Ciclismo/Mundiais: Poeira acredita que paciência e colocação serão determinantes para Almeida

por Lusa

O selecionador José Poeira prefere esperar para ver se João Almeida estará entre os ciclistas que irão lutar, no domingo, pela camisola arco-íris de campeão do mundo, prevendo uma corrida de paciência em que a colocação será determinante.

Embora o centenário dos Mundiais de ciclismo de estrada já tenham proporcionado momentos memoráveis desde domingo, nenhuma prova é aguardada com tanta expectativa como a de fundo, uma ‘maratona’ de 268,3 quilómetros, entre Antuérpia e Lovaina, que ‘imita’ o melhor das clássicas da Flandres, com uma sucessão de circuitos, e que irá coroar o sucessor do francês Julian Alaphilippe.

“Não vamos deixar de ir porque não é o percurso que é ideal para nós. Claro que não é o percurso que é o habitual, ou a que nos adaptamos mais, mas alguns corredores que estão habituados a correr aqui até gostaram de ser escolhidos para vir fazer este Mundial”, notou à Lusa o selecionador português, referindo-se, nomeadamente, a Nelson Oliveira (Movistar) e Rui Oliveira (UAE Emirates).

São os dois Oliveiras aqueles que melhor conhecem os ‘segredos’ do ‘pavé’ flamengo, das estradas estreitas, do terreno traiçoeiro, com ‘muros’ e descidas íngremes, mas não é neles que recai a esperança nacional, com João Almeida (Deceuninck-QuickStep) a liderar novamente Portugal numa corrida em que, segundo Poeira, “não há uma grande certeza do que poderá acontecer, nem para nós, nem para os outros”.

“Ele está-se a adaptar muito a qualquer tipo de percurso. Quando se falou nisto [nos Mundiais da Flandres], ele mostrou interesse, não foi vir por vir. O sentido dele não é correr, é fazer o melhor. Agora, vai ser um bocado de experiência correr num pelotão destes. Ele talvez não seja um corredor ainda de clássicas deste género, há de ser de outras clássicas que se adaptam melhor a ele. Mas ele estará lá para dar o seu melhor, como sempre o fez”, anteviu.

À primeira vista, o percurso parece talhado, como não poderia deixar de ser, para o belga Wout van Aert, e para o seu arquirrival, o holandês Mathieu van der Poel, com o ainda campeão mundial de fundo a poder ter uma palavra a dizer, assim como Remco Evenepoel, o plano B da seleção da casa.

“Eu não vou dizer que está ou que não está. Neste momento, o melhor é esperar para ver”, respondeu prontamente José Poeira, ao ser desafiado pela agência Lusa a colocar (ou não) o português da Deceuninck-QuickStep no lote de favoritos.

O selecionador nacional lembrou que Almeida “sabe quem são esses corredores, [conhece] o valor deles, já correu com eles”.

“Ele sabe isso e sabe onde tem de estar colocado. Se ele conseguir fazer tudo isso, até pode chegar ali [na frente]. É uma corrida de paciência, a certa altura temos de estar colocados no primeiro lugar. Não dá para andar cá atrás e, de repente, ir para a frente. Esta corrida não é bem assim, tem de se ter uma equipa que o ajude a fazer isso. […] É uma corrida muito exigente, tantas horas num sistema deste é muito exigente”, evidenciou.

O jovem de A-dos-Francos (Caldas da Rainha), de 23 anos, terá a escudá-lo, além dos dois Oliveiras, Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo), o estreante André Carvalho (Cofidis), e Rafael Reis (Efapel), o único representante do pelotão nacional entre os elites, mas não Rui Costa, o campeão mundial de fundo de 2013, que abdicou de estar na Flandres devido ao percurso pouco favorecedor.

“Nós já tínhamos falado disso no princípio do ano, foi uma conversa que tivemos sobre os Mundiais e ele sempre disse isso [que não ia estar], até porque ele gosta de escolher percursos bons para ele e este não é o caso. E eu respeito isso. Também já houve outros Mundiais a que ele não foi, como o Qatar, porque o percurso não era ideal para ele”, recordou o selecionador.

Perante a ausência de Costa, José Poeira optou por escolher André Carvalho, de 23 anos, que está a cumprir a sua primeira época como profissional.

“O André fez umas clássicas na Alemanha, em França. Fez um tipo de corridas que são, mais ou menos, idênticas [ao percurso do Mundial]. Optei por trazer o André, porque também está na hora de ele viver uma situação destas e se encaixar neste tipo de corridas desde cedo”, explicou.
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