Mundial. Megan Rapinoe diz que FIFA "não respeita o futebol feminino"

por RTP
Megan Rapinoe utilizou a ocasião do torneio para ser pronunciar acerca da desigualdade Bernadett Szabo - Reuters

Megan Rapinoe, da seleção de futebol dos Estados Unidos, diz que a FIFA "não respeita o futebol feminino", apontando a desigualdade salarial, os diferentes valores dos prémios finais para homens e mulheres e a data da final do Mundial.

Megan Rapinoe, co-capitã da equipa norte-americana de futebol, que venceu o mundial, capitalizou o momento para se pronunciar acerca do que considera ser a desigualdade de que as mulheres são alvo.

Após a vitória frente à Holanda na final em Lyon, Rapinoe não se coibiu de criticar a FIFA. Em primeiro lugar, a capitã criticou a decisão da FIFA em colocar a final do Mundial de futebol feminino no mesmo dia das finais da Copa América e da Gold Cup.

"É uma ideia terrível colocar tudo no mesmo dia. Isto é a final do Mundial. Devia ser um dia em que se cancela tudo o resto". 

A FIFA respondeu que discutiu "os horários dos respetivos jogos em geral para minimizar quaisquer potenciais conflitos de horários". 

Mas Rapinoe acrescentou que "a final do Mundial é planeada com tanta antecedência que é mesmo inacreditável. Por isso, não. Não acho que tenhamos o mesmo nível de respeito que a FIFA tem certamente para com os homens".
Prémios diferentes
A capitã referiu também a existência de uma desigualdade de pagamentos, criticando, em particular, o prémio final do Mundial de futebol feminino. Na sexta-feira, a FIFA anunciou que o montante aumentará no mundial de 2023 - para as mulheres, 53 milhões; para os homens, 392 milhões.

"Certamente não é justo. Se se preocupam mesmo com a desigualdade, porque estão a organizar três finais para o mesmo dia?", questionou.

E acrescentou: "Eu acho que já estamos fartas do será que valemos a pena, será que devemos ter salários iguais, será que o mercado é o mesmo? Todas estão fartas disso. Nós, como jogadoras, fizemos o espetáculo mais incrível que podiam pedir. Nós não podemos fazer mais nada para impressioná-los, para sermos melhores embaixadoras, para fazer mais, para jogar melhor".
Disparidade não se deve a diferenças de lucros
Atualmente, o salário do futebolista Neymar é equivalente aos salários combinados das sete futebolistas mais bem pagas e equivalente também aos salários combinados de 1693 jogadoras em França, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Suécia, Austrália e México.

Na Super Liga Feminina de Inglaterra, 88 por cento das jogadoras recebem menos de 20 mil euros por ano e 58 por cento já consideraram desistir do desporto por motivos financeiros.

Frequentemente, a desigualdade salarial no desporto é associada aos lucros comerciais gerados pelas mulheres e pelos homens, mas tal não corresponde à realidade. De facto, a própria FIFA afirma que as receitas comerciais vindas do Mundial de futebol feminino não podem ser separadas das outras competições da Federação, porque os direitos comerciais são vendidos como um pacote. 

Por outro lado, nos Estados Unidos, a equipa feminina venceu já quatro mundiais, ao passo que a equipa masculina nunca ganhou. Porém, uma investigação do jornal britânico The Guardian revelou que os jogadores masculinos recebem mais do triplo que as jogadoras.
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