E-toupeira. Assessor jurídico do Benfica impedido de contactar com restantes arguidos

por RTP
Tiago Petinga - Lusa

O funcionário judicial José Nogueira da Silva vai aguardar julgamento do caso E-toupeira em prisão preventiva. O assessor jurídico do Benfica, Paulo Gonçalves, fica em liberdade mas não pode contactar com os arguidos do processo. As medidas de coação foram conhecidas esta quarta-feira, horas depois de os dois detidos terem sido formalmente identificados e presentes a interrogatório. Paulo Gonçalves e José Nogueira da Silva remeteram-se ao silêncio.

Estes dois arguidos tinham sido detidos na terça-feira no âmbito da operação E-toupeira. O assessor jurídico do Benfica é suspeito de suborno de funcionários judiciais para ter acesso a peças processuais em segredo de justiça, nomeadamente referentes ao caso dos e-mails.

À saída do tribunal, o advogado de José Nogueira da Silva considerou que os indícios estão “fortemente descontextualizados” e disse acreditar que se acabará por perceber que a medida de coação é “excessiva”. A defesa disse ainda que o próprio tribunal admitiu rever a medida quando estiver terminada a investigação.

“A medida de coação foi gravosa pelo facto de o meu cliente ser funcionário da justiça. Está-lhe imputado ter acedido a processos e é essa a gravidade. Não tem tanto a ver com contrapartidas”, argumentou.

O advogado Paulo Gomes mostrou alguma revolta com a medida e anunciou que vai apresentar recurso. “Neste país há pessoas que recebem milhões de euros de corrupção e continuam a passear, designadamente nesta cidade. Este senhor vai para a cadeia por ter recebido meia dúzia de bilhetes e uma camisola”, afirmou.

Em declarações aos jornalistas, o advogado admitiu que José Nogueira da Silva recebeu bilhetes e camisolas do Benfica mas garantiu que não foi uma contrapartida de corrupção. Paulo Gomes não confirmou que José Nogueira da Silva tenha acedido ao processo e denunciou que houve acessos feitos noutras comarcas.

As autoridades acreditam que Paulo Gonçalves terá subornado três funcionários judiciais, entre os quais José Nogueira da Silva, o técnico informático do Instituto de Justiça que também foi detido na terça-feira e fica agora em prisão preventiva. Os funcionários receberiam favores ou prendas do Benfica.

À saída do tribunal, o advogado do assessor jurídico do Benfica, Paulo Gonçalves, não quis prestar declarações aos jornalistas.

As autoridades investigam a eventual prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo a documentos, violação do segredo de justiça e favorecimento pessoal. A operação motivou 30 buscas. O Estádio da Luz foi um dos locais alvo de busca.

Na terça-feira, o clube da Luz reagiu em comunicado a este novo processo judicial em que está envolvido. Na nota, os encarnados manifestaram "total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade".

O Benfica já disse que vai pedir uma audiência à Procuradora-geral da República por causa da violação do segredo de justiça. O clube da Luz garante, também, que Paulo Gonçalves vai colaborar com a justiça e "provar a legalidade dos procedimentos".

Para além dos dois arguidos que foram detidos na terça-feira, o processo conta com outros três arguidos. São eles dois funcionários judiciais e um empresário de futebol.
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