Primeiras horas de liberdade condicional para Kohler e Paris na embaixada da França em Teerão

Os dois investigadores franceses, acusados de espionagem pelo regime iraniano, foram libertados da prisão de Evin na terça-feira e aguardam na embaixada da França em Teerão a sua libertação definitiva.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Abdul Saboor - Reuters

Após 1200 dias de detenção em "condições desumanas" na prisão de Evin, na capital do Irão, os dois franceses foram libertados na terça-feira no âmbito de uma liberdade condicional e recebidos na embaixada de França em Teerão, onde aguardam o desenrolar das negociações entre Teerão e Paris para poderem ser libertados.

O casal francês, detido em maio de 2022 no aeroporto de Teerão durante uma viagem turística, foi condenado em outubro de 2025 a 20 e 17 anos de prisão, respetivamente, por espionagem a favor dos serviços secretos franceses e israelitas. Paris negou sempre as acusações e não poupou esforços diplomáticos para libertar os dois investigadores franceses que considerou serem "reféns do Estado". 

Apesar de Cécile Kohler e Jacques Paris terem sido libertados da prisão de Evin, em Teerão, na terça-feira, a sua libertação ainda não está garantida. 

O embaixador de França em Teerão, Pierre Cochard, contou à rádio France Inter que se deslocou à prisão para receber Cécile Kohler e Jacques Paris à sua saída e recordou "um momento inesquecível" quando "os grandes portões da prisão de Evin se abriram e pudemos cruzar o olhar de Cécile e Jacques". "As primeiras palavras foram lágrimas, sorrisos misturados com lágrimas", afirmou Pierre Cochard. "Achei-os muito felizes, muito aliviados com esta libertação". 

Após a sua libertação condicional, os dois franceses foram levados para a Embaixada de França em Teerão - onde estão protegidos pela Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas - na esperança de poderem sair rapidamente do Irão.

O presidente francês, Emmanuel Macron, que expressou o seu alívio quando anunciou "um primeiro passo" na libertação dos dois franceses, já conversou com ambos por videoconferência."Eles agradeceram-lhe pelo seu empenho", contou o embaixador francês à rádio RTL. 
"Condições desumanas"

O Ministério francês dos Negócios Estrangeiros considerou que Cécile Kohler e Jacques Paris estiveram presos em "condições desumanas" na prisão de Evin. Segundo o Quai d'Orsay, o processo de libertação dos dois franceses ainda não está concluído. 

"O diálogo continua com as autoridades iranianas para permitir a sua libertação total o mais rapidamente possível e o seu regresso a França", afirma a diplomacia francesa, depois de a diplomacia iraniana ter anunciado uma "liberdade condicional até à próxima etapa judicial". 

A liberdade de Mahdieh Esfandiari como moeda de troca?

Algumas horas após anunciar a libertação condicional de Cécile Kohler e Jacques Paris, Teerão anunciou que a cidadã iraniana Mahdieh Esfandiari, detida em França em fevereiro por apologia ao terrorismo, estava "livre". 

A tradutora iraniana de 39 anos, residente em França desde 2018, é acusada de incitamento ao ódio através de mensagens nas redes sociais que apoiam a causa palestiniana e glorificam os ataques cometidos pelo Hamas contra Israel a 7 de outubro de 2023. 

Mahdieh Esfandiari tinha sido recentemente libertada em liberdade condicional e encontrava-se sob controlo judicial, enquanto aguardava julgamento previsto para meados de janeiro, estando proibida de sair do território francês. 

Questionado sobre a ligação direta entre os dois casos o ministro francês dos Negócios Estrangeiros evitou pronunciar-se. "Para garantir o sucesso deste tipo de manobra diplomática, mantemos uma certa discrição e não revelamos os detalhes dessas discussões", reagiu Jean-Noël Barrot na RTL.

Nos últimos anos, o Irão tem sido acusado de praticar uma "diplomacia dos reféns", ao prender em solo iraniano cidadãos estrangeiros ou iranianos com dupla nacionalidade por motivos vagos, na sua maioria relacionados com espionagem e segurança. Teerão usa os detidos estrangeiros como moeda de troca em negociações diplomáticas para obter a libertação dos iranianos no estrangeiro ou o levantamento de sanções internacionais. 
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