Lino considera que Sócrates é alvo de "patranha"

Mário Lino volta a negar ter sido informado da intenção de compra da TVI pela PT, acrescentando que “nunca” deu “instruções nesse sentido”. O antecessor de António Mendonça no Ministério das Obras Públicas considera que o Governo é alvo de uma “patranha”. Já Marcelo Rebelo de Sousa, comentador da RTP, mostra-se convicto de que José Sócrates “mentiu”.

RTP /

Num eco das últimas declarações de José Sócrates, a propósito das notícias que apontam para a existência de um alegado plano do Executivo para controlar órgãos da comunicação social, Mário Lino veio a público para dizer que a polémica em torno do negócio frustrado de aquisição da TVI pela Portugal Telecom resulta de uma "patranha".

"Nunca recebi nenhuma informação de que a PT estivesse a preparar ou envolvida em qualquer negócio de aquisição da TVI, nem nunca discuti esse assunto com nenhum dos administradores, nem nunca dei instruções nesse sentido", afirmou à RTP o antigo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

Apesar de uma providência cautelar interposta por Rui Pedro Soares, administrador executivo da PT, o semanário Sol publicou, na sexta-feira, novos dados sobre o alegado projecto de controlo da comunicação social. No plano de Sócrates estariam envolvidos administradores da Portugal Telecom e do grupo Ongoing, que viria a contratar José Eduardo Moniz, antigo director-geral da TVI, e está a adquirir a Media Capital. O jornal transcreveu excertos de escutas de conversas telefónicas entre Armando Vara, arguido no processo Face Oculta, e Joaquim Oliveira, o patrão da Controlinveste. O nome de José Sócrates é referenciado.

O Sol citou um despacho datado de 23 de Junho em que o procurador do processo Face Oculta, Marques Vidal, refere "indícios muito fortes" de envolvimento do Governo, "nomeadamente o primeiro-ministro", num alegado projecto de controlo da comunicação social. Um plano que, adiantou o jornal, passaria não só pela "tomada da Media Capital" e de 30 por cento da TVI como pela aquisição de um grupo de comunicação social "que se tornaria parceiro" da PT: a Cofina, proprietária do Correio da Manhã, e mesmo a Impresa, de Pinto Balsemão, teriam sido encaradas como potenciais alvos da operação, numa fase inicial; por fim foi equacionada a possibilidade de aquisição da Controlinveste, proprietária do Diário de Notícias, do Jornal de Notícias e da TSF.

"Patranha"

Mário Lino, então com a tutela da PT, garante que os contactos com o grupo de telecomunicações eram feitos através do presidente do Conselho de Administração, Henrique Granadeiro, que também já veio afirmar que "não sabia nem desconfiava" do envolvimento da empresa no alegado plano do Governo.

"Isso já tem sido afirmado por mim várias vezes, pelo senhor primeiro-ministro várias vezes. O senhor presidente do Conselho de Administração da PT já o declarou várias vezes e eu não percebo porque é que se insiste nesta patranha", vincou o antigo governante, ouvido pela RTP.

Para além de Armando Vara e Joaquim Oliveira, as duas edições que a redacção do Sol publicou na sexta-feira revelaram extractos de escutas relativas a Paulo Penedos, também arguido no processo Face Oculta, ao advogado e antigo presidente da RTP João Carlos Silva e aos administradores da PT Fernando Soares Carneiro e Rui Pedro Soares. Foram ainda publicadas conversas entre o proprietário da Controlinveste, Armando Vara e o director do Jornal de Notícias, José Leite Pereira.

Sócrates "tinha a obrigação de saber"

Marcelo Rebelo de Sousa não hesita em dizer que "o primeiro-ministro mentiu" quando declarou que não sabia das negociações da Portugal Telecom para a compra da estação televisiva de Queluz de Baixo. Os últimos acontecimentos, sustenta, indiciam que José Sócrates estava a par das movimentações do grupo.

"Aumentou a minha convicção de que o primeiro-ministro mentiu, ponto final parágrafo", sublinhou o comentador no domingo, durante o programa da RTP "As Escolhas de Marcelo".

"Ele mentiu no Parlamento quando disse que não sabia. Depois corrigiu para dizer que não sabia formalmente. Sabia, obviamente. Tinha a obrigação de saber, porque é uma questão que tinha sido levantada pela líder da Oposição na véspera, ou na antevéspera", assinalou Marcelo Rebelo de Sousa.

O primeiro-ministro, insistiu o antigo líder do PSD, "tinha a obrigação de saber". "Toda gente sabia que havia a operação. Só ele é que não sabia", ironizou Marcelo.

"E um primeiro-ministro não tem conhecimentos informais. Quando está em causa uma empresa pública que depende das orientações do Governo não há conhecimentos informais. É tudo formal".

Granadeiro diz-se enganado

Após as notícias conhecidas na sexta-feira, o presidente do Conselho de Administração da Portugal Telecom declarou à revista Visão que se sentia "encornado" por Rui Pedro Soares e Fernando Soares Carneiro, referenciados nas escutas divulgadas pelo Sol. Ambos os membros da Comissão Executiva da PT entraram na cúpula da empresa com a chancela do Executivo, no quadro das prerrogativas conferidas pela golden share do Estado.

Em declarações citadas pela edição on-line da Visão, Henrique Granadeiro garantiu que "não sabia nem desconfiava" do envolvimento da PT no alegado plano do Governo de Sócrates. Ainda assim, não deixou de admitir: "Pode ter acontecido, à minha revelia".

Ao Jornal de Negócios, Granadeiro voltaria a garantir que não teve "conhecimento prévio" da providência cautelar interposta por Rui Pedro Soares para travar a publicação de escutas do processo Face Oculta nas páginas do jornal Sol, reconhecendo as consequências das notícias em causa para a reputação da Portugal Telecom.

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