Maio: FIFAgate, a implosão do futebol mundial

No dia 27 de maio, sete altos dirigentes ligados à FIFA são detidos pelas autoridades suíças numa operação conjunta entre o país helvético e os EUA, por suspeitas de subornos e branqueamento de capitais. A operação, liderada pelo FBI, começou nos anos 90 e teve como objetivo encontrar indícios de práticas de corrupção em solo norte-americano.

Jack Warner, Jeffrey Webb, José Maria Marin, Rafael Esquivel, Eduardo Li, Nicolas Leoz, Julio Rocha e Eugenio Figueiredo (alguns estavam hospedados no hotel Baur au Lar, em Zurique) foram presos pelas autoridades suíças, numa operação que também visou a sede da FIFA.

As suspeitas que recaem sobre estas figuras são graves já que contemplam investigações de fraude e lavagem de dinheiro em acordos de marketing e direitos televisivos de transmissão, passando também pela atribuição de Mundiais.

Os subornos ascendem aos 100 milhões de dólares (92 milhões de euros) e a primeira medida que foi tomada pelo FBI foi extraditar os oito detidos para os EUA.


Noé Monteiro, Hugo Neves - RTP (27 de maio)

Uma das figuras nucleares da investigação foi Chuck Blazer. Americano, representante dos EUA na CONCACAF, colaborava, desde 2013, com autoridades federais, depois de ter sido apanhado em escândalos de fugas fiscais e para escapar a pesadas penas, trabalhou em conjunto com investigadores e revelou documentos comprometedores para a FIFA.

O último impulso para avançar para as detenções partiu de um relatório de Michael Garcia, procurador contratado para averiguar irregularidades na atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022, que foi censurado pelo organismo mundial do futebol. E enquanto a FIFA descartou as evidências do antigo procurador de Nova Iorque, o FBI decidiu averiguar a veracidade das conclusões desse relatório.

Numa das frases mais icónicas sobre este caso, um editorial do NY Times resume bem a presença norte-americana no FIFAgate: “A FIFA, órgão que governa o futebol global, sempre quis que a América estivesse mais envolvida no desporto que representa. Pelos vistos, conseguiu”.
Quem são os detidos?
Um dos primeiros nomes conhecidos do grupo de detidos foi o de Jack Warner. Vice-presidente da FIFA até 2011, saiu nessa altura da organização, ocupando outros cargos como o de presidente da CONCACAF. Warner declarou-se inocente das acusações de conspiração e corrupção que recaem sobre si e em setembro foi banido pela FIFA.

Jeffrey Webb: antigo presidente da CONCACAF e da Associação de Futebol das Ilhas Caimão foi dirigente da FIFA. Sobre si recaem suspeitas de conspiração organizada, fraude e branqueamento de capitais. Aceitou ser extraditado para os Estados Unidos em julho, onde pagou uma caução de dez milhões de dólares, sendo posteriormente libertado. Mantém alegações da sua inocência.

José Maria Marin: antigo presidente da Confederação Brasileira de Futebol. Foi prontamente banido em maio e extraditado para os EUA em Novembro. É acusado de ter aceitado dinheiro para favorecer a atribuição de direitos de marketing de Copas América.

Eugenio Figueredo: antigo presidente da Federação Uruguaia de Futebol. Aceitou ser extraditado para os Estados Unidos para ser julgado por suspeitas de corrupção.

Rafael Esquivel: antigo presidente da Federação Venezuelana de Futebol e membro executivo da CONMEBOL. Aceitou a extradição para os Estados Unidos e já em outubro viu ser rejeitado um pedido de libertação. Está acusado de ter aceitado subornos de milhões de dólares para os direitos de transmissão da Copa América.

Eduardo Li: presidente da Federação de Futebol da Costa Rica, membro do comité executivo da CONCACAF e membro eleito no comité executivo da FIFA. Aceitou a extradição para os EUA e declarou no último dia 18 de dezembro a sua inocência.

Nicolas Leoz: ex-presidente da CONMEBOL fez parte do Comité Executivo da FIFA. Aceitou em dezembro a extradição para os Estados Unidos.

Julio Rocha:
proveniente da Nicarágua, fez parte do departamento de desenvolvimento da FIFA. Foi presidente da UNCAF e da Federação de Futebol da Nicarágua e é acusado de corrupção. No dia 15 de outubro aceitou a extradição para os Estados Unidos.

Relativamente a este caso de corrupção foi ainda envolvido o nome de Jérôme Valcke. O dirigente da FIFA viu o seu nome ser noticiado pelo NY Times que dava conta de uma transferência feita pelo francês para Jack Warner, no valor de 10 milhões de dólares. Valcke declarou inocência e no dia 8 de junho foi suspenso de atividades por 90 dias, pelo Comité de Ética da FIFA.
Joseph Blatter: da reeleição à queda
Assim que rebentou o escândalo, porta-vozes da FIFA ressalvaram de forma perentória que Joseph Blatter não estava envolvido no caso FIFAgate. Dois dias depois, o suíço foi reeleito presidente da organização que rege o futebol mundial, à frente de Ali Bin Al Hussein.

Sepp Blatter parecia manter-se forte e prometeu a acabar com os corruptos no futebol. No entanto, quatro dias depois, apresentou a demissão da presidência da FIFA e marcou novas eleições. A sua saída foi saudada por muitos, incluindo Michel Platini, presidente da UEFA, e desde logo, principal candidato ao cargo do suíço. Vladimir Putin, presidente russo, foi sempre o maior defensor de Blatter, afirmando mesmo que o suíço merecia um Nobel da Paz.

Desde essa altura, Joseph Blatter tem vindo a ver o seu legado no futebol em queda livre.



Ainda à frente da FIFA, o presidente demissionário foi incluído na abertura de uma investigação que envolveu também o nome de Michel Platini. De acordo com as autoridades suíças, Sepp Blatter é suspeito de ter realizado um pagamento desleal ao presidente da UEFA, cifrado nos dois milhões de francos suíços.

Desde logo, o suíço foi acusado de gestão danosa e de apropriação indevida de fundos. No dia 25 de setembro não só ficaria o nome de Blatter associado ao escândalo como também Michel Platini começava a estava envolvido. Isto numa altura em que já era candidato à presidência da FIFA.

Daí até à suspensão por 90 dias (decisão do Comité de Ética da FIFA) pouco tempo passou. No início de dezembro, Blatter reclamou estar inocente e no dia 21 foi banido do futebol, juntamente com Michel Platini, por um período de oito anos. O recurso, avisa Blatter, vai ser apresentado.


João Pedro Silva - RTP (22 de dezembro)

No próximo dia 26 de fevereiro vão realizar-se novas eleições para a presidência da FIFA.