Paquistão prolonga fins de semana para reduzir níveis de poluição do ar

por RTP
Lahore foi considerada a cidade mais poluída do mundo na quarta-feira Reuters

As escolas e os escritórios de Lahore vão continuar fechados às segundas-feiras, após as autoridades terem decidido limitar a atividade na segunda maior cidade do país para reduzir os níveis tóxicos do ar. Na semana passada, a qualidade do ar na cidade paquistanesa começou a ser considerada perigosa. Os moradores subscreveram petições para que o Governo tomasse medidas extraordinárias para combater o smog.

É um “remédio preventivo e rápido” que as autoridades de Punjab vão tentar aplicar durante o Inverno. As escolas e o comércio vão manter-se fechados após os fins de semana até 15 de janeiro.

Os moradores queixam-se de dificuldades em respirar, irritações na garganta, olhos a arder e náuseas, em consequência da poluição densa e acre. Os grupos de risco são os mais propensos a sentir os efeitos nocivos da poluição atmosférica, que pode também desencadear outras doenças. Os moradores de Lahore são aconselhados a permanecer no interior das habitações.

O clima é muito perigoso para pessoas com problemas pulmonares e algumas outras doenças. Eu instruí alguns de meus pacientes a não sair”, disse Aamir Iqbal, especialista em doenças pulmonares.

Lahore, onde vivem 12 milhões de pessoas, foi considerada a cidade mais poluída do mundo na semana passada, tendo superado a capital da Índia, Nova Deli. O Índice de Qualidade do Ar registou 348, bem acima da barreira dos 300, a partir do qual a plataforma de monitorização que classifica a qualidade do ar determina que o nível é “perigoso” para a saúde. O número resulta de um cálculo feito com base em vários poluentes identificados no ar.

Além do nevoeiro típico das temperaturas mais frias, a região entre Carachi e Lahore tem registado uma mistura de vapores de diesel de má qualidade com o fumo resultante da queima de safras sazonais, se traduzem em nuvens estagnadas e densas, um fenómeno também conhecido por smog.

A poluição do ar tem piorado no Paquistão ao longo dos últimos anos. Em média, os paquistaneses perdem dois anos de vida devido à poluição do ar. Contudo, esta média agrava-se na segunda cidade do país, com os seus moradores a perderem mais de cinco anos de vida, refere um relatório da Universidade de Chicago.
  
Um problema político

Quando abres a janela de manhã, não consegues ver o céu. O smog está em toda a parte”, relata um especialista em comunicação, que mudou rotinas para evitar a poluição. Abubaker Umer também nota que a sua alergia na pele se agravou nas últimas semanas, desde que a cidade foi engolida pelo “nevoeiro”. Os pais, sensíveis à poluição do ar, foram viver para outra cidade.

“A poluição tóxica do ar tornou-se parte das nossas vidas e corpos. O governo tem de fazer mais do que fechar instituições de educação enquanto Lahore se torna uma cidade impossível de viver”, critica Umer, citado pelo jornal The Guardian.

Ao contrário de Umer, mais de um milhão de paquistaneses não goza do privilégio de poder trabalhar a partir de casa. “As pessoas nem sequer usam máscaras e não sabem quão mortífero é este clima. Não têm consciência mas é responsabilidade do governo consciencializar e encontrar soluções”, acrescenta.

O ministro da informação considera que o smog é consequência das ações dos anteriores governos, por “cortarem árvores para construir uma selva de cimento que afetou gravemente a cobertura verde de Lahore e seus arredores”.

A falta de qualidade do ar é, na perspetiva da Amnistia Internacional, um assunto de direitos humanos, uma vez que impede o direito à saúde. “As pessoas não devem ser ameaçadas pelo ar que respiram”, refere o analista Rimmel Mohydin, que pede ao Governo paquistanês a implementação imediata de um programa anti-poluição.

Por seu lado, o governo está a preparar recomendações para a comissão de atuação contra o smog, garante o conselheiro sobre alterações climáticas do primeiro-ministro paquistanês.

“Estamos a fazer tudo o que é possível”, afirma Malik Amin Aslam, defendendo que o combate requer também esforços da vizinha Índia, notando as queimas que estão a ser feitas do outro lado da fronteira. “Avançámos com o pedido de diálogo a nível regional durante a COP26. Esperamos que se realize”, refere.

Contudo, o advogado e ativista ambiental nota que o smog não pode ser imputado à Índia, apesar de o diálogo ser benéfico. “Não existe uma solução de um dia para o outro. O Governo tem de melhorar a qualidade do combustível e mudar para as energias renováveis, bem como fornecer mecanismos de controlo da poluição para as indústrias”, aponta Rafay Alam.
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