Se for verdade que festa molhada é festa abençoada, estes Jogos Olímpicos têm entrada direta no Guiness Book. Toda a Santa Cerimónia de Abertura foi um concurso aberto entre o caudal do Sena e as nuvens pouco passageiras.
Seguramente por ciúme de tanto protagonismo, o sistema de rega desta verde França decidiu, por Toutatis, cair-nos em cima da cabeça.
Eu e o Rodrigo Lobo, as nossas tralhas - camera, kit de iluminação, mala de baterias, sistema de diretos, mochilas, tripés, comida e bebida de sobrevivência - uns bons 30 ou 40 kg de matéria prima televisiva, percebemos logo qual era o nosso único transporte olímpico garantido para, em quatro horas, chegar à ponte Alexander III, o ponto de direto designado: os nossos pés.
Chegar lá. Bem... chegar lá é fintar multidões como se fossemos um Zicky Té com atrelados, convencer polícias de que a acreditação olímpica é um livre trânsito oficial. Poupo-vos partes rocambolescas por limitação de caracteres. Juro: rocambolescas. Entrámos a vinte minutos do tempo limite. Posições de direto ocupadíssimas.
O André, português e repórter de imagem ao serviço da TV do Catar, chegou-se meio metro para o lado para nos aconchegar. Montámos o "estúdio". Oferecemos a nossa luz para os diretos dele. Partilhámos a água, bilingue, que caía do céu até eles desistirem dos diretos demasiado húmidos.
O Catari, Deus o abençoe, foi comprar comida e bebida halal para todos antes de nos deixar por herança o dobro do espaço.
Não vos vou narrar a Cerimónia mais húmida da minha sextupla existência olimpica. O mundo testemunhou como a felicidade consegue, basta juntar-lhe muita água, unir atletas em barcos, público em bancadas e margens, jornalistas da Terra inteira, num sorriso de realização plena de orgulho por estar "ali".
A marcha atlética de regresso ao hotel foi igualmente regada, mais pesada (todo o material, corpos e roupa decidiram trazer água olímpica como recordação), mas cumprida em muito menos tempo e zigzag.
O meu telemóvel desmaiou a meio da noite. Demasiadas lágrimas de alegria na porta USB. Foi o do Rodrigo Lobo (Deus m'o conserve) que me deu escuta.
Agradeço ao hotel o acesso gratuito ao secador de cabelo, que o reanimou em 15 minutos de seca soprada, às duas da madrugada. Às 3h00, com o quarto armado em estendal da Aldeia da Roupa Branca, deito-me com estrondo na caminha fofa.
Só tive tempo para um suspiro. Esqueci-me de desligar a luz do quarto. Chamei-me um nome feio. Contratei uma grua emocional para regressar à posição "de pé". Desligo no interruptor. Ele não aceita. Regressa à posição ON. Repito.
Interruptor teimoso como eu. Não aceita. Não prende no off. Tento mais quatro vezes. Nem pensar. Não desliga. "Não!! Nem penses que vou dormir de luz acesa".
Não o tinha sequer torcido. Tem a etiqueta? Tem. Enfio-a no pinxavelho do interruptor. Dou uma volta armada em nó.
Tlack! O estalido sonoriza a passagem a escuro.
"Segura? Sim, segura". Boa. Vamos dormir sobre este dilúvio olimpico.
Hoje, a meta do ciclismo é exactamente no mesmo ponto. Ponte. Alexandte III. E a água, por cima e por baixo, aussi.
Eu e o Rodrigo Lobo, as nossas tralhas - camera, kit de iluminação, mala de baterias, sistema de diretos, mochilas, tripés, comida e bebida de sobrevivência - uns bons 30 ou 40 kg de matéria prima televisiva, percebemos logo qual era o nosso único transporte olímpico garantido para, em quatro horas, chegar à ponte Alexander III, o ponto de direto designado: os nossos pés.
Chegar lá. Bem... chegar lá é fintar multidões como se fossemos um Zicky Té com atrelados, convencer polícias de que a acreditação olímpica é um livre trânsito oficial. Poupo-vos partes rocambolescas por limitação de caracteres. Juro: rocambolescas. Entrámos a vinte minutos do tempo limite. Posições de direto ocupadíssimas.
O André, português e repórter de imagem ao serviço da TV do Catar, chegou-se meio metro para o lado para nos aconchegar. Montámos o "estúdio". Oferecemos a nossa luz para os diretos dele. Partilhámos a água, bilingue, que caía do céu até eles desistirem dos diretos demasiado húmidos.
O Catari, Deus o abençoe, foi comprar comida e bebida halal para todos antes de nos deixar por herança o dobro do espaço.
Não vos vou narrar a Cerimónia mais húmida da minha sextupla existência olimpica. O mundo testemunhou como a felicidade consegue, basta juntar-lhe muita água, unir atletas em barcos, público em bancadas e margens, jornalistas da Terra inteira, num sorriso de realização plena de orgulho por estar "ali".
A marcha atlética de regresso ao hotel foi igualmente regada, mais pesada (todo o material, corpos e roupa decidiram trazer água olímpica como recordação), mas cumprida em muito menos tempo e zigzag.
O meu telemóvel desmaiou a meio da noite. Demasiadas lágrimas de alegria na porta USB. Foi o do Rodrigo Lobo (Deus m'o conserve) que me deu escuta.
Agradeço ao hotel o acesso gratuito ao secador de cabelo, que o reanimou em 15 minutos de seca soprada, às duas da madrugada. Às 3h00, com o quarto armado em estendal da Aldeia da Roupa Branca, deito-me com estrondo na caminha fofa.
Só tive tempo para um suspiro. Esqueci-me de desligar a luz do quarto. Chamei-me um nome feio. Contratei uma grua emocional para regressar à posição "de pé". Desligo no interruptor. Ele não aceita. Regressa à posição ON. Repito.
Interruptor teimoso como eu. Não aceita. Não prende no off. Tento mais quatro vezes. Nem pensar. Não desliga. "Não!! Nem penses que vou dormir de luz acesa".
É então que o meu génio da lâmpada se ilumina e me segreda: "Os problemas são os professores das soluções". Se Deus te dá um pólo RTP pesado com a água que o Céu te deu, usa-o a teu favor, João Pedro".
Tlack! O estalido sonoriza a passagem a escuro.
"Segura? Sim, segura". Boa. Vamos dormir sobre este dilúvio olimpico.
Hoje, a meta do ciclismo é exactamente no mesmo ponto. Ponte. Alexandte III. E a água, por cima e por baixo, aussi.