Boris Johnson. Autores de insultos racistas proibidos de entrar nos estádios

por Graça Andrade Ramos - RTP
Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, em 2021 Reuters

A legislação que proíbe em Inglaterra fanáticos hooligans de assistir a jogos de futebol nos estádios vai ser alargada para englobar quem escrever comentários racistas e insultuosos nas redes sociais, anunciou o primeiro-ministro britânico. As redes sociais também irão ser responsabilizadas se não tomarem medidas contra estes conteúdos.

A decisão surge na sequência do dilúvio de insultos dos últimos dias contra três jogadores da seleção inglesa de futebol que falharam a marcação de grandes penalidades na final do Euro2020, o que deu a vitória à rival italiana, domingo passado.

"Condeno veementemente os insultos racistas que testemunhámos na noite de domingo", afirmou o primeiro-ministro.

“O que estamos a fazer hoje é tomar medidas práticas para garantir mudanças no regime de proibição de entrada no estádio, de modo a que, se alguém for culpado de insultos racistas contra jogadores, online, então não poderá ir ao jogo”, explicou.

Não podem existir desculpas", disse Boris Johnson.O regime de proibição de entrada nos estádios de futebol foi criado em 1989 para impedir hoologans ingleses identificados de causar problemas nos jogos ou nas suas imediações, a nível doméstico ou no estrangeiro. A gestão das interdições cabe à Autoridade para as Ordens de Interdição no Futebol.

A vice-ministra da Administração Interna, que tutela a Autoridade para as Ordens de Interdição, reconheceu que vai ser “complexo” aplicar a nova lei para calar os trolls racistas, muitos dos quais publicam a partir de outros países.

“Contudo, desejamos muito trabalhar com os clubes de futebol e outros, para garantir que estas disposições têm o alcance que todos nós queremos que possuam”, afirmou Victoria Atkins no Parlamento britânico.

A polícia de Grande Manchester, no nordeste de Inglaterra, anunciou a detenção de um homem de 37 anos por suspeita de crime ao abrigo da Lei de Comunicações Dolosas, devido a publicações nas redes sociais contra os jogadores da seleção dos “Três Leões”.

O autor suspeito dos insultos incorre numa pena máxima de dois anos de cadeia ou uma multa cujo limite fica à discrição do tribunal.
Multas até 10% dos lucros para as redes sociais
O Governo britânico está sob pressão para tomar medidas contra o problema do racismo e a ser criticado por não ter condenado de imediato os apupos e assobios dos fãs ingleses nos primeiros jogos do campeonato europeu, que marcaram os momentos em que os jogadores da sua seleção ajoelharam, simbolicamente, contra o racismo. Uma petição online a pedir a exclusão dos jogos por toda a vida para os culpados de insultos racistas, online ou offline, conseguiu desde o lançamento, segunda-feira, um milhão de assinaturas.

O primeiro-ministro reuniu-se terça-feira com representantes das principais redes sociais - Facebook, Twitter, TikTok, Snapchat e Instagram - naquilo que descreveu como um esforço concertado para resolver o problema.

A menos que eliminem o ódio e o racismo das suas plataformas irão pagar multas até 10 por cento dos seus lucros globais e todos sabemos que têm a tecnologia para o fazer”, disse Johnson, numa referência ao seu projeto-lei sobre “danos online”.

A oposição tem criticado a brandura das medidas, que diz serem parcas e tardias, ao mesmo tempo que lembram o próprio historial de comentários do primeiro-ministro britânico nos seus tempos de colunista nos jornais, depreciativos de africanos e de mulheres muçulmanas.

Boris Johnson afirma que os seus comentários foram “tirados de contexto”.
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