Novo Governo de Lecornu sob ameaças de censura em véspera de discurso na Assembleia

O novo governo de Sébastien Lecornu foi revelado na noite de domingo. Composto por 34 ministros, junta políticos e personalidades da sociedade civil, nomeados com a missão de "fornecer à França um orçamento antes do final do ano". Mas em véspera da apresentação do projeto de Orçamento de Estado para 2026 esta terça-feira, o Rassemblement National e a França Insubmissa já anunciaram que apresentaram moções de censura.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Magali Cohen - Reuters

Mergulhada numa crise política que se intensificou nas últimas semanas desde a demissão do atual primeiro-ministro renomeado Sébastien Lecornu, a França continua sem orçamento para 2026 no fim do prazo para apresentar um projeto do orçamento, sendo que a Constituição francesa determina que o Parlamento deve dispor de pelo menos 70 dias para examinar o documento antes de 31 de dezembro. "Foi nomeado um governo de missão para fornecer à França um orçamento antes do final do ano", declarou Sébastien Lecornu no X, realçando que "só uma coisa importa: o interesse do país". 

Após ter sido renomeado por Emmanuel Macron, na sexta-feira, Sébastien Lecornu quer "ultrapassar a crise política" que o país enfrenta.Esta segunda-feira, o primeiro-ministro francês reuniu com os seus novos ministros, antes de apresentar um projeto de orçamento para 2026 na terça-feira. Mas antes de chegar a um debate orçamental, o novo Governo terá de escapar à censura.
"A censura vem a caminho"

Os partidos A França Insubmissa (LFI), de esquerda radical, e o Rassemblement National (RN), de extrema-direita, anunciaram que apresentaram moções de censura. O líder do RN, Jordan Bardella, afirmou na segunda-feira em entrevista à TF1 que o seu partido votará todas as moções de censura "mesmo que provenham de outro campo político".

No domingo à noite, Marine Le Pen já tinha avisado que o seu partido iria apresentar uma moção de censura contra o governo de Lecornu no dia seguinte. "O presidente da República deve anunciar o mais rapidamente possível a dissolução da Assembleia Nacional para permitir que o povo francês se expresse e escolha uma nova maioria de rutura, que, sem dúvida, será liderada por Jordan Bardella", escreveu no X. 

Do outro campo político, a líder parlamentar da LFI Mathilde Panot aconselhou os novos inquilinos de Matignon para não se instalarem, entre eles os repetentes Roland Lescure (Economia) ou Jean-Noël Barrot (Negócios Estrangeiros). "Dou um conselho aos recém-chegados: não se instalem tão depressa, a moção de censura vem a caminho e depois será Macron a sair", escreveu no X.


"A segunda nomeação de Sébastien Lecornu como primeiro-ministro é mais um golpe de força do presidente da República. Emmanuel Macron teima em querer manter o poder a todo o custo para continuar a política que o país já não quer. É por isso que apresentámos uma moção de censura ao governo com os nossos parceiros ecologistas, comunistas e ultramarinos", lê-se na declaração da LFI. 
Socialistas podem salvar Lecornu?

"Apelamos a todos os parlamentares para que se juntem a esta moção de censura. Não podemos acreditar que o Partido Socialista possa recusar-se a censurar novamente um governo macronista e apelamos a ele para que vote a favor da moção de censura", acrescentam num apelo ao regresso às urnas. 

O secretário-geral do Partido Socialista, Olivier Faure, reafirmou na noite de segunda-feira que o PS "censurará" o Governo se, durante o discurso de política geral de Sébastien Lecornu, não for mencionada a suspensão da reforma das pensões. 


Após o primeiro Governo de Sébastien Lecornu ter durado apenas 14 horas na semana passada, o segundo enfrenta agora uma prova decisiva: resistir à censura parlamentar.  O apoio socialista é determinante para a sua sobrevivência mas a falta de clareza sobre as medidas orçamentais mantém o futuro político em aberto.

A recondução por Emmanuel Macron de Sébastien Lecornu, o quarto primeiro-ministro de França em menos de um ano, tem sido bastante criticada por todo o espetro político que atribuem ao chefe de Estado a responsabilidade pelo caos político sem fim. 

Mas durante a sua viagem ao Egito, para participar na Cimeira da Paz para Gaza, o presidente de França eximiu-se de qualquer responsabilidade pela crise política, que tem vindo a agravar a perceção de instabilidade numa altura em que o país enfrenta também sérios desafios económicos e um forte aumento da dívida.  Macron denunciou "aqueles que alimentaram a divisão" e apelou para que se "trabalhe pela estabilidade". 

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