Fazendeiros contra recuperação de territórios atacam indígenas brasileiros
Parece uma questão quase histórica, que remonta à época em que os europeus colonizavam o continente americano, mas é uma situação ainda dos dias de hoje: as comunidades da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, na região oeste do Paraná, no Brasil, têm sido alvo de ataques e ameaças por parte de fazendeiros.
Desde então, os fazendeiros vêm atacando os indígenas em diversos locais, com tiros, incêndios e tentativas de atropelamento.
Segundo a imprensa brasileira, na terça-feira a habitação de uma família Avá-Guarani do Tekoha Ara Poty – uma das terras recuperadas na região, em Terra Roxa – foi destruída por fazendeiros que estavam acompanhados de agentes da Força Nacional de Segurança Pública.
Segundo as lideranças, sob o olhar conivente da Força Nacional, fazendeiros destruíram nesta terça (6) o barraco de uma família indígena no tekoha Ara Poty, retomada dos Avá-Guarani em Terra Roxa (PR). A ação foi filmada pelos próprios agressores, em vídeo que circula nas redes pic.twitter.com/ojGcmg9pPU
— Cimi (@ciminacional) August 8, 2024
“O proprietário conseguiu arrancar todo o barraco [a estrutura habitacional], colocou na camioneta e levou tudo. Foi um ataque”, acrescentou a mesma fonte, que frisou que naquele local vivia um casal, quatro crianças e uma pessoa idosa. “O casal ficou sem barraco. Foi um crime, queremos justiça”.
O vídeo foi gravado a partir do interior do veículo utilizado e no qual se vê dois homens a desmontar a estrutura enquanto a família indígena assiste à destruição da sua habitação.
“Foi combinado com o Jairo, vocês sabem”, ouve-se um dos homens, enquanto arrancam a lona que cobria a estrutura e removem as estacas que sustentavam a casa improvisada.
Os intervenientes alegam ainda à família que a “ação teria anuência” da Funai.
Mas o governador de Paraná, Ratinho Junior, tem afirmado que não vai aceitar “invasões indígenas”, referindo-se à ocupação de terras nas cidades de Terra Roxa, Guaíra e Altônia. As ameaças de reintegração de posse feitas pelo governador põem em risco cerca de 550 pessoas, entre crianças, mulheres e idosos do povo Ava Guarani.
Em julho, quando se iniciou o processo de retoma dos territórios, vários fazendeiros apresentaram ações judiciais a pedir o despejo do povo, acabando por conseguir que um juíz suspendesse o processo. Ao todo, são quatro reintegrações de posse e quatro interditos proibitórios que atingem quatro comunidades.
O tribunal decidiu ainda proibir a Funai de dar assistência ao povo Avá-Guarani, com a entrega de mantimentos, água e itens de higiene básica para as comunidades.
Contudo, os órgãos federais argumentaram que a ordem de despejo contra os indígenas “só acirraria os conflitos, impedindo ou postergando a efetiva solução da questão, devendo o pedido de interdito e reintegração ser indeferido”. A decisão de reverter os despachos judiciais não garante, no entanto, o fim dos ataques, das ameaças e da violência contra os indígenas.