O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, anunciou que não se recandidatará ao cargo de líder do Partido Democrático Liberal (LDP) nas eleições partidárias do próximo mês, o que significa que o país terá também um novo primeiro-ministro.
Kishida foi eleito presidente do partido em setembro de 2021 para um mandato de três anos e venceu as eleições gerais pouco depois. Numa conferência de imprensa realizada, esta quarta-feira, em Tóquio,o atual primeiro-ministro afirmou que era altura de uma nova cara ao leme do LDP e que apoiaria totalmente a sua liderança.
“Nestas eleições, é necessário mostrar às pessoas que o LDP está a mudar e que o partido é um nO Nikkei do Japão subiu esta quarta-feira, com os investidores avaliando a notícia de que o primeiro-ministro do Japão deixará o cargo no final deste ano, enquanto se posicionam diante dos dados de inflação dos EUA. ovo LDP”, disse Kishida aos jornalistas.
“Para isso, é importante que haja eleições transparentes e abertas e um debate livre e vigoroso. O primeiro passo mais óbvio para mostrar que o LDP vai mudar é eu afastar-me. Não me vou candidatar às próximas eleições”.
Kishida informou os altos funcionários da administração da sua intenção de não se candidatar, segundo noticiaram os meios de comunicação japoneses, incluindo a emissora nacional NHK.
Quem pode ser o sucessor?
O Partido Democrático Liberal, no poder no Japão quase ininterruptamente desde 1945, deverá realizar em setembro eleições internas para escolher o líder e, por conseguinte, a pessoa que vai assumir a chefia do Governo.
Quem vencer a corrida para líder do partido enfrentará uma série de desafios ao assumir o cargo de primeiro-ministro, que cabe ao líder do partido com mais assentos no parlamento. O sucessor de Kishida como líder do LDP deve restaurar a confiança do público no partido e enfrentar o aumento do custo de vida, a escalada das tensões geopolíticas com a China e o potencial regresso de Donald Trump como presidente dos EUA no próximo ano.
O antigo ministro da Defesa, Shigeru Ishiba, já se apresentou como possível substituto de Kishida, afirmando que gostaria de “cumprir o seu dever” se reunir apoio suficiente, segundo a estação pública de televisão NHK.
Outros nomes que têm sido apontados como potenciais candidatos incluem a ministra dos Negócios Estrangeiros, Yoko Kamikawa, o ministro do Digital, Taro Kono, e o antigo ministro do Ambiente, Shinjiro Koizumi.
Os especialistas afirmam que o LDP terá de escolher uma cara nova que rompa com os escândalos que têm afetado o partido nos últimos tempos para sobreviver às eleições gerais, que deverão ter lugar, o mais tardar, no terceiro trimestre de 2025.
Kenta Izumi, o líder do Partido Democrático Constitucional, o principal partido da oposição do país, observou que as questões que causaram problemas a Kishida não desapareceram.
“Estes problemas ainda não foram resolvidos”, escreveu na rede social X.
Mandato marcado por escândalos e descontentamento
No cargo desde outubro de 2021, Fumio Kishida, de 67 anos, viu os índices de popularidade partidária e do governo caírem a pique, gravemente enfraquecidos pela inflação que atinge as famílias japonesas e pelos escândalos político-financeiros que afetam o PDL.
O índice de popularidade do governo de Kishida estagnou em cerca de 25 por cento este ano, de acordo com uma sondagem da emissora estatal japonesa NHK.“A política não pode funcionar sem a confiança do público. Tomei esta pesada decisão a pensar no público, com a forte vontade de fazer avançar a reforma política”, acrescentou na conferência de imprensa
O índice de popularidade do governo de Kishida estagnou em cerca de 25 por cento este ano, de acordo com uma sondagem da emissora estatal japonesa NHK.“A política não pode funcionar sem a confiança do público. Tomei esta pesada decisão a pensar no público, com a forte vontade de fazer avançar a reforma política”, acrescentou na conferência de imprensa
A popularidade de Kishida começou a cair rapidamente depois de ter assumido o cargo em 2021, na sequência de revelações sobre os laços do Partido Democrático Liberal com a controversa Igreja da Unificação.
A sua popularidade foi ainda mais afetada quando se tornou público um fundo de doações políticas não registadas feitas em eventos de angariação de fundos do LDP.
O primeiro-ministro enfrentou também o descontentamento da opinião pública relativamente ao facto de os salários não acompanharem o aumento do custo de vida, numa altura em que o país finalmente se livrou de anos de pressão deflacionista.
Durante o seu mandato como o oitavo líder mais duradouro do país no pós-guerra, Kishida rompeu com a política económica anterior, abandonando a economia de gota-a-gota orientada para os lucros das empresas em favor de políticas destinadas a aumentar os rendimentos das famílias, incluindo aumentos salariais e a promoção da propriedade de ações.Kishida tirou o Japão da pandemia de Covid-19 com estímulos maciços e nomeou também o académico Kazuo Ueda para a presidência do Banco do Japão (BOJ), a fim de retirar o Japão do estímulo monetário radical do seu antecessor, Yoshihide Suga.
Em julho, o BOJ aumentou inesperadamente as taxas de juro à medida que a inflação se instalava, contribuindo para a instabilidade do mercado bolsista e para a subida acentuada do iene.
O mandato foi também marcado por um ambiente de segurança em rápida mudança que levou o Japão a rever a sua política tradicionalmente pacifista.
Sob o comando de Kishida, o Japão comprometeu-se a duplicar as suas despesas com a defesa até atingir o nível da NATO de dois por cento do PIB até 2027.
Kishida revelou o maior reforço militar do Japão desde a Segunda Guerra Mundial, com o compromisso de duplicar as despesas com a defesa, com o objetivo de impedir a vizinha China de prosseguir as suas ambições territoriais na Ásia Oriental através da força militar. Uma decisão que marcou uma viragem em relação a décadas de pacifismo rigoroso, encorajado pelos Estados Unidos, que se preocupam com a posição cada vez mais assertiva da China na Ásia-Pacífico.
Kishida visitou os EUA em abril, altura em que os dois países anunciaram uma “nova era” de cooperação.
Em julho, o Japão e as Filipinas assinaram um pacto de defesa que permite o envio de tropas entre os dois territórios.
Com o incentivo de Washington, Kishida também restabeleceu as relações tensas do Japão com a Coreia do Sul, permitindo que os dois países e o seu aliado mútuo, os EUA, prosseguissem uma cooperação de segurança mais profunda para combater a ameaça representada pelos programas de mísseis e armas nucleares da Coreia do Norte.
c/agências