Trump lembra biliões do negócio das armas para fazer a defesa de Riade

por RTP
Reuters

A polícia turca está a analisar a residência do cônsul da Arábia Saudita em Istambul no âmbito da investigação ao desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi. Em Riade, as autoridades anunciaram que Mohamed al-Otaibi foi exonerado e se encontra sob investigação. O Presidente dos Estados Unidos sentiu entretanto necessidade de garantir que não está a dar cobertura à Arábia Saudita, mas admite que não quer abandonar Riade numa altura de crise.

Uma dezena de polícias entrou na residência oficial do cônsul da Arábia Saudita, às 16:45 em Istambul (14:45 em Lisboa). Esta diligência efetua-se dois dias após uma equipa forense ter estado nas instalações do Consulado saudita e de terem sido encontrados indícios de adulteração de um eventual lugar de crime.

No dia seguinte, o Presidente turco falava em indícios de terem sido apagadas provas. “Tenho esperança que possamos chegar a conclusões que nos deem uma opinião razoável o mais cedo possível, porque a investigação está a analisar muitas coisas tais como materiais tóxicos e aqueles materiais que foram pintados por cima”, declarou o Presidente turco aos jornalistas no Parlamento turco.

Nesta sequência, os investigadores turcos decidiram alargar as pesquisas à residência do cônsul saudita em Istambul. Mohamed al-Otaibi deixou ontem inesperadamente a Turquia num voo comercial e regressou à Arábia Saudita.

O cônsul saudita foi entretanto exonerado para ser investigado, avança o jornal saudita Sabaqm, que cita um comunicado oficial. No entanto, não são dados detalhes sobre os motivos da investigação.
Suspeitos esperaram horas por Khashoggi
A imprensa norte-americana dá conta de que 15 pessoas, na maioria membros dos serviços de segurança, militares ou funcionários do executivo saudita chegaram em dois aviões à Turquia horas antes de o colaborador do The Washington Post desaparecer, no dia 2 de outubro, no consulado da Arábia Saudita em Istambul. Estes dois aviões foram fretados pelo Ministério do Interior e por uma empresa ligada ao príncipe Mohamed bin Salman. A imprensa norte-americana acrescenta que cinco dos 15 sauditas alegadamente envolvidos no desaparecimento do jornalista são homens próximos do príncipe herdeiro da Arábia Saudita.

O jornal turco Yeni Safak adianta que o jornalista foi torturado e desmembrado ainda vivo. De acordo com o jornal, os dedos do jornalista crítico do príncipe herdeiro saudita terão sido cortados durante o interrogatório, antes de ser decapitado.

As autoridades sauditas sempre negaram responsabilidades ou envolvimento no desaparecimento do jornalista. Esta terça-feira, o príncipe herdeiro garantiu ao Presidente norte-americano não ter qualquer conhecimento do que terá acontecido no Consulado na Turquia.
Voz do cônsul identificada na gravação
O jornal, que teve acesso aos registos áudio do Consulado, refere que uma das vozes a constar da gravação era do cônsul. Mohamed Al-Otaibi dizia a Jamal Khashoggi: “Se queres viver, está quieto!”.

De acordo com os registos áudio do Consulado, o cônsul terá tentado que o interrogatório se fizesse noutro local. "Façam-no lá fora. Ainda me vão meter em apuros", foi gravado a dizer. “Cala-te se quiseres viver quando regressares à Arábia Saudita”, ouviu como resposta.

Ainda segundo a gravação, os acontecimentos que levaram à morte do jornalista duraram sete minutos. Foi a primeira vez que um jornal turco teve acesso aos registos áudio do Consulado saudita.
Trump lembra que Estados Unidos precisam de Riade
Numa altura em que a Arábia Saudita é alvo de críticas pela comunidade internacional face ao alegado envolvimento no desaparecimento de Jamal Khashoggi, Donald Trump saiu em defesa de Riade.

O Presidente norte-americano afirmou que não quer abandonar a Arábia Saudita, apesar da pressão para levar o reino a responder às alegações turcas de que o jornalista terá sido morto no Consulado de Istambul, e reiterou a esperança de que os líderes sauditas possam não estar envolvidos no desaparecimento de Khashoggi.

“Precisamos da Arábia Saudita para combater o terrorismo, tudo o que se passa no Irão e em outros lugares”, reforçou Donald Trump durante uma entrevista à Fox News.

Garantindo que não está a dar cobertura aos aliados sauditas, Trump disse “só querer saber o que se passou” e que espera que a verdade seja revelada “até ao final da semana”.

Estas declarações podem ser interpretadas como resposta ao editorial do jornal The Washington Post, do qual o saudita Jamal Khashoggi era colaborador. Intitulado “Por que está a Administração Trump a limpar a confusão da Arábia Saudita?”, o artigo acusa o Presidente de pôr em prática “uma operação de limpeza diplomática” para preservar Riade e o príncipe herdeiro.

Assinado pelo Conselho de Redação, o texto apela a uma investigação independente ao desaparecimento do jornalista saudita há duas semanas em Istambul.

O jornal nota que o secretário de Estado Mike Pompeo “parecia (aquando da entrevista com Mohamed bin Salman, na passada terça-feira) menos inclinado a apurar a verdade do que a ajudar o príncipe herdeiro saudita a escapar à crise que provocou”.

“Os sauditas estão a preparar uma versão da história que atribui a morte de Khashoggi ao excesso de uma equipa enviada para o interrogar. Isso vai permitir afastar responsabilidades do príncipe herdeiro, que terá de facto ordenado e supervisionado a operação”, escreve o jornal.

Neste contexto, os redatores do jornal pedem a suspensão de contactos “com o regime saudita” e instando o Congresso norte-americano a “bloquear todas as vendas militares”. Um afastamento que Donald Trump não deseja, até porque “temos um grande contrato (de armamento de 110 mil milhões de dólares", o que implica 500 mil empregos, argumentou.
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