Relvas alega que pediu desculpa ao Público “pelo tom e não pela matéria”

por Ana Sanlez, RTP
Em declarações aos jornalistas, Miguel Relvas disse-se "de consciência tranquila" e acrescentou que quem se sentiu pressionado foi ele próprio Mário Cruz, Lusa

Miguel Relvas negou esta quinta-feira ter feito “pressões e acusações” a jornalistas do Público, manifestando-se de “consciência tranquila”. O ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, que foi ouvido na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) para responder sobre uma alegada tentativa de interferência nos conteúdos do jornal, contrapôs que foi ele próprio quem se sentiu “pressionado”. Em causa estava a publicação de uma notícia sobre o envolvimento do governante no caso das secretas.

Sobre o facto, posteriormente revelado pelo Conselho de Redação do Público, de que teria pedido desculpa aos responsáveis editoriais do jornal, o ministro sustentou que o fez “pelo tom” do contacto que manteve com a secção de Política, que terá sido “indelicado”, e “não pela matéria”. Segundo Miguel Relvas, “em democracia, não é pressão apresentar uma queixa à Entidade Reguladora da Comunicação”, onde, garantiu ainda o governante, respondeu “a todas as peguntas”.

Na conferência de imprensa que se seguiu à audição na ERC, Miguel Relvas revelou que pediu esclarecimentos junto da Entidade alegando o “direito” de saber por que razão lhe foram “dados 32 minutos para responder a uma pergunta sobre a qual não existe urgência, não é de atualidade”. “Fui eu que me senti pressionado”, arguiu. Relvas referia-se a uma questão enviada pela jornalista do Público Maria José Oliveira relativa à data em que teria recebido um e-mail com clipping de Jorge Silva Carvalho, antigo diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED).

Numa carta enviada à ERC no passado sábado, o ministro dos Assuntos Parlamentares acusava a jornalista do Público de escrever “num estilo de jornalismo interpretativo”.
"Quem tiver outra prova que a apresente"
O ministro que detém a tutela da Comunicação Social reiterou na ERC o que havia dito na semana passada perante os deputados da comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias: “Disse e reafirmo que conheço o doutor Jorge Silva Carvalho desde abril de 2010. Quem tiver outra prova que a apresente”.

Destacando que se remeteu ao silêncio sobre o caso durante uma semana “para que hoje pudesse vir aqui e responder a todas as dúvidas”, Relvas afirma que concluiu a audição “com a consciência de que não existem dúvidas” sobre o seu “comportamento e de que não existem dúvidas sobre os factos”.

“A notícia não saiu, isso não é da minha responsabilidade. Não tenho que ver com questões internas de um órgão de comunicação social. Mas tenho o direito, em nome das minhas responsabilidades, do meu percurso e da minha vida, de não ser atacado e de me poder defender. Ao longo de 20 anos de vida pública tive relação com centenas de jornalistas e não é ao fim de 20 anos que aparecerá alguém, sem provas, sem factos, a dizer que eu pressionei. Quem me conhece sabe que não é a minha atitude”, notou.

Sobre as supostas ameaças de blackout do Governo em relação ao Público, Relvas foi peremptório: “Não há blackouts no Governo. Se há Governo em Portugal que tem sido transparente com a comunicação social é este. Podia ter respondido por escrito e vim aqui pessoalmente”.

O que esteve em causa nos telefonemas com a editora de política do diário, insistiu Relvas, foi o “direito”, perante “este tipo de comportamento”, de “pessoalmente deixar de falar com o Público, porque não posso falar em nome do Governo”.

A diretora do Público, Bárbara Reis, vai igualmente prestar declarações na ERC ainda esta quinta-feira, bem como a editora de política do jornal, Leonete Botelho.
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