Seul ao lado de Kiev em interrogatório a soldados norte-coreanos capturados

por Carlos Santos Neves - RTP
Ucrânia, EUA e Coreia do Sul estimam em dez mil o número de soldados norte-coreanos nas fileiras russas KCNA via Reuters

Os serviços de informações da Coreia do Sul confirmaram este domingo a captura, por parte das tropas ucranianas, de dois soldados da Coreia do Norte na região russa de Kursk. As autoridades de Seul admitiram estar a colaborar com as congéneres de Kiev no interrogatório destes efetivos destacados por Pyongyang para o combate ao lado das forças de Vladimir Putin.

“O Serviço Nacional de Informações, graças a uma cooperação em tempo real com a Agência de Informações da Ucrânia, confirmou que o exército ucraniano capturou dois soldados norte-coreanos a 9 de janeiro no campo de batalha de Kursk, na Rússia”, adianta o sul-coreano NIS em comunicado.

Esta nota vem assim consubstanciar dados avançados nos últimos dias pela secreta ucraniana: o SBU divulgou no sábado um vídeo que mostra dois homens em camas de hospital, com ligaduras e aparentemente feridos.Ucrânia, Estados Unidos e Coreia do Sul estimam em dez mil o número de soldados norte-coreanos nas fileiras russas.

Rússia e Coreia do Norte permanecem, até ao momento, em silêncio face às informações saídas da Ucrânia – e continuam sem confirmar a participação de tropas norte-coreanas em operações de combate.
“Acreditava ter sido enviado para formação”
Segundo o NIS, um dos soldados norte-coreanos agora sob custódia de Kiev revelou, durante o interrogatório, ter começado a receber treino militar da Rússia a partir de novembro, apercebendo-se então que seria encaminhado para a frente de Kursk: “Ele acreditava ter sido enviado para formação, depois deu-se conta, ao chegar à Rússia, que tinha sido destacado”.

A agência sul-coreana indica ainda que o mesmo soldado falou de “perdas importantes” para o contingente da Coreia do Norte” sofridas “durante os combates”.Um dos efetivos norte-coreanos terá permanecido “privado de água e alimentos durante quatro a cinco dias antes da captura”.

Também no sábado o presidente ucraniano afirmara que, embora feridos, os soldados norte-coreanos haviam sido transferidos para Kiev, tendo em vista o interrogatório. “Não foi uma tarefa fácil: geralmente, os russos e os outros soldados norte-coreanos acabam com os seus feridos e fazem tudo para apagar provas da participação de um outro Estado, a Coreia do Norte, na guerra contra a Ucrânia”, acusou Volodymyr Zelensky.

Outros dois operacionais da Coreia do Norte, gravemente feridos, terão sido capturados no final de dezembro, igualmente em Kursk, onde as tropas da Ucrânia ocupam, desde agosto, centenas de quilómetros quadrados. Os homens terão, no entanto, sucumbido a graves ferimentos.
Cooperação reforçada
Em junho, Moscovo e Pyongyang selaram um histórico tratado de defesa mútua que enquadra “imediata ajuda militar” em eventuais situações de agressão por um país terceiro.

No início de janeiro, em visita à capital sul-coreana, o secretário de Estado cessante dos EUA, Antony Blinken, disse-se na posse de dados a apontar para um reforço, a breve trecho, da cooperação espacial – “tecnologia de satélites” - entre russos e norte-coreanos. Uma contrapartida pelo apoio no esforço de guerra russo em solo ucraniano.Enquanto Blinken prosseguia a sua deslocação a Seul, Pyongyang levava a cabo o ensaio de um novo míssil hipersónico.

O Estado-Maior das Forças Armadas da Coreia do Sul afirma ter observado preparativos que apontam para a possibilidade de futuros destacamentos de forças adicionais norte-coreanas par a Rússia, em reforço ou substituição dos soldados já enviados.

As autoridades ucranianas calculam em mais de três mil o número de soldados norte-coreanos “mortos ou feridos” no combate a par das forças russas. Seul aponta para mil.

c/ agências
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