RD Congo. Milhares em fuga após rebeldes reclamarem o controlo de cidade-chave

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Aubin Mukoni - Reuters

Rebeldes apoiados por Ruanda anunciaram esta segunda-feira que assumiram o controlo da cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, no nordeste da República Democrática do Congo. Em consequência, dezenas de milhares de pessoas estão a fugir para cidades vizinhas.

Rebeldes afirmam ter tomado o controlo da cidade de Goma, no leste da República Democrática do Congo, embora isso tenha sido negado pelo Governo.

Em comunicado, a Aliança do Rio Congo (AFC-M23, em francês), uma coligação político-militar da RDC que integra o Movimento 23 de março (M23), anunciou um "dia glorioso que marca a libertação da cidade de Goma".

"Apelamos a todos os habitantes de Goma para que mantenham a calma. A libertação da cidade foi efetuada com sucesso e a situação está sob controlo”, disse o grupo armado.

A declaração ocorreu horas depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Democrática do Congo ter acusado o país vizinho, Ruanda, de declarar guerra ao enviar tropas através da fronteira para apoiar o M23.

Ruanda não nega apoiar o M23, mas acusa as autoridades congolesas de apoiarem milícias que tentam derrubar o Governo em Kigali. O agravamento da situação levou entretanto ao encerramento da fronteira entre o Ruanda e a República Democrática do Congo.

Por sua vez, num comunicado divulgado na manhã desta segunda-feira, o governo da RDC disse que ainda controlava partes estratégicas da cidade, incluindo o aeroporto.

"Ao contrário das mensagens manipuladoras que circulam nas redes sociais, as FARDC [exército da RD do Congo] controlam o aeroporto de Goma e todos os pontos estratégicos da capital da província de Kivu do Norte", afirmou.

Tiros foram ouvidos perto do aeroporto, no centro da cidade e na fronteira com Ruanda, com os moradores a relatarem confrontos em curso entre milícias alinhadas ao Governo e combatentes do M23.

Em consequência, milhares de pessoas estão a fugir de Goma à medida que os conflitos se intensificam. Vários locais nos arredores da cidade, que abrigavam mais de 300 mil deslocados, ficaram vazios no espaço de poucas horas, de acordo com a ONU.

As principais estradas ao largo de Goma estão bloqueadas, cortando pontos de acesso vitais, enquanto o aeroporto da cidade está paralisado, dificultando a evacuação e os esforços humanitários, diz a ONU.
Fuga em massa de reclusos
Ao mesmo tempo, está em curso uma fuga massiva de reclusos de uma cadeia na cidade de Goma.

O estabelecimento prisional com cerca de três mil reclusos foi incendiado na sequência de uma evasão que causou várias mortes, disse à AFP uma fonte local, sem adiantar números.

Enquanto isso, está a decorrer uma operação de retirada da cidade de Goma de funcionários das Nações Unidas e das respetivas famílias.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a Ruanda que retire as suas forças do território da República Democrática do Congo e apelou ao M23 que impeça o seu avanço.

Guterres apelou ainda para que Ruanda "cessasse o apoio ao M23 e se retirasse do território da RDC" e pediu ao M23 que "cessasse imediatamente todas as ações hostis e se retirasse das áreas ocupadas".
O que está na origem do conflito?
A escalada de violência na República Democrática do Congo tem motivado preocupação entre a comunidade internacional. Têm-se verificado combates entre o exército congolês e o grupo armado anti-governamental M23, apoiado pelo Ruanda.

O M23 – que se refere ao acordo de 23 de março de 2009 que encerrou uma revolta anterior liderada pelos tutsis no leste do Congo – é o mais recente grupo de insurgentes liderado por tutsis apoiados por Ruanda.

O grupo acusa o Exército da RDC de cooperação com o grupo rebelde Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), fundado em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados.

Ruanda, por sua vez, é acusada pelo Governo da RDC, por autoridades da ONU e por potências ocidentais de alimentar o conflito ao enviar milhares das suas tropas e armas pesadas para território congolês em apoio ao M23.

Em 2012, o M23 capturou Goma, mas retirou-se da cidade dias após um acordo negociado por nações vizinhas.

No entanto, a queda de Goma nesse ano levou à implantação de uma nova força da ONU com mentalidade ofensiva, a uma reformulação do exército congolês e à pressão diplomática sobre Ruanda, levando à derrota do M23 no ano seguinte e a um acordo que pedia a sua desmobilização.

Mas o grupo nunca se desarmou totalmente e lançou uma nova ofensiva em 2022, tendo capturado vastas áreas da província rica em minerais de Kivu do Norte.


O avanço dos rebeldes desde o início do ano forçou centenas de milhares de pessoas a deixarem as suas casas, somando-se aos cerca de três milhões de deslocados no leste do Congo em 2024, de acordo com dados da ONU.

c/ agências
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