Festival Imaterial 2024
03 fev. 2025
Um documentário RTP Palco com realização de Hugo Manso.Se a cada edição o Imaterial nos vai revelando, dando mostras da sua vontade própria e do seu natural crescimento, a sua identidade de uma forma mais definida, também se vai assemelhando cada vez mais com o Imaterial que sonhámos num primeiro momento. O Imaterial nasceu em Évora, à sombra do estatuto de Património Imaterial da Humanidade atribuído pela UNESCO ao cante alentejano, mas também de olhos na classificação do centro histórico de Évora como Património Mundial da Humanidade. E, desde logo, o desejo foi o de criar ligações entre estas duas dimensões patrimoniais, colocar a música a dialogar com a paisagem (mais ou menos edificada), deixando que as histórias cantadas hoje possam comunicar com as histórias que atravessam séculos e estão impregnadas nas paredes da cidade e nos lugares que a circundam.O cante alentejano é também, e como bem sabemos, um canto ligado ao trabalho no campo, um canto que verseja com frequência sobre o maravilhamento e a ligação à Natureza, um canto que ajudava a espantar as dores no corpo e a vencer as jornadas de trabalho. É ainda símbolo de uma música que, como testemunhamos em tantas tradições que se apresentam no Imaterial, está impressa no quotidiano, faz parte dos dias não apenas como expressão artística ? é mais do que isso, confunde-se com a vida, fala em nome de povos e de regiões, de práticas sociais e costumes locais.A busca pela ligação com a paisagem, como tinha sido imaginada desde o início, leva a que o Imaterial continue a fazer do magnífico Teatro Garcia de Resende a sua sala de honra, enquanto propõe escutar alguns dos seus protagonistas em espaços como o Cromeleque dos Almendres ou a Herdade do Freixo do Meio.E em tempos como aqueles que vivemos, em que as tentativas de promover a desconfiança do desconhecido se multiplicam, o Imaterial inaugura sessões para escolas com alguns dos músicos de diferentes culturas e geografias que visitam Évora por estes dias. Para que, desde cedo, aprendamos a escutar quem tem uma voz diferente da nossa. Quem só a si escuta está a perder o mundo.