A artista de 50 anos, originária do Mali, estava envolvida há vários anos em disputas com o ex-parceiro, o dramaturgo e cineasta belga Jan Goossens, e com as autoridades judiciais de Bruxelas, pela custódia da filha.
Esta quarta-feira, depois de um acordo entre as partes, resolvido à porta fechada para proteger a identidade da criança, a artista foi libertada, com o tribunal criminal de Bruxelas a declarar admissível o recurso da cantora contra a sua pena de prisão. Traoré é uma das vocalistas mais conhecidas de África, tendo ganho vários prémios, como o Prémio BBC de Música Mundial em 2004 e o Álbum de Música Mundial do ano de 2009 nas Victoires de la Musique, o equivalente francês do Grammy. Foi também embaixadora da boa vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados entre 2015 e 2018, na África Ocidental e Central.
"Estou muito satisfeito por ter sido encontrada uma solução que atende aos melhores interesses da criança", reagiu Dimitri de Béco, advogado de Rokia Traoré. "O tribunal declarou agora o recurso admissível e a minha cliente pode ser libertada hoje", acrescentou.
Nem os advogados de Traoré nem os de Goossens comentaram a natureza da solução jurídica encontrada ou os termos exatos do acordo de custódia.
"Todas as partes foram construtivas e deixamos o passado como ele é", disse Sven Mary, advogado de Goossens. "O processamento posterior de acordo deverá agora poder ocorrer de forma discricionária, no melhor interesse da criança."
Uma nova audiência ficou marcada para junho, para analisar a implementação do acordo.
Uma longa batalha
De acordo com os advogados de Traoré, a sua filha com Goossens, nascida em 2015, vive no Mali desde os quatro meses. O advogado do pai da criança, referiu que Goossens não teve nenhum contato com sua filha desde 2018.
As disputas pela custódia começaram com a separação do casal nesse ano, depois de um tribunal do Mali ter concedido custódia total a Traoré.
A decisão foi contestada pelo sistema judicial belga. Duas decisões do Tribunal de Família de Bruxelas entregaram a custódia da filha a Goossens e concederam direitos de visita à artista maliana, estabelecendo a residência principal da criança em Bruxelas.
A ordem judicial intimava Traoré a entregar a filha ao pai, algo que a cantora nunca cumpriu. Foi por isso presa em 2020, em França, em trânsito entre o Mali e Bruxelas, onde a cantora ia recorrer da decisão de custódia.
Detida na prisão Fleury-Mérogis, perto de Paris, Traoré entrou em greve de fome, acabando por ser libertada condicionalmente, sob ordens de permanecer no país até à sua extradição para a Bélgica.
Meses depois a cantora fretou um voo privado e regressou ao Mali.
Em Outubro de 2023, Traoré foi acusada de rapto parental por um tribunal belga, por "não entregar uma criança à pessoa com direito à guarda", sendo condenada à revelia a dois anos de prisão.
Em junho do ano seguinte, devido à condenação pendente pela guarda da filha, para a qual havia um mandado de detenção europeu, Traoré foi detida no aeroporto de Fiumicino, em Roma, quando se preparava para dar um concerto.
Dois meses depois, um tribunal da capital italiana aprovou a sua extradição, cumprida em novembro de 2024, apesar de vários recursos apresentados pela equipa legal da artista.
Detida na Bélgica, Traoré iniciou de imediato o processo de contestação pela sua prisão, com sucessivas audiências adiadas devido às conversações privadas para resolver o problema da custódia.
As decisões tomadas esta quarta-feira determinam a sua libertação. Não foi divulgado de que forma foi resolvida a questão da custódia da menina.
Passagem por Portugal
Nascida em Kolokani, no noroeste da região de Koulikoro, no Mali, filha de um diplomata, na sua juventude Rokia Traoré viajou pela argélia, Arábia Saudita, França e Bélgica, sendo exposta a uma ampla variedade de influências culturais.
Querida na cena musical maliana, Traoré atuou com Ali Farka Touré, seu conterrâneo, em 1997. O seu álbum Wanita, lançado em 2000, inclui um dueto com o cantor e guitarrista Boubacar Traoré. Apesar de partilharem o apelido, Boubacar e Rokia não são parentes.
Querida na cena musical maliana, Traoré atuou com Ali Farka Touré, seu conterrâneo, em 1997. O seu álbum Wanita, lançado em 2000, inclui um dueto com o cantor e guitarrista Boubacar Traoré. Apesar de partilharem o apelido, Boubacar e Rokia não são parentes.
A artista foi selecionada para integrar o júri da principal competição do Festival de Cannes, em 2015.
Em 2009, Rokia Traoré esteve em Portugal no mês de maio, tendo atuado na Casa da Música.