Sucessor de Hassan Nasrallah. Naim Qassem é o novo secretário-geral do Hezbollah

por Cristina Sambado - RTP
Mohamed Azakir - Reuters

Naim Qassem foi eleito para o cargo de secretário-geral do Hezbollah, sucedendo a Hassan Nasrallah, abatido num ataque israelita, confirmou esta terça-feira o movimento xiita libanês apoiado pelo Irão.

Naim Qassem tem 61 anos e nasceu nos arredores de Beirute. Milita no Hezbollah desde os anos de 1970.

"O Concelho da Shura do Hezbollah concordou em eleger sua eminência o xeque Naim Qassem como secretário-geral do Hezbollah, carregando a sua bandeira abençoada nesta viagem, apelando a Deus todo poderoso que o guie na sua nobre missão de liderar o Hezbollah e a sua resistência islâmica", lê-se em comunicado difundido pelo movimento.

Prometemos a Deus todo poderoso e ao espírito do nosso mais alto e mais precioso mártir, sua eminência Sayyed Hassan Nasrallah (que Deus esteja satisfeito com ele), e aos mártires, aos Mujahideen da resistência islâmica, e ao nosso povo firme, paciente e leal, trabalhar em conjunto para alcançar os princípios do Hezbollah e os objetivos da sua jornada, e manter a chama da resistência a brilhar e a sua bandeira erguida até que a vitória seja alcançada, e Deus seja vitorioso sobre o Seu assunto, Deus é forte e poderoso”, remata o comunicado.
Primeiro membro da cúpula a comentar na televisão
Qassem é, desde há muito, um dos principais porta-vozes do Hezbollah, concedendo entrevistas a meios de comunicação estrangeiros, incluindo no decurso das hostilidades transfronteiriças com Israel, no ano passado.

Falando em frente a cortinas a partir de um local não revelado a 8 de outubro, Qassem afirmou que o conflito entre o Hezbollah e Israel era uma guerra sobre quem chora primeiro e o Hezbollah não choraria. Mas acrescentou que o grupo apoiava os esforços do deputado Nabih Berri - um aliado do Hezbollah - para garantir um cessar-fogo, omitindo pela primeira vez qualquer menção a um acordo de tréguas em Gaza como condição prévia para travar o fogo do grupo contra Israel.

O seu discurso televisivo de 30 minutos foi proferido poucos dias depois de se ter pensado que Hashem Safieddine, figura de topo do Hezbollah, tinha sido alvo de um ataque israelita e 11 dias depois da morte do secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah.
A morte de Safieddine foi confirmada pelo Hezbollah a 23 de outubro.


O discurso televisivo de Qassem, no dia 8 de outubro, foi o segundo desde que as hostilidades entre Israel e o Hezbollah se intensificaram em setembro, tendo sido o primeiro membro da cúpula do Hezbollah a fazer comentários televisivos após a morte de Nasrallah num ataque aéreo israelita aos subúrbios do sul de Beirute, no dia 27 de setembro.

A 30 de setembro, Qassem afirmou que o Hezbollah escolheria um sucessor para o seu secretário-geral assassinado “na primeira oportunidade” e que continuaria a lutar contra Israel em solidariedade com os palestinianos.

“O que estamos a fazer é o mínimo necessário. Sabemos que a batalha pode ser longa”, afirmou num discurso de 19 minutos.
Número dois do Hezbollah e um dos maiores teóricos

Naim Qassem é uma figura de topo do movimento apoiado pelo Irão há mais de 30 anos. Foi nomeado vice-chefe em 1991 pelo então secretário-geral do grupo armado, Abbas al-Musawi, que foi morto por um ataque de helicóptero israelita no ano seguinte. Qassem permaneceu no seu cargo quando Nasrallah se tornou líder. É um académico religioso xiita e político libanês. Foi classificado como o segundo homem do Hezbollah e um dos seus maiores teóricos.

Em 2005, escreveu uma história do Hezbollah que é vista como um raro “olhar de dentro” sobre a organização. Qassem usa um turbante branco, ao contrário de Nasrallah e Safieddine, cujos turbantes pretos denotam o estatuto de ditos descendentes do profeta Maomé.

Qassem participou nas reuniões que conduziram à formação do Hezbollah, criado com o apoio da Guarda Revolucionária do Irão em resposta à invasão israelita do Líbano em 1982. E tem sido o coordenador geral das campanhas eleitorais parlamentares do Hezbollah desde que o grupo as disputou pela primeira vez em 1992.

Naim bin Muhammad Naim Qassem, nascido em fevereiro de 1953 na zona de Basta al-Tahta, em Beirute. É casado e tem seis filhos, quatro rapazes e duas raparigas. O seu pai, Muhammad, nasceu na cidade de Kfar Fila, na região de Iqlim al-Tuffah, no sul do Líbano.

Qassem obteve um bacharelato e um mestrado em química e tem estado ativo em grupos islâmicos desde a década de 1970. Trabalhou com Musa al-Sadr no início da criação do Movimento dos Privados, tendo depois contribuído para a criação do Hezbollah e assumido o cargo de secretário-geral adjunto em 1991.

O ativismo político de Qassem começou com as “Brigadas da Resistência Libanesa” (Amal), a ala militar do “Movimento dos Privados”, imediatamente após a sua criação por Musa al-Sadr em 1974.
Naim Qassem participou ativamente nas primeiras reuniões organizadas por al-Sadr com personalidades e comités islâmicos do Líbano, em preparação para o lançamento do movimento.

Foi nomeado adjunto do responsável cultural central do Movimento Amal, tendo depois integrado o conselho de direção do movimento como secretário e, quando Hussein al-Husseini assumiu a liderança, ocupou o cargo de responsável pela doutrina e cultura.

Naim Qassem demitiu-se do Movimento Amal um ano após o fim da Revolução Iraniana e decidiu completar os seus estudos no seminário, continuando a sua atividade religiosa dando aulas em mesquitas e Husayniyas em Beirute e nos subúrbios do sul.

Entrou para a Faculdade de Educação da Universidade Libanesa em 1970 e estudou química em francês. Após a licenciatura, lecionou a mesma disciplina durante seis anos em escolas secundárias. Obteve depois o mestrado em química na mesma universidade em 1977.

Durante os seus estudos universitários, Naim Qassem começou a dar aulas semanais na mesquita para crianças quando tinha apenas 18 anos de idade. Estudou os currículos do seminário sob a supervisão de académicos xiitas de renome no Líbano, nomeadamente Abbas al-Musawi, Hassan Trad e Ali al-Amin.

Recebeu lições de “investigação externa” em jurisprudência e princípios de Muhammad Hussein Fadlallah.

Durante os seus estudos universitários, contribuiu para a criação da “União Libanesa de Estudantes Muçulmanos” com vários estudantes e dirigiu a Associação de Educação Religiosa Islâmica de 1974 a 1988.

Naim Qassem dedicou-se a dar aulas semanalmente na mesquita de Al-Birr e Al-Irshad durante mais de dez anos, depois transferiu as suas aulas para a mesquita Imam Al-Mahdi Al-Ghobeiry e aí permaneceu durante quatro anos, tendo continuado a deslocar-se entre mesquitas e Husayniyas durante vários anos, sem se fixar numa delas.

Naim Qassem contribuiu para a criação da Associação de Educação Religiosa Islâmica em 1977 e dirigiu-a até 1990, tendo regressado ao trabalho político influenciado pelo líder da Revolução Iraniana, Ruhollah Khomeini, e participado nos comités islâmicos que trabalhavam nas atividades mediáticas da revolução.Na sequência de reuniões entre os comités islâmicos em 1982, foi fundado o Hezbollah e Naim Qassem encontrava-se entre os mais destacados ativistas que trabalharam para a sua criação.

Integrou o Conselho da Shura do Hezbollah e nele permaneceu durante três sessões, após o que lhe foi confiada a responsabilidade pelas atividades educativas e de escutismo em Beirute, tendo depois assumido o cargo de vice-presidente do conselho executivo, antes de o dirigir.

Em 1991, foi nomeado secretário-geral adjunto do Hezbollah, tendo como funções o acompanhamento do trabalho dos representantes parlamentares do partido e do seu movimento político. Assumiu igualmente a presidência do órgão de trabalho do Governo, responsável pelo acompanhamento dos vários ministérios e pelo estudo das suas estruturas e decisões, bem como pelo acompanhamento dos ministros do partido e do trabalho do Governo.

Durante o seu mandato, Naim Qassem assistiu a vários confrontos com Israel, incluindo a guerra de julho de 1993, a guerra de abril de 1996, a guerra de libertação de 2000, a guerra de julho de 2006, para além dos confrontos de 2017. Atualmente, estão em curso os confrontos de 2024, que começaram em 7 de outubro de 2023, depois de a Resistência Islâmica na Faixa de Gaza ter anunciado o lançamento da batalha “Dilúvio de Al-Aqsa”.
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