão crescente e a ameaça de um ataque iraniano contra Israel que ameaça transformar o conflito numa guerra regional mais ampla, os países mediadores (Catar, Estados Unidos e Egito) renovaram os esforços para levar as partes em conflito de volta à mesa das negociações, apelando a que se chegue a um acordo sem mais demoras.

A retoma das negociações acontece esta quinta-feira, em Doha, no Catar, e deverá prolongar-se durante vários dias. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou esta quarta-feira que vai enviar uma delegação israelita para as negociações, que inclui o chefe dos serviços secretos estrangeiros de Israel (Mossad), o chefe dos serviços internos (Shin Bet), Ronen Bar, e o major-general Nitzan Alon, que supervisiona as conversações em nome do exército. O diretor da CIA, William Burns, também irá participar nas negociações, segundo confirmaram autoridades norte-americanas.

O Hamas, por sua vez, já anunciou que não vai participar na reunião, acusando o primeiro-ministro israelita de não estar interessado em chegar a um acordo que termine de vez com o conflito e de estar a enganar as partes. O grupo islamita palestiniano mostrou-se disponível para falar posteriormente com mediadores se houver "desenvolvimentos ou uma resposta séria por parte de Israel".
Em que consiste a proposta de cessar-fogo?
Em cima da mesa esta quinta-feira estará um plano proposto pelo presidente dos EUA, Joe Biden, em maio. O plano de três fases prevê uma trégua de seis semanas acompanhada por uma retirada israelita das zonas densamente povoadas de Gaza e pela libertação de reféns em troca da libertação de prisioneiros palestinianos detidos por Israel.

A primeira fase duraria seis semanas e incluiria a “retirada das forças israelitas de todas as áreas povoadas de Gaza” e a “libertação de vários reféns, incluindo mulheres, idosos e feridos em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinianos”.

A fase 2 permitiria a “troca pela libertação de todos os reféns vivos restantes, incluindo soldados do sexo masculino” e o fim permanente dos combates.

Por fim, a terceira fase prevê o início de um “grande plano de reconstrução para Gaza”.
“Não há tempo a perder”
Apesar de uma reação positiva inicial do Hamas e de Israel à proposta dos EUA, ambas as partes permanecem divididas em vários pontos, particularmente no que diz respeito a uma linha vermelha: o fim definitivo dos combates e a retirada das tropas israelitas do enclave. Esta tem sido uma exigência do Hamas, mas Israel recusa ceder, reiterado o objetivo de destruir o grupo palestiniano, no poder em Gaza desde 2007.

Joe Biden, no entanto, disse na terça-feira que ainda não desistiu de alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza e espera, pelo menos, que o acordo possa evitar uma retaliação por parte do Irão.

O mediador norte-americano para o conflito entre o Líbano e Israel, Amos Hochstein, também está de acordo que um pacto de cessar-fogo na Faixa de Gaza poderia ajudar a evitar uma guerra regional, bem como pôr fim ao conflito paralelo entre o grupo xiita libanês Hezbollah e Israel.

“Não há mais tempo a perder”, disse Hochstein.

Contudo, a missão iraniana nas Nações Unidas disse, no sábado, que a retaliação de Teerão “é totalmente alheia ao cessar-fogo de Gaza”.

O conflito entre o Hamas e Israel foi desencadeado a 7 de outubro do ano passado, após o ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em território israelita. Nesse ataque, 251 pessoas foram sequestradas e 111 permanecem detidas em Gaza, das quais 39 morreram.

Até agora, os mediadores só conseguiram uma trégua de uma semana em novembro, que permitiu a libertação de cerca de 100 reféns israelitas e 240 palestinos.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, a ofensiva retaliatória do Estado hebraico já fez cerca de 40 mil mortos.

c/agências
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