Visita de Benjamin Netanyahu aos EUA ensombrada por ameaça de boicote democrata
Com o presidente norte-americano ainda recolhido devido à infeção por covid-19, caberá à vice-presidente Kamala Harris receber o polémico primeiro-ministro israelita, que iniciou na terça-feira uma visita aos Estados Unidos.
Benjamin Netanyhau ajustou as velas e está a tentar aproveitar a seu favor os recados da Administração democrata, tendo anunciado à chegada a famílias de reféns capturados pelo Hamas a 7 de outubro de 2023, que um acordo para a libertação destes está próximo.
Quinta-feira é esperada uma nova delegação para reiniciar as conversações, que poderão incluir a troca de reféns por prisioneiros palestinianos detidos nas cadeias de Israel. Eventuais decisões poderão influenciar de forma notória a visita de Netanyahu, que está a ser contestada de forma significativa em Israel.
Vários protestos consideraram que o primeiro-ministro deveria ter ficado no país e focar-se num acordo de cessar-fogo para garantir a libertação dos reféns.
Não é claro o que pode obter Benjamin Netanyahu nesta visita ensombrada pela desistência de Joe Biden à recandidatura à Casa Branca e numa altura em que haverá pouca paciência por parte da Administração para o ouvir. O presidente já afirmou que quer marcar o fim do seu mandato com a paz no Médio Oriente mas a sua fragilidade poderá impedir esse cenário, mesmo que se concretize a reunião prevista com Netanyahu para o final da semana.
O apoio dos Estados Unidos a Israel permitiu às Forças de Defesa de Israel destruirem as infraestruturas do grupo islamita em Gaza, e de passagem, o próprio enclave, mas o governo de Joe Biden e muitos legisladores democratas entraram recentemente em conflito aberto com o primeiro-ministro israelita sobre suas políticas e táticas na guerra.
Significativamente, Harris invocou conflito de agendas para não estar presente quando o primeiro-ministro israelita se tornar o primeiro chefe de governo estrangeiro a discursar quatro vezes perante o Congresso do Estados Unidos.
Alguns senadores democratas já admitiram que poderão boicotar o discurso de Benjamin Netanyahu. E, apesar das justificações da sua equipa, a ausência da vice-presidente do lugar de destaque que deveria ocupar no Congresso nesta ocasião, e que costuma assinalar o apoio da Administração ao orador, está a dar luz verde a estes protestos.
A senadora Patty Murray, democrata de Washington e terceira na linha de sucessão presidencial, terá recusado substituir Kamala Harris na sessão. E o líder da maioria, o senador Chuck Schumer, democrata de Nova York, que no início do ano se referiu a Netanyahu como um grande obstáculo à paz no Médio Oriente pedindo eleições para o substituir quando a guerra acabasse, nem terá sido abordado.
Pelo contrário, os republicanos estarão dispostos a declarar o seu apoio a Netanyahu, num eventual balão de oxigénio para o primeiro-ministro israelita sobretudo caso a eleição de novembro seja esmagadoramente favorável a Donald Trump.
O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, terá pressionado a realização do discurso, apesar do repúdio de outros congressistas, particularmente entre o campo democrata.