Chelsea «passa» campeonato a Leicester ao empatar com Tottenham

por Carlos J Barros - RTP
Adeptos sempre presentes nas vitórias reuters

Leicester campeão de Inglaterra sem jogar. O Tottenham chegou a estar a vencer por 2-0 em Stamford Bridge e adiar a festa dos homens de Ranieri, num dos derby's da capital Inglesa, mas deixou-se empatar nos últimos minutos dando o campeonato ao Lecester.

A duas jornadas do fim, o 'onze' do italiano Claudio Ranieri soma 77 pontos, contra 70 dos 'spurs', pelo que é matematicamente o 24.º campeão do futebol inglês e o primeiro estreante no palmarés da prova desde o Nottingham Forest, em 1977/78.

Fundado em 1884, o Leicester tinha no segundo lugar de 1928/29 o melhor registo nas anteriores 47 participações na divisão principal, sendo que já havia conquistado a Taça da Liga inglesa (1963/64, 1996/97 e 1999/2000) e a Supertaça inglesa (1971).


Jogadores festejam o campeonato em casa Jamie Vardy, numa festa ao segundo

As apostas

O Leicester partiu  de uma probabilidade de um para 5.000, o Leicester, nunca havia sido campeão - superou todos os 'poderosos' do reino de 'sua majestade', incluindo Chelsea, Manchester City, Manchester United, Arsenal, Liverpool ou Tottenham.

Com uma equipa de 'tostões', composta por uma maioria de desconhecidos, talvez com exceção de Kasper Schmeichel, e por ser filho de Peter Schmeichel, ou Robert Huth, o Leicester 'furou' todos os prognósticos, para se tornar o 24.º campeão de Inglaterra, cujo palmarés não apresentava uma novidade desde o título do Nottingham Forest, em 1977/78.



Do nada para o 'estrelato, surgiram nomes com os do extremo Riyad Mahrez, eleito o melhor jogador da 'Premier League' pelo sindicato dos jogadores, e do ponta de lança Jamie Vardy, o melhor para os jornalistas.

O argelino, contratado ao Le Havre, da segunda divisão gaulesa, marcou 17 golos e foi o 'motor' ofensivo dos 'foxes, enquanto o internacional inglês, descoberto no Fleetwood Town, do quinto escalão inglês, foi o goleador da equipa, com 22: juntos, custaram menos de dois milhões de euros.

Wes Morgan, Marc Albrighton, Ngolo Kanté, Shinji Okazaki, Christian Fuchs, Daniel Drinkwater, Danny Simpson, Leonardo Ulloa, Andy King ou Jefferry Schlupp são também incontornáveis numa das mais inesperadas histórias do futebol.

O Leicester, que cumpre a 48.ª época entre os 'grandes' de Inglaterra, tinha apenas ficado três vezes no 'top 5' (terceiro em 1927/28, segundo em 1928/29 e quarto em 1962/63) e, entre 2004/2005 a 2013/14, esteve nos escalões inferiores, incluindo uma passagem pelo terceiro, a 'League One', em 2008/09, há apenas sete anos.

Da equipa que venceu o terceiro escalão, só há um resistente, o médio Andy King, mas muitos dos atuais jogadores chegaram com a equipa no segundo escalão e ajudaram o clube a conquistar o 'Championship' em 2013/14.

Na época passada, a primeira na 'Premier League' desde 2003/04, o Leicester foi apenas 14.º colocado, a 46 pontos do campeão Chelsea, de José Mourinho, e, para 2015/16, o objetivo era o de conseguir a manutenção, com a tranquilidade possível.

O cargo de treinador foi entregue ao italiano Claudio Ranieri e foram gastos menos de 40 milhões de euros em jogadores, com destaque para os 11 pagos por Okazaki, os oito por Kanté e os sete por Inler, que pouco veio a jogar.

Sem qualquer nome sonante, o Leicester impôs-se desde cedo com a equipa sensação, ao manter-se invicto nas primeiras seis jornadas (três vitórias e três empates), que concluiu no quarto lugar, a apenas três pontos do líder Manchester City.

À sétima jornada, e no primeiro jogo frente a um dos assumidos candidatos ao título, os 'foxes' foram goleados em casa por 5-2 pelo Arsenal e caíram para o oitavo posto, a quatro pontos do comandante, agora o Manchester United.

A maioria terá pensado que acabara ai o 'agigantamento' do Leicester, mas foi o contrário: a resposta foram cinco triunfos e um empate, que valeram a sensacional ascensão à liderança, à 13.ª jornada, após um claro 3-0 em Newcastle.

Então, apostar na vitória do Leicester ainda valia 100 para um, mas o 'onze' de Ranieri continuou a surpreender, a mostra qualidade, mesmo caindo na ronda seguinte para o segundo posto, ao empatar a um na receção ao Manchester United.

O encontro realizado a 28 de novembro de 2015 entrou para a história, já que, então, o 'intratável' Jamie Vardy marcou pela 11.ª jornada consecutiva, batendo o recorde do holandês Ruud van Nistelrooy (marcou em 10 jogos seguidos do Manchester United, entre 2002/03 e 2003/04).

Vardy 'falhou' no jogo seguinte, mas um 'hat-trick' de Mahrez selou o triunfo por 3-0 no reduto do Swansea e o Leicester voltou ao comando, que, à 16.ª jornada, defendeu com mestria na receção ao campeão Chelsea, ainda de Mourinho (2-1), para depois bater fora o Everton por 3-2.


As 'odds' ainda estavam em 20 para 1 e o 'onze' de Ranieri viveu, então, o primeiro período complicado da época: perdeu por 1-0 com o Liverpool, em Anfield Road, e, depois, empatou a zero nas receções a Manchester City e Bournemouth.

Apesar dos três jogos sem ganhar, a queda na tabela não foi grande, para o segundo lugar e a apenas dois pontos de um novo líder, o Arsenal.

O Leicester mostrou, então, que era mesmo candidato ao título, regressando após três jornadas (duas vitórias, a primeira na casa do Tottenham, e um empate) à liderança, que reforçou com mais dois triunfos marcantes: 2-0 ao Liverpool e, especialmente, 3-1 no reduto do Manchester City, que colocou a vantagem sobre o segundo em cinco pontos.

O Tottenham era agora o perseguidor mais próximo e logrou chegar-se a dois pontos, à 26.ª jornada, quando os 'foxes' caíram pela segunda vez face ao Arsenal, agora fora (1-2).

Quatro pontos nas duas rondas seguintes chegaram para 'esticar' o avanço para três pontos, para, então, aparecer um Leicester mais pragmático: quatro triunfos consecutivos por 1-0 'atiraram' a vantagem para sete pontos. O sonho do título parecia cada vez mais uma realidade.

Um empate 2-2 com o West Ham ainda fez os 'spurs' reaproximarem-se, mas, à 35.ª ronda, uma goleada ao Swansea (4-0), junto com um 'tropeção' do Tottenham no Bournemouth (1-1), colocou o título à distância da uma vitória.

O Leicester desperdiçou domingo esse primeiro 'match point', mesmo não falhando no reduto do Manchester United (1-1), mas, hoje, o Tottenham não foi capaz de vencer na casa do Chelsea (2-2) e estalou a festa dos 'foxes'.

O Treinador

Um treinador que nunca havia sido campeão, o italiano Claudio Ranieri, e uma série de jogadores adquiridos da 'loja dos 300', para o panorama da 'Premier League', fizeram do Leicester o surpreendente campeão inglês de futebol 2015/16.

O japonês Shinji Okazaki, contratado no último defeso aos alemães do Mainz por 11 milhões de Euros (ME), pode ser considerado a única 'estravagância', num plantel cujo 'onze base' custou pouco mais de 30 ME.



Juntando os três suplentes mais utlizados, a 'conta' sobe mais 10 M, sendo que ainda foram investidos mais quase 20 ME em jogadores muito pouco utilizados, casos de Inler (7,0) e, já em janeiro, Amartey (6,6) e Gray (5.0).

Mesmo somando todo o investimento, o Leicester é - com menos de 50 ME, aos quais ainda há a descontar os 9,1 das vendas de Nugent e Wood -, claramente, o campeão mais barato de Inglaterra em muito tempo.

O triunfo é do coletivo, mas assentou num 'onze' base que fez quase todas as 'despesas': após 36 jornadas, os 11 jogadores mais utilizados somam 356 presenças na equipa titular em 396 possíveis (89,9 por cento).

Os totalistas Schmeichel e Morgan, Huth (35 jogos de início), Vardy (34), Drinkwater (34), Mahrez (34), Albrighton (33), Kanté (31), Simpson (28), Fuchs (28) e Okazaki (27) foram quase sempre os eleitos de Ranieri para o 'onze'.

Quanto aos restantes jogadores, as oportunidades não foram muitos, como se comprova pelo facto de Okazaki, o jogador do 'onze' habitual menos vezes titular, ostentar quase os mesmos jogos na equipa inicial (27) dos três suplentes mais vezes chamados -- Schlupp (14), King (sete) e Ulloa (sete).

O Leicester 2015/16 viveu do 'onze', que começou a ser construído no início da temporada 2011/12, há quatro anos, com a contratação do guarda-redes dinamarquês Kasper Schmeichel, ao Leeds, por 1,7 ME.

Ainda na mesma temporada, em janeiro de 2012, chegaram mais dois jogadores, o defesa central jamaicano Wes Morgan, contratado ao Nottingham Förest, por 1,1 ME, e o médio Drinkwater, proveniente do Manchester United, por 900 mil euros, depois de meia época emprestado ao Barnsley.

Em 2012/13, os 'foxes' apostaram em Jamie Vardy, avançado 'perdido' no Fleetwood Town, pelo qual tinha marcado 31 golos, em 36 jogos, na 'Conference National', o quinto escalão do futebol inglês. Tinha 25 anos e custou 1,2 ME.

O quinto elemento chegou na época seguinte, a da vitória no 'Championship', mas apenas em janeiro de 2014: o Leicester 'descobriu' o extremo argelino Riyad Mahrez no Le Havre, da segunda divisão francesa, contratando-o em troca de 500 mil euros, uma verdadeira 'pechincha'.

Schmeichel, Morgan, Drinkwater, Vardy e Mahrez ajudaram a equipa a regressar à 'Premier League', 11 anos depois, e, no início da época transata, passaram a ter a companhia do lateral direito Danny Simpson, contratado ao QPR por 2,5 ME, e do médio Marc Albrighton, que chegou livre do Aston Villa.

A meio da temporada, em janeiro de 2015, foi incorporado o central alemão Robert Huth - campeão inglês pelo Chelsea, de Mourinho, em 2004/05 e 2005/06 -, emprestado pelo Stoke City e adquirido, seis meses depois, em definitivo, por 4,2 ME.

Após o 14.º lugar da época passada, a 46 pontos do campeão Chelsea e apenas com mais seis do que o despromovido Hull City (18.º), o Leicester juntou as três últimas 'peças' para o 'puzzle' do 'onze' base.

O experiente avançado internacional japonês Shinji Okazaki, proveniente dos alemães do Mainz, foi o mais caro (11 ME), o médio francês Ngolo Kanté, que representava os gauleses do Caen, custou oito, enquanto o lateral esquerdo austríaco Christian Fuchs (ex-Schalke 04) chegou de 'borla'.

Além destes três jogadores, o Leicester também mudou de treinador, apostando na experiência do italiano Claudio Ranieri, que no seu currículo não somava qualquer título nacional, em quase 30 anos de carreira.

Ranieri já conquistara as taças de Espanha e Itália, a supertaça transalpina e até uma Supertaça Europeia, pelo Valência, às custas do FC Porto, mas, em campeonatos nacionais, tinha-se ficado quatro vezes pelo segundo lugar.

Depois de ser vice-campeão inglês, pelo Chelsea (2003/2004), italiano, por Juventus (2008/09) e Roma (2009/10), e francês, pelo Mónaco (2013/14), Ranieri conseguiu, agora, a mais impensável das conquistas, ao levar o Leicester à vitória na 'Premier League'.




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