Seleção Nacional
Carlos Queiroz viu Portugal "passar a escadaria do inferno" com Brasil há 30 anos
Portugal teve de atravessar a "escadaria do inferno toda" no duplo confronto com o Brasil, quer nas 'meias' de 1989, quer na final de 1991, para conquistar dois Mundiais de sub-20, vincou o então selecionador luso Carlos Queiroz.
“Não haja dúvida de que o jogo dos jogos em 1991 é como em 1989. Ganhar dois títulos mundiais deixando o Brasil para trás é memorável, porque não é ganhar contra qualquer um, mas passar a escadaria do inferno toda. Sabe melhor atravessá-la antes de nos divertirmos no céu com os resultados obtidos”, assumiu à agência Lusa o treinador.
Em 30 de junho de 1991, a equipa das ‘quinas’ revalidou o título mundial de sub-20, ao vencer os ‘canarinhos’ na final (4-2 nos penáltis, após um ‘nulo’ no prolongamento), perante uma inigualável assistência de mais de 127.000 espetadores no recinto lisboeta.
“A preparação foi sistemática, mas baseada num princípio: um penálti em cada treino por jogador, à semelhança daquilo que são as condições emocionais do jogo. Muitas vezes, trabalha-se penáltis para treinar a batida, corrida e colocação. Depois, combina-se a tensão emocional com a exigência técnica, pois o jogo só dá uma oportunidade”, vincou.
Portugal repetiu o triunfo de março de 1989 graças às conversões certeiras de Jorge Costa, Luís Figo, Paulo Torres e Rui Costa, enquanto o Brasil, então bicampeão mundial (1983 e 1985), de Roberto Carlos, desperdiçaram por Giovane Élber e Marquinhos.
Para defrontar o Brasil, os lusos registaram o pleno de vitórias num grupo com República da Irlanda (2-0), Argentina (3-0) e Coreia do Sul (1-0) e afastaram México (2-1, após prolongamento) e Austrália (1-0), nos ‘quartos’ e nas meias-finais, respetivamente.
“Foram todos jogos diferentes, até pelas suas características. O primeiro é sempre um jogo de entrada, indefinido e um pouco ansioso. Acho que o duelo que esperávamos que fosse mais difícil tornou-se relativamente mais fácil pela conduta dos argentinos. A partir daí, apanhámos uma equipa da Austrália muito boa, estruturada e difícil”, enquadrou.
Considerando que Portugal “foi sempre dominador e indiscutivelmente merecedor de ganhar cada jogo”, Carlos Queiroz traça similitudes entre o duelo frente ao México em Lisboa e a vitória à Colômbia (1-0), nos quartos de final do Mundial de 1989, em Riade.
“Foi uma dor de cabeça. Como costumo dizer às vezes a brincar, foi daqueles jogos que deviam ser jogados com duas bolas, porque precisávamos dela para jogar melhor e ganhar, mas os mexicanos não deixavam e causaram algum nervosismo nos nossos jogadores”, admitiu, sobre um encontro decidido com um golo de Toni no tempo extra.
O ex-selecionador nacional ‘AA’, entre 1991 e 1993 e 2008 e 2010, guiou a equipa de sub-20 ao inédito ‘bicampeonato’ mundial, mas nunca quis revisionar por completo as respetivas finais, numa opção extensível a encontros de idêntica envergadura ao serviço de clubes.
“Uma coisa é a memória técnica quando temos de rever uma coisa para daí construirmos e caminharmos em frente com a aprendizagem dos erros, outra são momentos especiais que tive na carreira. Prefiro guardar memórias emocionais e afetivas tal como as senti e vivi, que são muito mais ricas do que as outras revistas em meios tecnológicos”, aclarou.
Na retina ficaram duas gerações “consistentes e de enorme disciplina coletiva”, cuja diferença “não estava no talento”, até porque “saíram sempre jogadores fantásticos”, na certeza de que a primeira era “combativa” e em 1991 havia “uns atrevidos do diabo”.
“Quando começava o jogo, acho que às vezes nem sabiam quem iam defrontar e já só tinham uma coisa na cabeça, que era acabar, ganhar e andar para a frente. Isso também foi o resultado de uma etapa de confiança e autoestima que cresceu dentro da própria seleção”, justificou Carlos Queiroz, de 68 anos e sem treinar desde novembro de 2020.
Se a organização do Mundial de sub-20 em solo nacional trouxe uma “responsabilidade acrescida”, a equipa das ‘quinas’ diluiu de forma “simples, emotiva, afetiva e festiva”, facilitando a missão do treinador em “dirigir uma banda que jogou, tocou e cantou”.
“Ouvíamos na Europa dizer que os portugueses tinham um jeito enorme para jogar à bola. O segredo do sucesso foi o imenso trabalho dirigido para transformar essas habilidades técnicas em competências coletivas e individuais dentro do campo. Tenho muitos ídolos pessoais de outros tempos, mas este conceito permitiu dar um passo em frente na mentalidade e tornou os atletas mais responsáveis e competentes”, insistiu.
A inédita conquista de Riade seria revalidada dois anos depois em Lisboa, provando que “não foi um passo de mágica”, até por estar intercalada com um ainda singular terceiro lugar no Mundial de sub-16 (1989) e nova final perdida do Europeu de sub-18 (1990).
“A praticamente três meses do Mundial de sub-20 de 1991, tive um convite excecional para poder trabalhar num dos melhores clubes portugueses e europeus. Como tínhamos proposto muitas mudanças e sacrifícios às pessoas, a FPF não esteve de acordo com a minha saída e eu fiquei conscientemente em dúvidas sobre se sair naquela altura não seria virar as costas à FPF em termos de compromisso. Isso pesou muito”, rememorou.
Carlos Queiroz permaneceu e abraçou uma “aventura extraordinária” há exatos 30 anos, recusando reivindicar que a seleção “tivesse um super-homem à frente” na caminhada triunfal até à final com o Brasil (4-2 nos penáltis, após um ‘nulo’ no prolongamento).
“Fiz parte de uma equipa extraordinária de colaboradores, uns mais visíveis e outros menos, a quem chamávamos os ‘carolas’, como treinadores e dirigentes anónimos, que suportavam o futebol juvenil. O meu amigo, irmão e companheiro desta jornada Nelo Vingada definia de forma simples: ganhávamos pouco, mas divertia-nos à brava”, atirou.
Definindo o eterno adjunto como “peça-chave fundamental neste processo”, ao ter um “papel afetivo e emocional de dar mimos”, o então selecionador de sub-20 “fazia-se por vezes de mauzão”, equilibrando essa dupla técnica perante jovens dos 14 aos 22 anos.
“Eu era um bocado indisciplinado com as horas e, se às três ou quatro da manhã tivesse uma ideia de trabalho, não hesitava em ligar-lhe para dizer o que teríamos de fazer no dia seguinte. Como o Nelo tinha de descer as escadas para ir atender, montou na altura uma linha telefónica para ter no quarto e poder estar sempre pronto e disponível”, gracejou.
Em 30 de junho de 1991, a equipa das ‘quinas’ revalidou o título mundial de sub-20, ao vencer os ‘canarinhos’ na final (4-2 nos penáltis, após um ‘nulo’ no prolongamento), perante uma inigualável assistência de mais de 127.000 espetadores no recinto lisboeta.
“A preparação foi sistemática, mas baseada num princípio: um penálti em cada treino por jogador, à semelhança daquilo que são as condições emocionais do jogo. Muitas vezes, trabalha-se penáltis para treinar a batida, corrida e colocação. Depois, combina-se a tensão emocional com a exigência técnica, pois o jogo só dá uma oportunidade”, vincou.
Portugal repetiu o triunfo de março de 1989 graças às conversões certeiras de Jorge Costa, Luís Figo, Paulo Torres e Rui Costa, enquanto o Brasil, então bicampeão mundial (1983 e 1985), de Roberto Carlos, desperdiçaram por Giovane Élber e Marquinhos.
“Já havíamos perdido duas finais nestes desempates [frente à Espanha, no Euro1988 de sub-17, e à União Soviética, no Euro1990 de sub-19] e ficou um sabor amargo. Claro que defini os penáltis como objetivo fundamental na preparação da final de 1991. Tínhamos uma lista em que acreditávamos e eles estiveram perfeitos”, valorizou Carlos Queiroz.
Para defrontar o Brasil, os lusos registaram o pleno de vitórias num grupo com República da Irlanda (2-0), Argentina (3-0) e Coreia do Sul (1-0) e afastaram México (2-1, após prolongamento) e Austrália (1-0), nos ‘quartos’ e nas meias-finais, respetivamente.
“Foram todos jogos diferentes, até pelas suas características. O primeiro é sempre um jogo de entrada, indefinido e um pouco ansioso. Acho que o duelo que esperávamos que fosse mais difícil tornou-se relativamente mais fácil pela conduta dos argentinos. A partir daí, apanhámos uma equipa da Austrália muito boa, estruturada e difícil”, enquadrou.
Considerando que Portugal “foi sempre dominador e indiscutivelmente merecedor de ganhar cada jogo”, Carlos Queiroz traça similitudes entre o duelo frente ao México em Lisboa e a vitória à Colômbia (1-0), nos quartos de final do Mundial de 1989, em Riade.
“Foi uma dor de cabeça. Como costumo dizer às vezes a brincar, foi daqueles jogos que deviam ser jogados com duas bolas, porque precisávamos dela para jogar melhor e ganhar, mas os mexicanos não deixavam e causaram algum nervosismo nos nossos jogadores”, admitiu, sobre um encontro decidido com um golo de Toni no tempo extra.
O ex-selecionador nacional ‘AA’, entre 1991 e 1993 e 2008 e 2010, guiou a equipa de sub-20 ao inédito ‘bicampeonato’ mundial, mas nunca quis revisionar por completo as respetivas finais, numa opção extensível a encontros de idêntica envergadura ao serviço de clubes.
“Uma coisa é a memória técnica quando temos de rever uma coisa para daí construirmos e caminharmos em frente com a aprendizagem dos erros, outra são momentos especiais que tive na carreira. Prefiro guardar memórias emocionais e afetivas tal como as senti e vivi, que são muito mais ricas do que as outras revistas em meios tecnológicos”, aclarou.
Na retina ficaram duas gerações “consistentes e de enorme disciplina coletiva”, cuja diferença “não estava no talento”, até porque “saíram sempre jogadores fantásticos”, na certeza de que a primeira era “combativa” e em 1991 havia “uns atrevidos do diabo”.
“Quando começava o jogo, acho que às vezes nem sabiam quem iam defrontar e já só tinham uma coisa na cabeça, que era acabar, ganhar e andar para a frente. Isso também foi o resultado de uma etapa de confiança e autoestima que cresceu dentro da própria seleção”, justificou Carlos Queiroz, de 68 anos e sem treinar desde novembro de 2020.
Se a organização do Mundial de sub-20 em solo nacional trouxe uma “responsabilidade acrescida”, a equipa das ‘quinas’ diluiu de forma “simples, emotiva, afetiva e festiva”, facilitando a missão do treinador em “dirigir uma banda que jogou, tocou e cantou”.
“Trouxemos as cores da bandeira e do país para as janelas. Foi a primeira vez que se criou essa dinâmica do 12.º jogador fora do campo com a camisola da seleção. No fim de contas, levámos 127.000 pessoas com as portas da Luz a fechar e mais uns quantos lá fora do estádio. Um momento marcante para uma jornada de continuidade”, apreciou.
Queiroz ajudou a contribuir para "revolução completa de mentalidades"
Os dois títulos mundiais de sub-20 configuraram uma “imagem de marca” da “revolução completa de mentalidades” do futebol português nas últimas duas décadas do século XX, avaliou o então selecionador luso Carlos Queiroz.
“No futebol de formação daquela altura, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) era a máquina de um comboio que puxava as carruagens dos clubes. Ao longo destes anos, estes foram aperfeiçoando-se e preparando cada vez melhor metodológica, técnica e cientificamente os seus departamentos de formação”, frisou à agência Lusa o treinador.
A profissionalização da FPF, sob o signo de uma nova mentalidade coletiva, acelerou a maturação competitiva do talento nacional, responsável por converter idas ocasionais numa presença constante das várias seleções em fases finais de Europeus e Mundiais.
“Foi essa renovação e inovação contínua que pusemos a funcionar na FPF e que dá logo a presença nos Mundiais de sub-20 de 1993, 1995 e 1999 e a sucessiva base de atletas de elite do futebol nacional. A FPF trabalha hoje lado a lado com os clubes, que já são pequenas ou grandes máquinas a empurrar este comboio de forma coletiva”, explicou.
Carlos Queiroz entrou nos quadros da FPF em 1987, movido pela ambição de projetar as seleções jovens na elite mundial “de forma constante”, mas questionando como seria possível suplantar países que dispunham de suportes de recrutamento inalcançáveis.
“A formação sofria de enormes carências financeiras, técnicas, estruturais e também de conceito metodológico na forma de preparar os jogadores. Essa foi a grande viragem, porque foi preciso muito trabalho inovador e transformar dentro do campo, aplicando conceitos dirigidos às tendências evolutivas do jogo que líamos na altura”, partilhou.
A consequente “luta fora das quatro linhas” originou “algumas divergências e dissabores pessoais”, sinal do “quão difícil é chocar com acomodações e interesses”, no intuito de que os talentos “evoluíssem em melhores condições, campeonatos e equipamentos”.
“Nunca é fácil estar um passo à frente dos tempos, sabendo que somos os responsáveis pela mudança. Só que eu era o líder e a liderança não é um concurso de popularidade. Para se ser líder, é preciso tomar decisões que às vezes passam pelo sim, outras vezes pelo talvez e muitas vezes pelo não e é aqui que costumam existir conflitos”, admitiu.
O célebre ‘Projeto Queiroz’ produziu nos meses anteriores ao Mundial de sub-20 da Arábia Saudita o primeiro título (1989) e uma final perdida (1988) no Europeu de sub-16, além da terceira presença no jogo decisivo e do segundo cetro continental de sub-18.
“No futebol de formação daquela altura, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) era a máquina de um comboio que puxava as carruagens dos clubes. Ao longo destes anos, estes foram aperfeiçoando-se e preparando cada vez melhor metodológica, técnica e cientificamente os seus departamentos de formação”, frisou à agência Lusa o treinador.
A profissionalização da FPF, sob o signo de uma nova mentalidade coletiva, acelerou a maturação competitiva do talento nacional, responsável por converter idas ocasionais numa presença constante das várias seleções em fases finais de Europeus e Mundiais.
“Foi essa renovação e inovação contínua que pusemos a funcionar na FPF e que dá logo a presença nos Mundiais de sub-20 de 1993, 1995 e 1999 e a sucessiva base de atletas de elite do futebol nacional. A FPF trabalha hoje lado a lado com os clubes, que já são pequenas ou grandes máquinas a empurrar este comboio de forma coletiva”, explicou.
Carlos Queiroz entrou nos quadros da FPF em 1987, movido pela ambição de projetar as seleções jovens na elite mundial “de forma constante”, mas questionando como seria possível suplantar países que dispunham de suportes de recrutamento inalcançáveis.
“A formação sofria de enormes carências financeiras, técnicas, estruturais e também de conceito metodológico na forma de preparar os jogadores. Essa foi a grande viragem, porque foi preciso muito trabalho inovador e transformar dentro do campo, aplicando conceitos dirigidos às tendências evolutivas do jogo que líamos na altura”, partilhou.
A consequente “luta fora das quatro linhas” originou “algumas divergências e dissabores pessoais”, sinal do “quão difícil é chocar com acomodações e interesses”, no intuito de que os talentos “evoluíssem em melhores condições, campeonatos e equipamentos”.
“Nunca é fácil estar um passo à frente dos tempos, sabendo que somos os responsáveis pela mudança. Só que eu era o líder e a liderança não é um concurso de popularidade. Para se ser líder, é preciso tomar decisões que às vezes passam pelo sim, outras vezes pelo talvez e muitas vezes pelo não e é aqui que costumam existir conflitos”, admitiu.
O célebre ‘Projeto Queiroz’ produziu nos meses anteriores ao Mundial de sub-20 da Arábia Saudita o primeiro título (1989) e uma final perdida (1988) no Europeu de sub-16, além da terceira presença no jogo decisivo e do segundo cetro continental de sub-18.
“Ouvíamos na Europa dizer que os portugueses tinham um jeito enorme para jogar à bola. O segredo do sucesso foi o imenso trabalho dirigido para transformar essas habilidades técnicas em competências coletivas e individuais dentro do campo. Tenho muitos ídolos pessoais de outros tempos, mas este conceito permitiu dar um passo em frente na mentalidade e tornou os atletas mais responsáveis e competentes”, insistiu.
A inédita conquista de Riade seria revalidada dois anos depois em Lisboa, provando que “não foi um passo de mágica”, até por estar intercalada com um ainda singular terceiro lugar no Mundial de sub-16 (1989) e nova final perdida do Europeu de sub-18 (1990).
“A praticamente três meses do Mundial de sub-20 de 1991, tive um convite excecional para poder trabalhar num dos melhores clubes portugueses e europeus. Como tínhamos proposto muitas mudanças e sacrifícios às pessoas, a FPF não esteve de acordo com a minha saída e eu fiquei conscientemente em dúvidas sobre se sair naquela altura não seria virar as costas à FPF em termos de compromisso. Isso pesou muito”, rememorou.
Carlos Queiroz permaneceu e abraçou uma “aventura extraordinária” há exatos 30 anos, recusando reivindicar que a seleção “tivesse um super-homem à frente” na caminhada triunfal até à final com o Brasil (4-2 nos penáltis, após um ‘nulo’ no prolongamento).
“Fiz parte de uma equipa extraordinária de colaboradores, uns mais visíveis e outros menos, a quem chamávamos os ‘carolas’, como treinadores e dirigentes anónimos, que suportavam o futebol juvenil. O meu amigo, irmão e companheiro desta jornada Nelo Vingada definia de forma simples: ganhávamos pouco, mas divertia-nos à brava”, atirou.
Definindo o eterno adjunto como “peça-chave fundamental neste processo”, ao ter um “papel afetivo e emocional de dar mimos”, o então selecionador de sub-20 “fazia-se por vezes de mauzão”, equilibrando essa dupla técnica perante jovens dos 14 aos 22 anos.
“Eu era um bocado indisciplinado com as horas e, se às três ou quatro da manhã tivesse uma ideia de trabalho, não hesitava em ligar-lhe para dizer o que teríamos de fazer no dia seguinte. Como o Nelo tinha de descer as escadas para ir atender, montou na altura uma linha telefónica para ter no quarto e poder estar sempre pronto e disponível”, gracejou.
Queiroz nada surpreso com treinadores advindos da 'geração de ouro'
Vinte e cinco dos 36 futebolistas portugueses campeões mundiais de sub-20 em 1989 e 1991 já trabalharam em equipas técnicas de clubes ou seleções, tendência nada inesperada para o então selecionador luso Carlos Queiroz.
“A apetência normal e comum dos ex-jogadores é quererem ser treinadores. Isto já foi mais do que agora, porque nem todas as pessoas têm essa vocação. Uma coisa é certa: quando acabam as carreiras, estão mais à vontade para definir os objetivos de vida consoante as suas motivações pessoais e familiares”, notou à agência Lusa o treinador.
Filipe Ramos e Rui Bento, ambos vitoriosos no Mundial de 1989, na Arábia Saudita, são os atuais selecionadores de sub-20 e sub-19, respetivamente, enquanto Emílio Peixe, considerado o melhor jogador do torneio de 1991, em Portugal, comanda os sub-18.
“Quando voltei à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em 2008 e me pediram para rever as plataformas de funcionamento que lá estavam desde que saí em 1993, decidi abrir a porta a jovens treinadores que tinham feito carreiras brilhantes no nosso futebol e tinham esse sabor de campeões europeus e mundiais debaixo da boca”, rememorou.
A intenção de Carlos Queiroz era consciencializar as novas fornadas de talentos para a necessidade de corresponderem a elevados padrões de exigência, usando ex-atletas convertidos em treinadores para “transmitir imagens emocionais de ambição e glória”.
“Claro que os títulos fazem crescer e são sabores que nos ficam para sempre debaixo da língua. Ser campeão em qualquer coisa é como um estupefaciente: temos de conviver com ele até ao resto da nossa vida. É isso que nos faz ir lá abaixo e querer treinar mais para que esse sabor nunca mais termine. Agora, não foram estes títulos que criaram grandes ilusões neles. O sonho começa quando querem ser profissionais”, defendeu.
Parte do lote de campeões entregou-se a funções diretivas em clubes portugueses ou trabalha no agenciamento de futebolistas, ao passo que outros desligaram-se de vez, após trajetos nos relvados bem distintos quanto a sucesso desportivo e mediatismo.
“Ninguém me surpreendeu pela positiva, porque esperei sempre e imaginava um futuro risonho e brilhante para todos eles. Talvez uns mais e outros menos, mas tive a ideia de que todos eles iriam cumprir o sonho que os fez levar ali. Só que depois vem a vida, que não é uma ponte fixa, rígida e sólida, abana e às vezes tem buracos pelo meio”, admitiu.
Como em tudo na vida, “nem todos chegam aos sonhos”, penalizados por “lesões e infelicidades de carreira” ou “metendo a mão na consciência por razões mais próprias”, panorama que não impede Carlos Queiroz de designar todos como “lutadores da vida”.
“Acho que existe ainda um hiato a preencher no plano social e valia a pena os nossos responsáveis abrirem um departamento para que a FPF pudesse refletir sobre uma ou outra situação individual, porque não se pode esquecer uma única pessoa que num único jogo tenha vestido a camisola da seleção nacional e tenha trazido prestígio e honra ao país. Na minha visão, fazer isso é um desleixo e uma desatenção imperdoável”, sugeriu.
O ex-selecionador nacional ‘AA’, entre 1991 e 1993 e 2008 e 2010, considera que a missão do organismo federativo é “passar também um exemplo de referência aos modelos que, eventualmente, não cheguem ao topo”, para lá de difundir “imagens de popularidade”.
“Não podemos estar sempre disponíveis para aplaudir os golos do Cristiano e esquecer todos aqueles que ajudaram hoje o Ronaldo e amanhã o Bernardo Silva e o Diogo Jota a chegar ao patamar onde estão. É importante saberem de onde viemos e as raízes, que vão dignificar cada vez mais o futuro. Isto é, o que faz Luís Figo e Cristiano Ronaldo cada vez maiores é sabermos que há 10 ou 20 anos vimos coisas quase do zero”, elucidou.
A mensagem de Carlos Queiroz tem como destinatário preferencial a “memória viva” das gerações abaixo dos 30 anos, que poderão pensar que Portugal “tinha minas de ouro” quando ouvem falar de uma ‘geração de ouro’ futebolística eternizada há três décadas.
“Estivemos a divertir-nos com a nossa seleção no Euro2020, mas, por detrás desses heróis do momento, estão outros já a preparar o futuro das seleções que vão garantir o êxito de Portugal. Não começámos a pensar no Europeu três meses antes, mas de forma cumulativa, preparando jogadores e equipas a curto, médio e longo prazo”, finalizou.
Vinte e cinco dos 36 futebolistas portugueses campeões mundiais de sub-20 em 1989 e 1991 já trabalharam em equipas técnicas de clubes ou seleções, tendência nada inesperada para o então selecionador luso Carlos Queiroz.
“A apetência normal e comum dos ex-jogadores é quererem ser treinadores. Isto já foi mais do que agora, porque nem todas as pessoas têm essa vocação. Uma coisa é certa: quando acabam as carreiras, estão mais à vontade para definir os objetivos de vida consoante as suas motivações pessoais e familiares”, notou à agência Lusa o treinador.
Filipe Ramos e Rui Bento, ambos vitoriosos no Mundial de 1989, na Arábia Saudita, são os atuais selecionadores de sub-20 e sub-19, respetivamente, enquanto Emílio Peixe, considerado o melhor jogador do torneio de 1991, em Portugal, comanda os sub-18.
“Quando voltei à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em 2008 e me pediram para rever as plataformas de funcionamento que lá estavam desde que saí em 1993, decidi abrir a porta a jovens treinadores que tinham feito carreiras brilhantes no nosso futebol e tinham esse sabor de campeões europeus e mundiais debaixo da boca”, rememorou.
A intenção de Carlos Queiroz era consciencializar as novas fornadas de talentos para a necessidade de corresponderem a elevados padrões de exigência, usando ex-atletas convertidos em treinadores para “transmitir imagens emocionais de ambição e glória”.
“Claro que os títulos fazem crescer e são sabores que nos ficam para sempre debaixo da língua. Ser campeão em qualquer coisa é como um estupefaciente: temos de conviver com ele até ao resto da nossa vida. É isso que nos faz ir lá abaixo e querer treinar mais para que esse sabor nunca mais termine. Agora, não foram estes títulos que criaram grandes ilusões neles. O sonho começa quando querem ser profissionais”, defendeu.
Parte do lote de campeões entregou-se a funções diretivas em clubes portugueses ou trabalha no agenciamento de futebolistas, ao passo que outros desligaram-se de vez, após trajetos nos relvados bem distintos quanto a sucesso desportivo e mediatismo.
“Ninguém me surpreendeu pela positiva, porque esperei sempre e imaginava um futuro risonho e brilhante para todos eles. Talvez uns mais e outros menos, mas tive a ideia de que todos eles iriam cumprir o sonho que os fez levar ali. Só que depois vem a vida, que não é uma ponte fixa, rígida e sólida, abana e às vezes tem buracos pelo meio”, admitiu.
Como em tudo na vida, “nem todos chegam aos sonhos”, penalizados por “lesões e infelicidades de carreira” ou “metendo a mão na consciência por razões mais próprias”, panorama que não impede Carlos Queiroz de designar todos como “lutadores da vida”.
“Acho que existe ainda um hiato a preencher no plano social e valia a pena os nossos responsáveis abrirem um departamento para que a FPF pudesse refletir sobre uma ou outra situação individual, porque não se pode esquecer uma única pessoa que num único jogo tenha vestido a camisola da seleção nacional e tenha trazido prestígio e honra ao país. Na minha visão, fazer isso é um desleixo e uma desatenção imperdoável”, sugeriu.
O ex-selecionador nacional ‘AA’, entre 1991 e 1993 e 2008 e 2010, considera que a missão do organismo federativo é “passar também um exemplo de referência aos modelos que, eventualmente, não cheguem ao topo”, para lá de difundir “imagens de popularidade”.
“Não podemos estar sempre disponíveis para aplaudir os golos do Cristiano e esquecer todos aqueles que ajudaram hoje o Ronaldo e amanhã o Bernardo Silva e o Diogo Jota a chegar ao patamar onde estão. É importante saberem de onde viemos e as raízes, que vão dignificar cada vez mais o futuro. Isto é, o que faz Luís Figo e Cristiano Ronaldo cada vez maiores é sabermos que há 10 ou 20 anos vimos coisas quase do zero”, elucidou.
A mensagem de Carlos Queiroz tem como destinatário preferencial a “memória viva” das gerações abaixo dos 30 anos, que poderão pensar que Portugal “tinha minas de ouro” quando ouvem falar de uma ‘geração de ouro’ futebolística eternizada há três décadas.
“Estivemos a divertir-nos com a nossa seleção no Euro2020, mas, por detrás desses heróis do momento, estão outros já a preparar o futuro das seleções que vão garantir o êxito de Portugal. Não começámos a pensar no Europeu três meses antes, mas de forma cumulativa, preparando jogadores e equipas a curto, médio e longo prazo”, finalizou.