Futre o ouro e a namorada polícia de Saltillo

por Mário Aleixo - RTP
Paulo Futre contou as histórias incríveis de Saltillo Lusa

O antigo internacional abriu o livro sobre o "desastre" de Saltillo.

O extremo qualificou "como a página mais negra do futebol português" a participação da seleção portuguesa no Mundial do México, há 30 anos.

"Culpados fomos todos, até eu, que era um miúdo, tinha 20 anos. Foi a primeira vez que surgiu a publicidade numa grande competição e a Federação, também pela sua inexperiência, não soube negociar com os jogadores e evitar os problemas que surgiram, deixando a situação chegar ao limite", começou por recordar Paulo Futre, em entrevista à agência Lusa, precisamente 30 anos depois do "caso Saltillo".

Para o antigo internacional português, o que estava em causa eram as receitas de publicidade e a percentagem que os jogadores pretendiam receber da mesma: "Não sei se eram 20, ou se eram 30 por cento, o que sei é que a Federação, no início, não nos queria dar nada. Além da publicidade às botas que cada um tinha, foi a primeira vez que surgiram fontes de receitas publicitárias, como da televisão. Queríamos uma fatia da 'tarte', mas a Federação queria ficar com tudo. E aí começaram os problemas."

Namorada polícia e o ouro

Entre as histórias vividas no Mundial de futebol México1986, Paulo Futre conta uma em que arranjou uma namorada polícia, cujo carro conduzia: "Depois de sermos eliminados do Mundial, voltámos ao local do estágio, onde ficámos mais três ou quatro dias antes do regresso a Portugal. Nessa altura, já era eu que conduzia o carro dela, mostrava o cartão da polícia, era sempre em frente, não parava nem em 'operações stop'. Sentia-me o rei de Saltillo!"
 


Numa outra história Futre contou como foi possível regressar a Portugal carregado de ouro: "Houve algumas mexicanas que se apaixonaram por alguns companheiros meus. Não sei o que aconteceu entre eles, mas começaram a receber prendas em ouro de todo o tipo. Algumas eram ricas, muito ricas, e casadas", recordou o ex-futebolista para enquadrar a história de modo a tornar percetível o seu desfecho.



Na hora de fazer as malas e regressar a Portugal, essas prendas de ouro tornaram-se um problema: "Alguns eram casados e não podiam levar essas prendas para casa e tiveram de 'negociar' com os solteiros, como eu. Então parecia que estávamos na feira, a fazer negócio. O que sei é que eu, que não tinha problema nenhum, trouxe um saco cheio de ouro para casa, ouro esse que fui vendendo pouco a pouco, despachando aquilo de uma maneira ou de outra."

Jogo treino muito estranho

Paulo Futre diz que a seleção portuguesa de futebol no Mundial do México "parecia uma equipa de solteiros e casados" e que o amadorismo era tal que andou "a jogar contra os cozinheiros e funcionários do hotel".

"Quando o caos se instalou, treinávamos em tronco nú, cada um com os seus calções, tenho fotos disso, parecíamos uma equipa de solteiros e casados. Não era possível estarmos num Mundial", disse Paulo Futre.

Futre recordou que, a determinada altura, estava um jogo de preparação programado com a seleção do Chile, que não se chegou a realizar porque os chilenos exigiram um "cachet" e a Federação não quis pagar: "Como não houve esse jogo com o Chile, jogámos contra os cozinheiros e empregados do hotel."

Futre na primeira pessoa a recordar Saltillo trinta anos depois.

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