Brexit. O Inferno de Tusk e o Céu de Farage com May no Purgatório

por Raquel Ramalho Lopes - RTP
O porta-voz de Theresa May rejeitou comentar a escolha de palavras de Donald Tusk Yves Herman, Toby Melville, Vincent Kessler - Reuters /Montagem RTP

O presidente do Conselho Europeu criticou os que, em campanha, defenderam a saída do Reino Unido da União Europeia sem terem um plano para a sua concretização, nem terem previsto as consequências. Donald Tusk teve resposta rápida da parte de Nigel Farage. Enquanto isso, Theresa May está em Belfast a sondar os partidos da Irlanda do Norte para tentar encontrar soluções para o impasse.

"Tenho-me questionado como será o lugar especial no inferno reservado àqueles que promoveram o Brexit sem terem sequer um esboço de um plano para realizá-lo em segurança", declarou o presidente do Conselho Europeu, com um semblante carregado.
Duarte Valente - RTP

A resposta de Nigel Farage, que em 2016 era líder do UKIP e um dos principais defensores da saída do Reino Unido da União Europeia, foi rápida.

“Depois do Brexit estaremos livres de arrogantes intimidatórios e não eleitos como você e vamos governar o nosso próprio país", ripostou o eurodeputado. "Soa-me mais como o paraíso", criticou.

Os defensores do projeto europeu contestam as críticas de que os líderes europeus não são eleitos. Donald Tusk era primeiro-ministro da Polónia quando, em 2014, foi escolhido por outros chefes de Governo europeus para presidir ao Conselho Europeu. David Cameron era primeiro-ministro do Reino Unido.

O porta-voz de Theresa May rejeitou comentar a escolha de palavras de Donald Tusk. Contudo, Downing Street sublinha o facto de o presidente do Conselho Europeu ter dito que “a tarefa mais importante era evitar uma saída sem acordo. O acordo que estava sobre a mesa foi rejeitado por 230 votos dos deputados e, portanto, se os parlamentares apoiarem, claramente algo tem de mudar".
Tusk e Varadkar falam em evitar saída sem acordo
O presidente do Conselho Europeu esteve reunido com o primeiro-ministro irlandês, para preparar a receção, amanhã, à primeira-ministra britânica.

No início do seu discurso, Donald Tusk descartou taxativamente quer a renegociação do Acordo de Saída - rejeitado no Parlamento britânico por 432 dos 650 deputados - quer a permanência do Reino Unido na União Europeia.

“A nossa função mais importante é evitar um cenário (de saída) sem acordo”, declarou Tusk, a 50 dias do Brexit.

Alertando que a União Europeia não fará novas propostas ao Reino Unido e sublinhando que o backstop é para manter, Donald Tusk disse esperar que Theresa May apresente “sugestões realistas” para resolver o impasse em torno do Brexit.

No entanto, o primeiro-ministro irlandês sublinha uma outra ideia de Tusk: é preciso intensificar os preparativos para uma saída sem acordo.

Segundo Leo Varadkar, a instabilidade política no Reino Unido é mais uma prova do motivo pelo qual é necessário o mecanismo de salvaguarda, previsto no Acordo de Saída negociado entre Bruxelas e Londres.

O primeiro-ministro da República da Irlanda considera que o Acordo do Brexit rejeitado em Westminster é "o melhor possível”, sendo por isso para manter, apesar de revelar estar disponível para negociações.

Porém, Varadkar admite a possibilidade de se fazerem alterações à declaração política entre a União Europeia e o Reino Unido, caso Londres também revele o que pretende quanto à relação futura.
May ouve partidos da Irlanda do Norte
Theresa May considera insistir na inclusão de um limite temporal para vigência do backstop – a "rede de proteção" que visa evitar o retorno dos controles alfandegários entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Pelo menos, essa é a convicção do líder do Partido Unionista do Ulster após um encontro com Theresa May.

"Ela conversou connosco hoje sobre definir um limite de tempo para o backstop. Nós não consideramos um limite de tempo como sendo uma solução, porque o limite de tempo pode ser prolongado", declarou Robin Swann após a reunião.

Contudo, Swann esclarece que este é apenas um dos cenários aventados pela chefe do Governo britânico.

"Embora May pareça estar a falar sobre a procura de soluções alternativas, a sua relutância em ultrapassar o dia 29 de março constitui uma grande pressão sobre o que Westminster pode fazer”, acrescentou.

A primeira-ministra britânica está a sondar os líderes políticos da Irlanda do Norte, para ver se no parlamento britânico votariam de modo a aprovar o Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia.

Um dos encontros do dia foi com os representantes do Partido Unionista Democrático, com quem firmou um acordo parlamentar em 2017 para garantir os votos dos 10 deputados em Westminster.

"Reiteramos novamente o fato de que o backstop era o problema. Precisa de ser substituído", disse a líder Arlene Foster, classificando a reunião com Theresa May como "útil".

Citada pela Reuters, Arlene Foster revelou que parte do debate sobre a natureza de mudanças era uma questão de semântica.
Ministro afasta adiamento
Os ministros repetem a mensagem de May no que respeita ao eventual prolongamento do Artigo 50, de modo a adiar a data de saída do Reino Unido, marcada para 29 de março.

“Adiar o Artigo 50 não iria resolver a incerteza. Na verdade, iria prolongar a incerteza”, prejudicando a economia, disse o ministro da Indústria Greg Clark, numa comissão parlamentar.

Questionado sobre o que acontecerá se o Governo não vir aprovado o Acordo de Saída, Greg Clark respondeu que o Reino Unido sairá sem acordo.

Também o vice-primeiro-ministro David Lidington sustentou que prolongar o prazo do Artigo 50 só iria adiar a decisão no Parlamento britânico.

À pergunta dos trabalhistas sobre o motivo pelo qual o Governo não estava preparado para prolongar o período de negociação, o ministro respondeu que “o problema com a proposta é que iria simplesmente adiar a necessidade de esta câmara enfrentar algumas decisões difíceis”.

Deste modo, Clark e Lidington contrariam a ideia que esteja em preparação um pedido de um “período de carência de dois meses”, e que atrasaria o Brexit para 24 de maio, conforme foi avançado pelo jornal Telegraph.

“Os ministros têm debatido secretamente planos para atrasar o Brexit em oito semanas, apesar das advertências de Theresa May de que seria contra-producente falar sobre tal”, escreve o diário.

Ainda segundo o jornal britânico, o Reino Unido permaneceria na União Europeia nos termos atuais e a intenção seria obter mais tempo para concluir todo o processo legislativo.
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