Reportagem

Telejornal. A última entrevista de Centeno enquanto ministro das Finanças

por RTP

O ministro que abandona a condução das Finanças portuguesas concedeu à RTP a derradeira entrevista enquanto titular da pasta das contas do Estado no Governo de António Costa.

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Nesta entrevista, Mário Centeno admitiu que qualquer economista gostaria de poder assumir o cargo de governador do Banco de Portugal, considerando não existir qualquer incompatibilidade entre esse e o cargo de ministro das Finanças.


Centeno esclareceu ainda que a sua relação com o primeiro-ministro não sofreu qualquer deterioração, classificando-a de “saudavelmente tensa”.

Quanto à crise trazida pela pandemia de Covid-19 a Portugal, o responsável pela pasta das Finanças disse acreditar que o Governo possui os “instrumentos necessários” para dar resposta, mas que o esforço exigido a todos “vai ser grande”.

Em relação à sua saída, o ainda ministro adiantou que a única razão para a mesma foi o fecho de um ciclo. Na segunda-feira, Centeno é substituído pelo até agora secretário de Estado do Orçamento, João Leão. Continua como presidente do Eurogrupo até 13 de julho.


21h38 – A primeira coisa que vai fazer quando deixar Eurogrupo

Mário Centeno confessa que a primeira coisa que vai fazer quando deixar o Eurogrupo, depois de ter já abandonado o cargo de ministro das Finanças, é tirar férias. "Cá dentro", acrescenta.


21h34 – “Qualquer economista pode gostar de desempenhar” cargo de governador do Banco de Portugal

Questionado sobre a possibilidade de assumir o cargo de governador do Banco de Portugal, Mário Centeno explicou que “essa decisão compete ao próximo ministro das Finanças e ao Governo tomar, porque há uma vaga que vai abrir”.

“É um cargo que é muito importante para o país, que não vai perder importância nos próximos anos e, portanto, é um cargo que qualquer economista pode gostar de desempenhar”, declarou, acrescentando que a decisão sobre quem o vai ocupar não é sua.

Quanto à eventual incompatibilidade entre o atual cargo de ministro das Finanças e um futuro carto de governador, Centeno disse não conhecer nenhum país “que tenha esse género de incompatibilidades escritas em normas”.

“Ser governante não é propriamente um cadastro. Nós somos governantes e desempenhamos essa função sobre um juramento de lealdade às funções que ali assumimos. Eu acho que é assim que deve ser continuado, para valorizar todas as funções que existem no país”.

21h33 – “Não tenho ambições políticas”

O ministro das Finanças garante que não tem ambições políticas agora que abandona o cargo no executivo socialista de António Costa.

“Não tenho ambições políticas hoje nenhumas”, admitiu Centeno, dizendo possuir “uma maneira de estar muito analítica” que irá manter-se.

21h30 – Apoio de emergência à TAP

Sobre o empréstimo de emergência à TAP, Mário Centeno frisou que Portugal teve, como muitos outros países, de enfrentar “um dilema que não é fácil: como apoiar um setor que de repente deixou de funcionar totalmente”.

“A situação do setor da aviação em todo o mundo é muito difícil”, declarou. “Não nos podemos esquecer que o Estado é acionista da TAP, mas na TAP também há acionistas privados e, portanto, o esforço conjunto de privados e Estado tem de ser utilizado da melhor forma, preservando os interesses dos contribuintes”.

21h25 – Governo tem “instrumentos necessários” para responder à crise

Questionado sobre se vai ser possível evitar a grande onda de despedimentos que já afeta a Europa, Mário Centeno afirmou que o Governo foi chamado “a um exercício que nunca foi tentado em lado nenhum, que é reabrir uma economia que entretanto tinha sido mandada fechar”.

“Eu acho que nós temos os instrumentos necessários para responder. Vamos ter que ser todo muito focados e o esforço que vai ser exigido vai ser grande”, defendeu, mas relembrou que Portugal já antes tinha sido chamado a responder a desafios difíceis.

“Nós não estamos perante uma crise que necessite de reformas do mercado de trabalho ou de reformas na Administração Pública, ou que o sistema financeiro esteja desequilibrado, como estava em 2008-2011. Nada disso acontece”, esclareceu o ministro.

“Nós em 2010 tivemos um défice de dez por cento”, acrescentou.

21h21 – Centeno volta a frisar que nunca falou com António Costa e Silva

Mário Centeno tinha, na semana passada, declarado que nunca falou com António Costa e Silva, o gestor que António Costa convidou para desenhar o Plano de Recuperação Económica e Social.

Na entrevista à RTP, o ministro das Finanças voltou a frisar que não conhece nem falou com António Costa e Silva, “mas a decisão e a escolha sobre o nome e sobre a tarefa a atribuir foi obviamente debatida dentro do Governo”.

“Eu participei nessa discussão”, esclareceu Centeno, acrescentando que “no final todos concordaram” com a decisão. “Não há nenhuma questão associada a isso”.

21h17 – Vontades de ambas as partes “sempre foram entendidas”

Questionado sobre se António Costa lhe pediu que não saísse do Governo, Centeno não quis responder, mas garantiu que “sempre foram entendidas, de parte a parte, aquilo que eram as necessidades, os desejos, as vontades”.

“Tivemos sempre, ao longo do tempo, uma relação muito leal, muito franca, muito transparente”, voltou a salientar.

21h13 – “Boas relações” com Marcelo Rebelo de Sousa

O ainda responsável pela pasta das Finanças garantiu que não sentiu falta de apoio por parte do Presidente da República e que não se sentiu incomodado com quaisquer declarações em torno de situações polémicas, como a do Novo Banco.

“Do ponto de vista institucional, no Governo, sempre tivemos boas relações com o senhor Presidente da República. O senhor primeiro-ministro faz com bastante regularidade referência a isso mesmo”, frisou Centeno.

21h08 – Boa relação com António Costa mantém-se

Mário Centeno aproveitou para esclarecer que todas as leituras que têm sido feitas sobre a sua relação com o primeiro-ministro são “obviamente descontextualizadas”. “Não houve nenhuma deterioração dessa relação, nem podia haver”, garantiu, caracterizando-a como “saudavelmente tensa”.

“Ele, aliás, poderia até ficar um pouco surpreendido, para não dizer desgostoso, com a possibilidade que alguém colocasse de eu poder exercer o meu lugar enquanto ministro das Finanças sem ter uma relação absolutamente transparente e absolutamente clara com o senhor primeiro-ministro”, afirmou.

“Não há nenhuma possibilidade de entre um ministro das Finanças e um primeiro-ministro que trabalham ao longo de quase cinco anos (…) não haver um trabalho de preparação muito profícuo, muito detalhado e que, obviamente, tem escolhas, e essas escolhas são feitas por quem lidera o Governo”.

“Aquilo que eu fazia era tentar enquadrar financeiramente escolhas que todos tínhamos decidido coletivamente”, acrescentou.

O ainda ministro assegurou que não deixou de se identificar com as prioridades do Governo e que “nada mudou do ponto de vista político” nem no “relacionamento pessoal”.

21h06 – “Fim de um ciclo”

Questionado sobre a altura escolhida para a saída do Governo, Mário Centeno explicou que este é “o fim de um ciclo”.

“Estes ciclos, em política, definem-se pela duração dos mandatos”, sendo esta a altura do fim do mandato no Eurogrupo, justificou. “Não há nenhum motivo, é mesmo só o ciclo. E nós temos que olhar para estas questões com tranquilidade”.

“Foi uma honra para mim ter participado nesta fase” em que foi possível credibilizar todo o processo que esteve “associado à estabilização do nosso sistema financeiro”, acrescentou. “Isso foi uma conquista que teve necessidade de um esforço continuado na primeira parte da legislatura anterior”.

21h02 – “Estive concentrado em todas as tarefas”

Em entrevista à RTP, e questionado sobre quando tomou a decisão de sair do Governo, Mário Centeno explicou que esteve “concentrado em todas as tarefas” que teve de executar, até aquela que foi a apresentação do orçamento suplementar, ainda esta semana.

“Essa decisão foi sempre construída, ao longo do tempo, juntamente com o senhor primeiro-ministro, mas sempre num contexto de grande responsabilidade em relação àquilo que foram as sucessivas tarefas que o ministro das Finanças de Portugal tem para desempenhar, ainda mais quando é ao mesmo tempo presidente do Eurogrupo”, continuou.
Fim da reunião do Eurogrupo
Mário Centeno terminou ao final da tarde desta quinta-feira a reunião do Eurogrupo que deu o pontapé de saída para a sua sucessão. Entre os candidatos mais fortes para este cargo está a ministra espanhola da Economia.
Para já, o momento é de elogio ao trabalho desenvolvido pelo ministro das Finanças de Portugal. A reportagem é do correspondente em Bruxelas, Duarte Valente.

Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião, celebrada por videoconferência, Centeno indicou que informou os ministros sobre "os procedimentos para a eleição do próximo presidente do Eurogrupo", adiantando que "a abertura oficial de candidaturas será lançada em breve pelo Conselho, e os ministros terão até 25 de junho para enviar as cartas de motivação a apoiar as respetivas candidaturas", com a eleição a ter lugar no início de julho.

"Informei os meus homólogos que não me candidatarei a um segundo mandato. Continuarei presidente até ao final do meu mandato, que é 12 julho. Todas as coisas boas têm um fim. Mas ainda me verão no nosso encontro de julho. Será um grand finale, com uma agenda preenchida e a eleição do novo presidente", declarou.

Questionado, pela imprensa espanhola, sobre se gostaria de ver suceder-lhe uma mulher, designadamente a ministra espanhola Nadia Calviño, apontada como uma das favoritas à corrida agora lançada para a liderança do Eurogrupo, Centeno escusou-se "especular sobre quaisquer nomes ou tipo de candidatos".