Junho: Jorge Jesus, de águia para leão

Corria o dia 17 de maio e Jorge Jesus fazia história pelo Benfica: não só os encarnados se tornavam bicampeões 31 anos depois, como Jesus foi o primeiro treinador português a conseguir alcançar tal feito. O que viria a seguir era totalmente imprevisível. O Benfica não renovou e o Sporting aproveitou. Jorge Jesus fez as malas na Luz e mudou-se para Alvalade. A distância foi curta mas a reviravolta no futebol português foi abissal.

Quando a massa associativa do Benfica esperava pela renovação de dois baluartes do clube encarnado, Jorge Jesus e Maxi Pereira, os dias arrastavam-se por entre notícias e rumores. No fim de maio, já depois de confirmado o bicampeonato do clube da Luz, Sporting CP e FC Porto entraram em cena para açambarcar o treinador e um dos vice-capitães da equipa campeão.

No início de junho a confirmação: o Benfica anunciou que as conversações de renovação com Jorge Jesus chegaram a um beco e que o técnico estava de saída. O enredo do drama português de futebol começou a ficar denso e as manchetes davam como garantido: Jorge Jesus estava a caminho do Sporting.

Da Luz para Alvalade. Os benfiquistas desesperavam com a possibilidade de saída do treinador bicampeão, os sportinguistas ganhavam novo alento com a hipótese de finalmente ter nas suas hostes um técnico com credenciais para voltar à conquista de campeonatos.


Paulo José Martins - RTP (4 de junho)

E depois de um longo episódio de quezílias com Marco Silva (vencedor da Taça de Portugal com o Sporting), a confirmação. Bruno de Carvalho anunciou a todos os sportinguistas que JJ seria o treinador do leão para as próximas três épocas.

Há 84 anos que não se viu nada igual. Em 1931, o inglês Arthur John fez exatamente o mesmo caminho de JJ, depois de ter ganhado um campeonato de Portugal pelo Benfica.

A 1 de julho o técnico português era apresentado no estádio de Alvalade e em viva voz declarou aos sportinguistas: “A corrida ao título era feita apenas a dois. Agora são três os candidatos ao título”.

Seis meses no comando técnico dos leões interessantes. A primeira partida trouxe logo título: a Supertaça frente ao Benfica. Mais duas vitórias sobre as águias, três no total de meia época. Feito conseguido há décadas e Jorge Jesus trouxe de novo a felicidade de derrotar o principal rival por três vezes.

A liderança da Liga foi lugar de repouso durante alguns meses. Na última partida de dezembro, o primeiro lugar foi arrebatado pelo FC Porto. Primeira derrota no campeonato frente ao aflito União da Madeira e eliminação nos quartos-de-final da Taça de Portugal, às mãos do Sporting de Braga e Paulo Fonseca.

Do outro lado da barricada, a escolha do presidente Luís Filipe Vieira: Rui Vitória, o treinador da formação, estava a caminho do estádio da Luz.
Vitória é o escolhido
Poucos dias depois da oficialização de Jorge Jesus no Sporting, o Benfica anunciou o técnico com a função de continuar o sucesso da máquina da estrutura benfiquista. Rui Vitória foi o escolhido. Com uma Taça de Portugal no portfólio (ganha ao Benfica, curiosamente) e com uma vasta experiência em lançar jovens, o treinador de 44 anos regressou ao Estádio da Luz.

Regressou, pois já havia estado no Benfica a treinar os juniores, há dez anos atrás.

Os primeiros jogos trouxeram desconfiança, já que logo na primeira partida, Rui Vitória perdeu um título para o antecessor. A Supertaça foi para o museu de Alvalade e as duas primeiras jornadas no campeonato não foram melhores.

Apesar da goleada por 4-0 sobre o Estoril, no Estádio da Luz, demorou até ao bicampeão conseguir chegar ao golo e a acalmar os adeptos impacientes e a segunda partida trouxe os primeiros sinais de contestação: derrota histórica frente ao Arouca, no Municipal de Aveiro e primeira de três derrotas no campeonato.


Gonçalo Ventura, António Nunes - RTP (15 de junho)

Rui Vitória ainda não conseguiu vencer qualquer jogo frente a Sporting e FC Porto, somando quatro derrotas (Supertaça, Liga e Taça de Portugal).

No fim de 2015 a classificação na Liga Portuguesa não é a ideal. O Benfica está no terceiro lugar a quatro pontos de Sporting e a cinco de FC Porto. A Taça de Portugal já não é competição pela qual a ‘águia’ luta, devido à eliminação precoce aos pés do ‘Leão de Jorge Jesus.

Já na Europa, um Benfica como não se via há tempo. Quatro anos depois, os encarnados estão nos oitavos de final da Liga dos Campeões e vão defrontar o Zenit de André Villas-Boas.

Apesar de duas derrotas, Rui Vitória pode-se gabar de uma das maiores vitórias europeias no Benfica nos últimos tempos. No Vicente Calderón, o clube da Luz surpreendeu o Atlético de Madrid de ‘Cholo’ Simeone, impondo a primeira derrota do técnico argentino em casa, para a Liga dos Campeões.