Moçambique. Secretário-geral da ONU apela a que políticos acalmem as tensões
António Guterres defende uma solução pacífica e duradoura, com diálogo entre líderes políticos e intervenientes nacionais de Moçambique. Já morreram mais de 250 manifestantes desde as eleições de 21 de outubro. Só nos passados três dias morreram 125 pessoas. O caos está instalado.
Guterres informou que está a acompanhar de perto a situação e que está "preocupado com a violência que resultou na perda de vidas e na destruição de propriedade pública e privada".
Somam-se ainda 4.175 detidos desde o início da contestação pós-eleitoral, 137 dos quais desde segunda-feira.
Pelo menos 252 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, metade das quais apenas desde o anúncio dos resultados finais, na segunda-feira, segundo novo balanço feito na quinta-feira pela plataforma eleitoral Decide. Ainda desde segunda-feira, aquela ONG contabilizou 224 pessoas baleadas e 569 baleados desde 21 de outubro.
Caos no país
Esta quinta-feira foi o quarto dia de tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, marcados nos anteriores por saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.
O caos começa a tomar conta do país. Falta comida e combustível, e já nem os hospitais conseguem acudir a toda a gente que necessita.
O Centro para a Democracia e Direitos Humanos diz que a situação em Moçambique é explosiva e que o risco de guerra civil deve ser levado a sério.
A situação em Moçambique agravou-se depois de 1.534 reclusos terem escapado de uma prisão de alta segurança em Maputo no dia de Natal.
Há registo de dezenas de mortes e feridos, mas também centenas de presos a monte que ocuparam casas particulares.
O segundo candidato presidencial mais votado no país, Venâncio Mondlane, acusa o comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael, e o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, de orquestrarem esta fuga em massa.
Mondlane afirmou que as manifestações não vão parar, pedindo aos seus apoiantes que "intensifiquem" os protestos, evitando, no entanto, a destruição de bens públicos e privados.
Entre a população, há quem se comece a organizar em milícias armadas para se defender.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, assim como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 9 de outubro.
Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.