Maracanã dá início aos Jogos Olímpicos: o que esperar da cerimónia de abertura?

por Christopher Marques - RTP
A cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos deverá durar cerca de quatro horas, tendo sido idealizada pelos cineastas Fernando Meirelles e Andrucha Waddington e pela produtora Daniela Thomas Bruno Kelly - Reuters

Oitenta mil pessoas no Maracanã. Três mil milhões pelas transmissões televisivas espalhadas por todo o globo, em Portugal pela RTP. Estão todos convocados para mais uma cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos.

O Rio de Janeiro organiza aquela que pretende ser a “maior festa do mundo”, estando o início marcado para as 20h00 locais (24h00 em Lisboa). A cerimónia de abertura das Olimpíadas deverá durar cerca de quatro horas, tendo sido idealizada pelos cineastas Fernando Meirelles e Andrucha Waddington e pela produtora Daniela Thomas.

A cerimónia volta assim a ser confiada ao mundo do cinema, tal como tinha sido em Londres. No entanto, muda o orçamento. Segundo o site oficial dos Jogos Olímpicos, o custo da cerimónia é de um décimo do valor investido na abertura de Londres 2012.


A redução no orçamento não deverá impedir uma festa majestosa, até porque os números não deixam de ser impressionantes. Segundo A Folha de São Paulo, 5.500 voluntários marcarão presença numa cerimónia que contará com 200 dançarinos.

A organização conta com mil autocarros para assegurar a deslocação dos oito a doze mil atletas e integrantes de delegações que estarão na cerimónia. Somam-se ainda as personalidades oficiais, nomeadamente o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Contagem regressiva para começar
Serão dezenas de milhares no Maracanã e milhares de milhões em todo o mundo à espera da contagem regressiva e da explosão de luzes que darão início à cerimónia. Este é, pelo menos, o que espera A Folha de São Paulo, de acordo com que foi visto nos ensaios.

Segue-se o início oficial da cerimónia dos Jogos Olímpicos por Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional, bem como o hino nacional brasileiro. Paulinho da Viola cantará, enquanto a bandeira brasileira será hasteada. Pode então começar a parte mais artística.
Relvado transforma-se em ecrã
A arte da abertura olímpica contará com uma lona gigante que cobre o relvado do Maracanã. Esta funcionará como ecrã, recebendo projeções ao longo da cerimónia. Assim começará o capítulo da festa dedicado à história do Brasil, onde o papel de Portugal será certamente evidenciado.

Será recordado o Brasil antes dos descobrimentos portugueses, a chegada das caravelas e a urbanização do país. Uma réplica do 14 Bis, o primeiro avião e que foi inventado pelo brasileiro Santos Dumont, vai atravessar o estádio. Para as atuações musicais, o Maracanã receberá Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gisele Bündchen, Ludmilla, Zeca Pagodinho, Marcelo D2, entre outros.


Paz e Ecologia

Num país em que as divergências políticas têm estado na ordem do dia, a paz e a aceitação das diferenças serão temáticas em destaque. Num dos momentos da cerimónia, três dezenas de participantes entrarão em clima de guerra no Maracanã. Surgirá então Regina Casé, apresentadora de televisão, para pedir o fim do conflito.

“A mensagem que deve ficar é a da importância da tolerância. Vivemos um momento muito tenso no Brasil, nos EUA, na Inglaterra, no mundo. Comentamos esse estado tenso e fazemos um apelo à tolerância”, contextualiza o cineasta Fernando Meirelles.

Não só a paz se defenderá no Maracanã. Também a necessidade de proteger o meio-ambiente. O objetivo é “lembrar as pessoas que a raça humana está ameaçada, que estamos num momento crucial, não é coisa de ‘ecochato'”, garante o responsável pela cerimónia.
Grécia dá início ao desfile
Na missão de não ser ‘ecochato’, Fernando Meirelles conta com a colaboração da atriz Fernanda Montenegro. O momento deverá anteceder a entrada das delegações, com Portugal liderado pelo velejador João Rodrigues, que recebeu já a bandeira nacional das mãos de Marcelo Rebelo de Sousa.

Cumprindo-se a tradição, caberá aos atletas gregos estrear o desfile das comitivas pelo Maracanã. As restantes delegações entram por ordem alfabética, com a entrada lusa a ficar já para o fim do desfile. A penúltima equipa a entrar será a delegação de refugiados, seguida da equipa brasileira.
Quem acenderá a pira?
A abertura oficial dos Jogos Olímpicos ficará depois a cargo do Presidente interino do Brasil, Michel Temer. A bandeira olímpica será depois hasteada ao lado da do Brasil, antes de ter início o encerramento da sessão de abertura.

O fim da cerimónia deverá prestar homenagem ao samba brasileiro, antes de a tocha dar entrada no Maracanã. A dúvida paira ainda sobre o mítico momento da abertura dos Jogos: o acender da Pira Olímpica. Não será Pelé a fazê-lo, como estava inicialmente previsto. A antiga estrela do futebol brasileiro está ainda a recuperar de problemas de saúde.
Festa para apagar as polémicas?
A expectativa é alta. A organização tem a esperança de que a cerimónia tenha um efeito “antidepressivo” para o Brasil e contribua para atenuar a imagem pouco positiva que o país tem atualmente.

Afinal, a positividade carioca dos tempos em que a organização foi confiada ao Rio já lá vai. Há a crise económica, há a crise da corrupção, há a crise política. Aliás, são esperadas manifestações junto ao Estádio do Maracaná contra o presidente Michel Temer.

Há ainda apelos para que o Presidente seja apupado durante a cerimónia. A imprensa brasileira avança mesmo que a organização está já preparada para abafar os protestos contra o Presidente durante a cerimónia de abertura.
Congestionamentos preocupam

Mas há também críticas à organização brasileira dos jogos. A poucas horas do início oficial ainda havia trabalhos a decorrer no Parque Olímpico. A nova linha de metropolitano, que deveria ajudar a reduzir os engarrafamentos, abriu apenas no passado sábado e está reservada às Olimpíadas.

Os congestionamentos são de tal ordem que o próprio prefeito do Rio apelou aos habitantes para que evitem sair de casa. Não só na abertura como durante todos os Jogos Olímpicos. A todas as polémicas junta-se a ameaça terrorista. Os Jogos Olímpicos são um alvo privilegiado e o Brasil sabe que não está a salvo.


Preocupações à parte, a tocha deverá dar mais luz ao Rio a partir desta noite. Acesa a tocha, que tenham início os jogos. Ou melhor, que continuem, uma vez que já há provas a decorrer.

São 19 dias de competição com 42 modalidades e mais de 11 mil atletas inscritos. Portugal apresenta-se com 92 atletas para competir em 16 modalidades.
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