Ofensiva turca. Rússia destaca militares para apoiar curdos na fronteira

por Joana Raposo Santos - RTP
Os militares enviados por Moscovo já se dirigiram aos arredores de Manbij Omar Sanadiki - Reuters

A Rússia está desde terça-feira a procurar preencher o vazio deixado pelos Estados Unidos na fronteira entre a Turquia e a Síria depois de Donald Trump ter ordenado a retirada das forças norte-americanas no local. Moscovo garante que não irá aceitar uma escalada no conflito e o Presidente russo, Vladimir Putin, deverá reunir-se ainda este mês com o homólogo turco para discutir a situação.

A administração curda na Síria, em busca de apoio e proteção contra a ofensiva turca que há uma semana não dá tréguas junto à fronteira, alcançou um acordo com o Governo do Presidente Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia.

Desde domingo que as forças sírias se têm deslocado até à zona fronteiriça para proteger os curdos contra os ataques da Turquia e, na cidade de Manbij, controlada pelos curdos, os militares sírios acenaram bandeiras da Rússia pelas ruas.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, os militares enviados por Moscovo já se dirigiram aos arredores de Manbij, cidade que os militares norte-americanos já abandonaram, de modo a patrulhar e criar uma barreira entre os exércitos turco e sírio.A ofensiva turca contra os curdos na Síria vai no oitavo dia e já levou a que milhares de pessoas abandonassem as suas casas.

Alexander Lavrentyev, o enviado de Moscovo à Síria, considerou que “ninguém está interessado” numa luta entre sírios e turcos e garantiu que a Rússia “não irá permiti-lo”.

“Isso seria simplesmente inaceitável”, declarou Lavrentyev a agências russas de notícias, aproveitando para confirmar que Moscovo ajudou os curdos a alcançar um acordo com o Governo sírio para que este deslocasse tropas para a fronteira.

De acordo com Lavrentyev, existem acordos prévios que estabelecem que a Turquia apenas pode avançar entre cinco a dez quilómetros na Síria, e não os 30 quilómetros que Ancara tem tentado impor.
Putin e Erdogan vão reunir-se
O Presidente russo, Vladimir Putin, convidou o homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, a deslocar-se à Rússia "nos próximos dias", para discutir a ofensiva de Ancara contra os curdos na Síria, anunciou na terça-feira o Kremlin.

O convite, realizado durante uma conversa telefónica entre os dois líderes, já foi aceite por Erdogan. O comunicado do Kremlin esclarece que ambas as partes enfatizaram "a necessidade de evitar um conflito entre unidades turcas e sírias" no norte da Síria.

A Rússia tem sido uma aliada do Presidente sírio há décadas e envolveu-se no conflito na Síria em 2015, fornecendo proteção aérea. As forças militares russas têm, desde então, enviado para Damasco armas, militares e conselheiros.

A embaixadora dos Estados Unidos para a ONU, Kelly Craft, confessou estar “profundamente preocupada” com o facto de as forças russas estarem a patrulhar a área que separa turcos e sírios.

Na semana passada, Craft tinha já alertado que “haverá consequências” caso a Turquia “falhe em cumprir as regras, em proteger as populações vulneráveis e em garantir que o autoproclamado Estado Islâmico não vai reaparecer na região”.
Militares norte-americanos ameaçados
O Pentágono afirmou na terça-feira que aviões de combate e helicópteros dos Estados Unidos foram enviados para assustar os militantes turcos no norte da Síria, depois de estes se terem “aproximado demasiado” de tropas norte-americanas que se encontram na região síria de Ain Issa.

Washington disse já ter apresentado uma queixa formal a Ancara, alegando que os militantes turcos “violaram um acordo permanente” que impede a ameaça de tropas norte-americanas.

Dias antes, Donald Trump tinha voltado a defender a decisão de retirar a totalidade dos militares norte-americanos da fronteira síria. “Deixem a Síria e Assad proteger os curdos e lutar contra a Turquia”, escreveu no Twitter.


“Por que razão devemos estar nós a lutar pela Síria e por Assad para proteger o território dos nossos inimigos? Estou bem com quem quiser apoiar a Síria na proteção dos curdos, quer seja a Rússia, a China, ou Napoleão Bonaparte. Espero que todos sejam bem sucedidos, nós estamos a sete mil milhas de distância”, declarou o Presidente norte-americano.
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